Capítulo 9

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No capítulo anterior...

— Gosta da vista? — perguntou Arthur, parado atrás dela, onde já a examinava alguns minutos.

Por que ela tinha de parecer diferente de qualquer outra mulher que levara à sua casa? Por que tinha de ser mais enganosa e sedutora? E por que apenas sua presença tornava a ele tão difícil manter a mente no negócio para o qual a trouxera ali?
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— Sim.

Ela não se virou porque percebeu bruscamente como ele estava perto. Era uma coisa que devia ter pressentido antes, pensou, com uma leve expressão séria. Se se virasse, os dois iam ficar cara a cara. Haveria um roçar de corpos, um encontro de olhos. A rápida agitação dos nervos levou-a a tomar mais um pouco de champanhe. Ridículo, disse a si mesma. Nenhum homem a deixava nervosa.

— Você já morou aqui tempo suficiente para reconhecer os pontos de interesse — disse Arthur, descontraído, embora concentrasse os pensamentos no gosto que teria a curva do pescoço dela, a sensação que causaria sob o roçar de seus lábios.

— Claro. Alguns dos meus parceiros de trabalho disseram que fiquei muito abrasileirada.

Arthur prestava atenção no fluxo da voz de sotaque europeu, absorvia o sutil e sensual aroma de Paris, que era o perfume dela. A luz fraca tocava de leve as mechas douradas de seus cabelos. Como os olhos, pensou. Só precisava voltá-la em sua direção e olhar o rosto para ver a aparência de escultura exótica. E desejou, esmagadoramente, ver aquele rosto.

— Abrasileirada — murmurou. Já pusera as mãos nos ombros dela antes que pudesse detê-las. A seda deslizou fria sob suas palmas quando a virou. — Não... — declarou, deslizando o olhar pelos cabelos, olhos, e demorando-se na boca. — Acho que seus parceiros estão muito enganados.

— Acha? — Ela cerrara com força os dedos no pé da taça, a boca aquecida. Apenas a força de vontade manteve sua voz firme. Roçou o corpo no dele uma vez, duas, e ele a puxou mais para junto de si. Necessidades rigidamente controladas começaram a arder. Enquanto a mente disparava com as possibilidades, Carla inclinou a cabeça para trás e perguntou, tranquila: — E os negócios que viemos discutir, Sr. Picoli?

— Ainda não começamos a fazer negócios. — Ele pairou com a boca sobre a dela por um momento e desviou-a para sussurrar um beijo logo abaixo de uma das sobrancelhas. — E antes de começarmos, talvez seja sensato acertar esta primeira questão.

A respiração dela falhava, grudando-se nos pulmões. Afastar-se ainda era possível, mas ela se perguntava por que deveria pensar nisso.

— Questão?

— Seus lábios... terão um gosto tão excelente quanto parecem ter?

Ela agora piscava, sentindo o corpo suavizar-se.

— É uma questão interessante — murmurou, e inclinou a cabeça para trás, convidativa.

Os dois tinham os lábios separados apenas por uma respiração, quando uma forte batida soou na porta. Alguma coisa clareou no cérebro de Carla — a razão — enquanto o corpo continuava zumbindo. Ela sorriu, concentrando-se com força na pequena fatia de sanidade, e comentou:

— O serviço numa Picoli House é invariavelmente excelente.

— Amanhã — ele declarou, irritado, afastando-se com relutância —, vou demitir o gerente do serviço de copa.

Ela riu e tomou um trêmulo gole de champanhe quando ele a deixou para abrir a porta. Perto, pensou, exalando um hausto longo e estabilizador. Perto demais. Era hora de dirigir a noite para assuntos profissionais e mantê-la ali. Deu-se um momento, enquanto o garçom arrumava a refeição na mesa.

Sobremesa de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora