Como abordar uma mulher daquelas? — refletiu Arthur. Devia usar charme, lisonja ou números? Ela tinha fama de ser perfeccionista, e de vez em quando criadora de casos. Recusara-se a cozinhar para uma importante figura política porque esta não quisera despachar de avião para seu país o equipamento de cozinha dela. Cobrara uma pequena fortuna de uma celebridade de Hollywood para criar a extravagância de um bolo de casamento de vinte andares. E acabara de assar e entregar pessoalmente uma bandeja de tortinhas a uma vizinha para o chá de noivado. Arthur preferia conhecer seus segredos antes de fazer sua oferta. Sabia as vantagens de tomar uma rota circular. Na verdade, alguns chamavam isso de tocaiar.
— Eu conheço sua mãe — ele começou, descontraído, ao mesmo tempo em que avaliava a mulher ao seu lado.
— É mesmo? — Ele percebeu diversão e afeição nas palavras. — Não devia me surpreender — ela disse, tornando a mordiscar o biscoito. — Minha mãe sempre privilegiou uma Picoli House quando viajávamos. Acho que jantei com seu avô quando eu tinha uns seis ou sete anos. — A diversão não desapareceu quando ela tomou o café. — Que mundo pequeno.
Um excelente terno, decidiu Carla, relaxando no encosto do sofá. Bem talhado e bastante conservador para conquistar a aprovação do pai. Moldava um corpo bem constituído e musculoso o bastante para conquistar a da mãe. Talvez fosse a combinação das duas coisas que atraía o seu interesse.
Minha nossa, ele é atraente, pensou Carla, dando então uma pensativa examinada no rosto dele. Não muito regular, nem muito acidentado, sua força lhe caía bem. Era uma coisa que ela reconhecia — em si mesma e nos outros. Respeitava a pessoa que buscava e conquistava o que almejava, como julgava que Arthur fizera. Respeitava-se pelo mesmo motivo. Atraente, pensou mais uma vez, mas achou que um homem como ele também seria bem-sucedido, independente da aparência física.
A mãe o teria descrito como séduisant, e corretamente. Carla o teria descrito como perigoso. Uma combinação difícil de resistir. Ela mudou de posição no sofá, talvez tentando inconscientemente pôr mais distância entre os dois.
— Então, está familiarizada com os padrões de uma Picoli House — começou Arthur.
Muito de repente, desejou que o perfume dela não fosse tão sedutor, nem a boca tão tentadora. Não gostava de embaralhar negócios com atração, por mais agradável que fosse.
— Claro. — Carla largou o café, porque só o fato de tomá-lo parecia acentuar a estranha palpitaçãozinha no estômago. — Eu mesma me hospedo invariavelmente numa delas.
— Fui informado de que os seus padrões são igualmente altos.
Desta vez, quando ela sorriu, transmitiu uma insinuação de arrogância.
— Sou a melhor no que faço, porque não tenho a menor intenção de fazer de outro modo.
A primeira chave, ele pensou com satisfação. Vaidade profissional.
— É o que diz minha informação, Srta. Diaz. O melhor é o que me interessa.
— Então. — Carla apoiou o cotovelo no encosto do sofá e a cabeça na palma da mão. — Como exatamente eu interesso ao senhor, Sr. Picoli?
Sabia que a pergunta saíra carregada, mas não pudera resistir. Quando uma mulher corria constantes riscos e fazia experiências na vida profissional, isso se tornava um hábito.
Seis respostas separadas roçaram a mente de Blake, nenhuma delas transmitindo o objetivo de sua presença ali. Ele largou o café.
— Os restaurantes das Picoli Houses são famosos pela qualidade e pelo serviço. Mas, recentemente, o daqui, em nosso complexo do Rio de Janeiro, parece sofrer com a falta das duas coisas. Francamente, Srta. Diaz, em minha opinião a comida se tornou demasiado sem graça... demasiado enfadonha. Planejo fazer uma remodelação na estrutura física e no quadro de pessoal.
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Sobremesa de Carla
FanfictionUma chef refinada, mas viciada em junk food? Quanto mais Arthur Picoli conhece a extraordinária confeiteira Carla Diaz, mais fica intrigado e decidido a contratá-la. Arthur quer o melhor profissional do ramo, e Carla possui uma experiência excelente...