Capítulo 33

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A cozinha cheirava a comida e parecia uma sala de visitas. Carla ouvia abafados compassos de Chopin enquanto empanava peitos de frango na farinha. No fogo, a manteiga clarificada começava a pegar cor. Perfeito. Tomates recheados, já preparados, aguardavam na geladeira. As ervilhas na manteiga começavam a chiar. Ela faria as bolas de batata sautée enquanto tostava os suprêmes de frango.

O tempo, claro, era crucial. Os Suprêmes de Volaille à Brun tinham de ser feitos na hora, bastava um minuto de cozimento a mais e ela, como cozinheira temperamental, os jogaria fora enojada. A manteiga quente chiava quando ela despejou o frango empanado.

Ouviu a batida na porta, mas continuou onde estava.

— Está aberta — gritou. Com toda meticulosidade, ajustou o calor sob a frigideira. — Eu tomo o champanhe aqui mesmo.

Chérie, se ao menos eu tivesse trazido.

Desorientada, Carla voltou-se e viu Mara, gloriosa num vestido de seda preta e prata, emoldurada na porta da cozinha.

— Mãe!

Com o garfo ainda na mão, Carla foi até ela e abraçou a recém-chegada.

— Está surpresa, oui?

— Estou pasma — disse Carla. — O que você faz na cidade?

Mara olhou o fogão.

— No momento, aparentemente interrompendo a preparação de um tête-à-tête íntimo.

— Oh! — Virando-se, Carla correu de volta à frigideira e virou os peitos de frango, bem na hora. — O que eu queria dizer era o que você faz no Rio. — Tornou a verificar a chama e ficou satisfeita. — Não disse que jamais poria os pés de novo na cidade do rei do hardware?

— O tempo amolece a gente — disse Mara, com uma típica torção do pulso. — E eu queria ver minha filha. Você não vai muito a Paris atualmente.

— É, parece que não. — Carla dividia a atenção entre a mãe e o fogão, coisa que não teria feito por ninguém. — Você está maravilhosa!

As lisas faces de Mara criaram ruguinhas.

— Eu me sinto maravilhosa, mignone. Dentro de um mês e meio começo um novo filme.

— Um novo filme? — Com cuidado, Carla apertou os peitos de frango com um dedo. Quando a crosta saltou, ela os passou para uma chapa quente. — Onde?

— Hollywood. Eles vêm me atormentando, e acabei cedendo. — O riso contagiante tornou a borbulhar. — O roteiro é maravilhoso. O próprio diretor foi a Paris me cortejar. Silvio Morrison.

Alta, meio angulosa, rosto inteligente, cinquentona. Carla tinha um quadro bastante parecido com as revistas de celebridades e a festa para uma rainha de bilheteria onde preparara uma Île Flottante. Pelo tom de voz da mãe, já sabia da resposta antes de fazer a pergunta.

— E o diretor?

— Também é maravilhoso. Que acha de um novo padrasto, chérie?

— Resignada — disse Carla, e sorriu. Era uma palavra dura demais. — Satisfeita, claro, se você está feliz, mãe.

Começou a preparar o molho de manteiga queimada, enquanto Monique explicava.

— Oh, mas ele é brilhante, e tão sensível! Jamais conheci um homem que entendesse tanto uma mulher. Finalmente descobri meu par perfeito. O homem que finalmente traz tudo que eu preciso e quero na vida. O homem que me faz sentir mulher.

Sobremesa de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora