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Estevão, que deixou o apartamento de Maria com o coração acelerado, encontrava-se perplexo, sem saber como lidar com a presença dela em sua vida novamente. Após tanto esforço para tirá-la da prisão, agora se via diante da complexidade de ter Maria de volta, revivendo sentimentos que preferiria deixar no passado.

Ao descer do carro na garagem de sua casa, os gritos exaltados de sua filha, Estrela, e de sua prima, Alba, eram audíveis desde a porta. Respirando fundo, Estevão adentrou a residência, deparando-se com a discussão no hall de entrada. A tensão pairava no ar, enquanto ele buscava compreender a dinâmica da situação.

- Estevão, querido! – Alba foi até ele e beijou seu rosto. – Que bom que você chegou. Precisamos conversar sobre o comportamento de Estrela. – Ele olhou para Estrela, que subia as escadas sem dar ouvidos para o que Alba falava, visivelmente chateada com o pai e sem intenção de se justificar.

- Posso saber o que ela fez dessa vez? – Estevão dirigiu-se ao escritório, e Alba o seguiu.

- Acho que ela anda de namorico, e ainda é com um pobretão... ela se envolve com essa gente só para nos envergonhar. – Alba fez uma expressão de nojo. Estevão serviu-se de uma dose de uísque e sentou em sua cadeira, atrás de sua mesa.

- E o que te leva a acreditar que ela esteja namorando? Ela ainda é uma criança. - Perguntou com calma, tentando entender a situação.

- Ah, meu querido! – Alba foi até ele e tocou em seus ombros, fazendo uma massagem. – Só você ainda a vê como criança. Estrela tem 15 anos, já é uma mulher. É normal que ela comece a se interessar por rapazes. Mas esse com quem ela anda saindo é um garoto da vila, um marginal.

- Alba, compreendo suas preocupações. - Estevão respirou fundo antes de prosseguir. - Entretanto, não devemos julgar as pessoas com base em sua origem. Rotular alguém sem conhecê-lo é injusto. - Ele fez uma breve pausa e acrescentou. - Vou conversar abertamente com Estrela, evitando seus pré-julgamentos. – Foi direto com sua prima, mostrando que não tinha paciência para suas intrigas.

- Você parece tenso. Algum problema? – Perguntou com carinho.

- Não! – Tomou mais um gole de sua bebida. – Nada aconteceu. – Agora, se me der licença, vou falar com minha filha.

- Se quiser, posso te indicar algumas escolas com bom currículo e disciplina. Pesquisei para você, já que está ocupado. – Ela falou enquanto ele se retirava, sem dar atenção ao que ela dizia. Problemas maiores se aproximavam. 

Ele subiu as escadas em direção ao quarto de Estrela, pronto para uma conversa franca com sua filha. Do corredor, já podia ouvir o som animado que escapava do quarto dela. Ao entrar, a viu dançando e pulando em cima da cama. Trancou a porta, diminuiu o volume da música e, enquanto Estrela, que estava sem falar com ele há vários dias, tentava sair do quarto, ele sentou-se na sua cama. Ele já não suportava mais a situação.

- O que você fez? Cadê a chave? – Perguntou com raiva.

- Precisamos conversar! – Bateu com a mão na cama, chamando ela para sentar ao seu lado. Ela cruzou os braços e resmungou virando o rosto e não saiu do lugar.

- Não tenho mais nada para falar com o senhor, não até que o senhor desista de casar com aquela mulher. – Fez cara de asco ao lembrar de Ana Rosa.

- Então o problema é Ana Rosa? – Passou a mão no cabelo.

- O problema é que não quero uma madrasta. Não quero ninguém ocupando o lugar de minha mãe! Estamos muito bem sem ela. – Foi categórica.

- Vocês estão bem sem ela! – Aproximou-se dela e segurou suas mãos com carinho. – Você não é mais uma criança, certo? – Ela confirmou com a cabeça. – E eu preciso e gosto de Ana Rosa! Preciso que vocês respeitem a minha decisão.

A MadrastaOnde histórias criam vida. Descubra agora