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- Por que está tentando me consertar? – Aos gritos, Estrela perguntou com as lágrimas descendo pelo seu rosto, para ela, que também tinha os olhos cristalinos pelas lágrimas que se acumulavam. – Me deixa viver a minha vida.
- Porque eu te amo! – Maria respondeu com serenidade, reprimindo os próprios sentimentos, e Estrela, cruzando os braços, sorriu com desdém. Ela tinha a convicção de que as pessoas que se aproximavam sempre tinham algum interesse, e no caso de Maria, esse motivo era seu pai. Talvez a empresa de seu pai.
- Você não precisa mais disso! – Ela soltou em alto e bom som. – Já conseguiu o que queria, agora é a dona de uma fatia considerável na empresa do meu pai. E, aliás, ele está completamente enfeitiçado por você! Não há mais razão para fingir que nos ama... Até já se acomodou no quarto que costumava ser da minha mãe! – Enfim, deixou escapar a carga que a havia perturbado ao longo de todo o dia.
Naquele momento, ela não tinha domínio dos seus sentimentos, que estavam totalmente desencontrados, dividida entre os sentimentos por alguém que aprendeu a gostar e o crescente esquecimento em relação à sua mãe desde a chegada de Maria. Ângelo e Heitor raramente a mencionavam, enquanto seu pai parecia ter perdido o amor que sempre deixou claro ainda sentir por sua mãe.
- Está usando o vestido da minha mãe. – Estrela completou, enraivecida, arqueando uma sobrancelha. Mantinha-se firme. Só não fez um espetáculo ainda maior porque percebeu o estado de Maria e seu pai ao entrarem em seu quarto momentos antes, completamente encharcados pela chuva que havia acabado de cair.
Maria olhou para si mesma e suspirou.
- É o que acha que estou fazendo? Que estou fingindo? - Pela primeira vez acreditou estar lutando uma guerra perdida, quando o assunto era o amor e respeito dos filhos.
Contudo, Estrela manteve-se em silêncio, desviando o olhar para outra direção. Evitava o contato visual que, mesmo sem entender completamente, a cativava e machucava ao mesmo tempo.
Heitor, que chegou no exato momento em que seu pai deixava o quarto de Estrela após uma acalorada discussão, ouvia, do corredor, a tensa conversa entre Maria e Estrela.
Através da fresta da porta, ele observava as duas, temendo que Estrela tomasse alguma decisão da qual pudesse se arrepender para sempre. Ele conhecia bem a imprevisibilidade e imaturidade da irmã. Estrela não respeitava ninguém e ficava cega quando a raiva tomava conta dela.
Entretanto, Estrela, mesmo imersa em sua rebeldia, sentia-se exausta. Cansada de todos ao seu redor, ela escolheu não responder à pergunta de Maria. Como se Maria percebesse seu pedido silencioso de socorro, ela a envolveu em um abraço. Inicialmente, Estrela resistiu ferozmente, negando com veemência esse gesto de consolo. Contudo, acabou cedendo à insistência de sua mãe, e permitiu-se ser cuidada enquanto começava a chorar descontroladamente.
Heitor as olhou, e seus olhos também brilhavam com a lágrimas que se formaram, e sem querer continuar ali, seguiu para seu quarto.
- O que está acontecendo, minha menina? – Ela perguntou, afagando os cabelos de Estrela, que continuava a chorar. – Fala comigo. Deixa eu te ajudar. – Estrela continuou a chorar nos braços da mãe.
- Estou com medo! – Ela sussurrou com a voz tremula. – Estou com medo de ficar sozinha. – Distanciou-se do abraço acolhedor de Maria, dirigindo-se à sua cama.
- E por que você ficaria sozinha? – Ela sentou-se na cama, estendendo um convite para que ela se deitasse com a cabeça em suas pernas.
- Ângelo, está doente. Provavelmente vai morrer! – Ela disse, sentindo o gosto amargo das palavras em sua boca. – Heitor anda pelos cantos, afogando-se no álcool... acha que eu não sei, mas eu vejo. Acho que já foi preso. E agora, meu pai quase sofreu um infarto... e parece que também não se recuperou, né!? Fiquei sabendo que passaram a tarde no hospital – Ela confessou seus medos, como se buscasse manter distância emocional da tormenta iminente. Estava se preparando, de alguma forma, para o pior.
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A Madrasta
RomanceAdaptação de uma das minhas novelas preferidas. <3 Obs; está sendo corrigida.