Capítulo 46

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Oiiie,

Voltei com mais dessa Sobremesa deliciosa e divertida.

Um aviso: estamos acabando a história ok?!? Então leiam devagar degustando cada parte.

Espero que gostem e comentem.

Beijinhooos💋
Rafa🦋
@ConduruRafa
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Chérie. Devo retornar à Califórnia para resolver um assunto inacabado antes de começar a filmar. Estarei em minha suíte na Picoli House no fim de semana. Darei uma pequena soirée sábado à noite. Venha. 20h30. A bientôt. Mamãe.

Que estaria exatamente aprontando a mãe? Carla tornou a olhar o telegrama enquanto cruzava o Atlântico. Assunto inacabado? Não podia pensar em assunto algum que Mara teria no Rio, a não ser que envolvesse o marido número dois. Mas isso era história antiga, e Mara sempre tinha mais alguém para cuidar de seus assuntos comerciais. Sempre dizia que uma boa atriz era no fundo uma criança e não tinha cabeça para negócios. Outra das maneiras diabolicamente desamparadas que lhe tornava possível só fazer o que queria. O que Carla não imaginava era por que a mãe ia querer voltar ao Brasil.

Dando de ombros, Carla tornou a pôr o telegrama na bolsa.

Não queria perder tempo com pessoas nem conversas fiadas dentro de cinco horas. No dia anterior, superara-se na criação de um bolo de aniversário na forma do palacete de Gil nos arredores de Roma, recheado com uma perversa combinação de chocolate e creme. Levara doze horas. E uma vez na vida, por insistência do anfitrião, ficara e juntara-se à festa, para o champanhe e a sobremesa.

Achara que seria bom para ela. As pessoas, a elegância, a atmosfera de comemoração. Isso fizera mais que lhe mostrar que não queria continuar em Roma trocando conversa fiada e tomando vinho. Queria estar em casa. E sua casa, surpreendera-se, era o Brasil.

Não ansiava por Paris e seu curioso apartamentinho na Rive Gauche. Queria o apartamento no quarto andar, no Rio de Janeiro, com lembranças de Arthur em cada canto. Por mais tola que isso a tornasse, por mais insensato ou inconveniente, queria Arthur.

Agora, no avião de volta, descobria que não mudara. Era para Arthur que desejava voltar quando estivesse de novo em terra. A Arthur que desejava contar todas as histórias tolas que ouvira na sala de jantar de Gil. Era ele que desejava ouvir rir. Era junto dele que desejava enroscar-se agora que a energia nervosa dos últimos dias se esgotava.

Com um suspiro, jogou a cabeça para trás e fechou os olhos. Mas cumpriria seu dever e iria à suíte de Mara. Talvez a festinha dela fosse a diversão perfeita. Dar-lhe-ia um pouco mais de tempo antes de voltar a enfrentar Arthur. Ele e a decisão que julgara já ter tomado.

J.P. correu o dedo por dentro do apertado colarinho da camisa e esperou não parecer tão nervoso quanto se sentia. Tornar a ver Mara após todos esses anos — ter de apresentar-lhe Beatriz. Mara, minha esposa Beatriz. Beatriz, Mara Diaz, uma ex-amante. Mundo pequeno, não é?

Embora fosse um homem que apreciasse uma boa piada, o sentido dessa lhe escapava.

Parecia não haver estatuto nem limitações às transgressões conjugais. Era verdade que ele só se desviara uma vez, e ainda assim durante uma separação não oficial da esposa que o deixara furioso, ressentido e assustado. Um crime cometido uma vez continuava sendo um crime cometido.

Ele amava Beatriz, sempre a amara, mais jamais pudera negar que o breve caso com Mara acontecera. Nem podia negar que fora excitante, apaixonado e memorável.

Jamais haviam tido contato de novo, embora uma ou duas vezes ele a visse quando ainda trabalhava ativamente nos negócios. E mesmo isso fora muito tempo atrás.

Assim, por que ela ligava para ele agora, vinte anos depois, insistindo que fosse — com a esposa — à suíte dela na Picoli House do Rio de Janeiro? Correu mais uma vez o dedo pelo colarinho. Alguma coisa o sufocava. A única explicação de Mara fora que o convite se relacionava com a felicidade do filho dele e da filha dela.

Isso o deixara com o problema de inventar um motivo para ir à cidade e insistir para que Beatrz o acompanhasse. Não fora fácil, porque se casara com uma mulher de mente aguçada e independente, mas nada em comparação com a provação seguinte.

— Vai ficar mexendo nessa gravata o dia todo? — perguntou Beatrz e fez J.P. dar um salto quando se aproximou por trás. — Fique calmo. — Com uma risada, ela espanou as costas do seu paletó, alisando o ombro, um hábito que o levou de volta à lua de mel. — Alguém diria que você nunca passou uma noite com uma celebridade antes. Ou são apenas as atrizes que o deixam tão nervoso?

Esta atriz, pensou J.P., e voltou-se para ela. Beatriz sempre fora adorável, não a beldade de tirar o fôlego que fora Mara, mas adorável — com aquele tipo de discreta aparência que permanece adorável no correr dos anos. Tinha os cabelos escuros, abundantes, liberalmente estriados de grisalho, mas penteados de modo a fazer com que as cores contrastantes realçassem a aparência.

Beatriz sempre tivera classe. Fora sua parceira sempre, enfrentara-o, defendera-o. Uma mulher forte. Ele precisava de uma mulher forte. Ela era a melhor companheira que um homem podia pedir. Ele levou as mãos aos ombros dela e beijou-a, com muito carinho.

— Eu amo você, Bea. — Quando ela tocou sua face e sorriu, ele pegou a mão, sentindo-se como um condenado que percorre o último quilômetro. — É melhor a gente ir. Vamos chegar atrasados.

Sobremesa de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora