Capítulo 45

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Oiiiie,

como vocês estão?? Eu precisei me afastar um pouco de tudo pra relaxar e colocar a cabeça no lugar.

Na quinta, dia 23, eu perdi meu cachorrinho. Ele morreu depois de 14 anos e foi um baque muito grande pra toda a família. Com isso aproveitei minha viagem de Natal com a família para dar um tempo pro meu coração...

Ainda não estou bem, mas já consigo voltar... pelo menos aqui na sobremesa.

Espero que vocês me entendam. Obrigada.

Beijinhooos💋
Rafa🦋
@ConduruRafa
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Como pudera ser tão estúpido? Arthur acendeu o isqueiro e ficou olhando a chama varar a escuridão. A madrugada ainda demoraria uma hora, mas ele desistira do sono. Desistira de tentar imaginar o que estaria fazendo Carla em Roma enquanto ele ficava acordado numa suíte de quartos vazios e pensava nela. Se fosse a Roma...

Não, prometera dar a ela um pouco de espaço, sobretudo desde que cuidara tão mal de tudo. Daria espaço aos dois.

Mais estratégia, pensou com desprezo, sugando com mais força o cigarro. Era disso que se tratava? Sempre gostara de desafios, problemas. Carla representava sem dúvida às duas coisas. Era esse o motivo pelo qual a queria? Se ela houvesse concordado em casar-se, ele podia haver-se parabenizado por um plano bem arquitetado e perfeitamente executado. Mais uma aquisição de Picoli. Diabos.

Levantou-se. Pôs-se a andar de um lado para outro. A fumaça subia em longas espirais do cigarro entre seus dedos e desaparecia na meia-luz. Ele sabia que não, mesmo que ela não soubesse. Se fosse verdade que ele tratara todo o caso como um a ser resolvido com cuidado, era só porque essa era a sua composição. Mas amava-a, e se tinha certeza de alguma coisa, era que ela também o amava. Como ia transpor o muro que ela erguera?

Volte ao modo como era tudo. Impossível. Ele olhou a cidade à medida que a escuridão passava a suavizar-se. No leste, o céu começava a clarear com os primeiros raios cor-de-rosa. De repente, ele percebeu que já vira muitos alvoreceres sozinho. Muita coisa mudara entre eles agora, pensou. Muita coisa fora dita. Podia-se tomar o amor de volta e trancá-lo por conveniência.

Ficara longe dela durante toda uma semana, antes de ir a Roma. E fora muito mais difícil do que ele imaginara, mas as lágrimas dela naquela noite o haviam levado a isso. Agora imaginava se fora outro erro. Talvez se fosse atrás dela no dia seguinte...

Balançando a cabeça, pesaroso, Arthur tornou a afastar-se da janela. O tempo todo seu erro fora tentar tratar a situação com lógica. Não havia lógica alguma em amar alguém, só sentimentos. Sem lógica, ele perdia toda vantagem.

Loucamente apaixonado. Sim, achava o termo bastante apropriado. Era tudo loucura, loucura incurável. Se ela estivesse ali, ele poderia ter-lhe mostrado. De algum modo, quando ela voltasse, pensou com violência, ele ia derrubar aquele maldito muro pedaço por pedaço, até ela ser obrigada a enfrentar também aquela loucura.

Quando o telefone tocou, ele ficou olhando-o. Carla?

— Alô!

— Arthur?

A voz era um pouco mormacenta, um pouco francesa demais.

— Sim, Mara?

— Desculpe perturbar você, mas sempre esqueço a diferença de horário entre leste e oeste. Eu estava indo para a cama. Você estava acordado?

— Estava. — O sol já despontava, o quarto começava a clarear com a luz. A maior parte da cidade ainda não acordara. — Fez boa viagem até a Califórnia?

— Dormi quase a viagem toda. Graças a Deus, porque houve tantas festas. Tão poucas mudanças em Hollywood, alguns dos nomes, dos rostos. Agora, para ser chique, a gente tem de usar óculos escuros numa correntinha. Minha mãe fazia isso, mas só para não perdê-los.

Ele sorriu, porque Mara exigia sorrisos.

— Você não precisa de modas para ser chique.

— Que coisa mais lisonjeira.

A voz soou muito jovem e satisfeita.

— Que posso fazer por você, Mara?

— Oh, que docinho. Primeiro tenho de lhe dizer que foi adorável me hospedar mais uma vez em seu hotel. O serviço é sempre impecável. E o braço de Carla, melhorou, não?

— É o que parece, ela está em Roma.

— Oh, sim, minha memória. Bem, ela jamais foi de ficar muito tempo num espaço, minha Carla. Eu só a vi brevemente antes de viajar. Ela parecia... preocupada?

Ele sentiu os músculos darem um nó e cerrou o maxilar. Relaxou deliberadamente os dois.

— Ela andou dando muito duro na cozinha.

Mara curvou os lábios. Esse é do tipo que não revela nada, pensou com aprovação.

— Sim, bem, eu posso vê-la de novo por pouco tempo. Tenho de lhe pedir um favor, Arthur. Você foi tão bondoso durante minha estada.

— O que eu puder fazer.

— A suíte onde fiquei, eu a achei tão repousante, tão agréable. Gostaria de saber se você pode reservá-la para mim de novo, dentro de dois dias.

— Dois dias? — Ele enrugou a testa, mas automaticamente estendeu a mão para pegar uma caneta e anotar. — Vai voltar ao Rio?

— Eu sou tão tola, tão... como é que se diz?... esquecida, oui? Tenho uns negócios a tratar aí, e com o acidente de Carla esqueci tudo. Preciso voltar e amarrar as pontas soltas. E a suíte?

— Claro, vou tomar as providências.

Merci. E talvez eu pudesse lhe pedir mais uma coisa. Vou dar uma festinha no sábado à noite... só alguns velhos amigos e um pouco de vinho. Ficaria muito grata se você desse uma passada, por alguns minutos. Por volta das oito?

Não havia nada que ele quisesse menos no momento que uma festa. Mas a educação, a criação e os negócios só lhe deixavam uma resposta. Mais uma vez, automaticamente anotou o dia e a hora.

— Seria um prazer.

— Maravilha. Até sábado então, au revoir.

Após desligar o telefone, ela deu uma risada. Na verdade, era uma atriz, não roteirista, mas achava seu roteirozinho brilhante. Sim, absolutamente brilhante.

Pegando o telefone, preparou-se para mandar um telegrama. Para Roma.

Sobremesa de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora