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Na manhã seguinte, os três já estavam reunidos à mesa para o café da manhã quando os pais desceram.

- Caíram da cama? – Estevão perguntou enquanto puxava a cadeira para Maria, e antes de tomar seu assento, ele deixou um beijo suave nos lábios dela, sorrindo com carinho.

Os três, que já achavam adorável o comportamento e cuidado dele com ela, agora que sabiam que ela era a mãe deles, os olhavam com outros olhos. Outros sentimentos.

- Está tudo bem? – Estevão os encarou com uma leve desconfiança, percebendo que não conseguiam desviar o olhar deles e exibiam expressões incomuns.

- Está sim, pai! – Ângelo respondeu, tentando disfarçar o nervosismo, e voltou sua atenção para o café da manhã.

O café da manhã transcorria em um clima de calma tensa, permeado por um silêncio desconfortável. Maria, de tempos em tempos, tinha a nítida sensação de estar sendo observada, o que a deixava inquieta.

- Ângelo, você está chateado comigo pelo que fiz? – Ela resolveu perguntar, virando-se para ele, que estava ao seu lado. Sentia que o clima tenso à mesa tinha relação com sua decisão de mandar Alba embora.

- Não, não estou! – Ele respondeu com um olhar intrigante, enquanto a encarava amorosamente. Maria, sendo uma mulher sensível, percebeu naquele olhar que algo tinha mudado.

- Eu não podia permitir que elas continuassem vivendo daquele jeito... – Se justificava.

- Eu entendo! – Ele disse suavemente, buscando tranquilizá-la. Para ele, agora, o comportamento dela em relação a Alba fazia todo sentido, afinal, Estrela era a filha dela.

...

- Eu te amo! – Ângelo declarou enquanto se despedia dela para ir para a escola, e ela sorriu em resposta. Embora tenha notado um tom mais carinhoso em suas palavras do que o habitual, não era a primeira vez que ele expressava esse sentimento.

- Eu também te amo, minha vida! – Ela o abraçou ternamente e depositou um beijo suave em sua cabeça. – Agora vá, não atrase sua irmã. – Disse, dirigindo seu olhar para Estrela, que aguardava impacientemente na saída.

Depois que ela mandou Alba embora, as duas ainda não haviam conversado, contudo Maria já estava acostumada com essa distância entre elas. Nos últimos dias, seus diálogos se limitavam à joalheria, e breves menções a Luna.

- Até mais tarde, Luna! – Ângelo beijou a barriga dela por cima do vestido, deixando transparecer todo o amor e alegria que sentia. Enquanto saía em direção ao carro, uma onda de gratidão inundava seu coração. Ele queria gritar para o mundo que tinha a mãe mais incrível de todas. Para Ângelo, o fato de ela ter sido presa pouco importava. Agora, tinha uma segunda chance de estar ao lado dela, e iria aproveitar.

Estrela observou Ângelo passar por ela, um sorriso estampado no rosto, e se viu dividida entre chamá-lo de traidor ou de idiota. No entanto, antes de partir, lançou um último olhar para Maria, que permanecia imóvel. Ao contrário de Ângelo, Estrela lutava contra a vontade de explodir com sua mãe. Segurava todas as palavras que fervilhavam em sua garganta, contendo a avalanche de emoções que a consumia.

Com os sentimentos agitados e confusos, as duas deram um passo em direção uma à outra. Estrela estava imersa em uma batalha interna silenciosa, ansiando desesperadamente soltar todas as palavras que lhe causavam tanta dor. 

Mas, num impulso, ela cortou a pouca distância que restava entre elas e envolveu Maria num abraço apertado, como se fosse a única maneira de conter a avalanche de raiva, rancor, ódio, medo e outras sentimentos que a assombravam.

A MadrastaOnde histórias criam vida. Descubra agora