Capítulo 8

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A Picoli House do Rio de Janeiro tinha apenas doze andares e uma fachada de tijolos aparentes e gastos pelo tempo. Fora construída para mesclar e acentuar a arquitetura colonial que era o coração da cidade. Outros prédios talvez sobressaíssem mais altos, talvez brilhassem com a modernidade, mas Artur Picoli soubera o que queria. Elegância, classe e discrição, a definição de uma Picoli House. Carla foi forçada a aprovar. Na maioria das coisas, preferia o mundo antigo ao novo.

O saguão estava silencioso, e embora o dourado fosse meio fosco, e os tapetes tivessem uma aparência um tanto clara e esmaecida, tratava-se de uma opção deliberada e sagaz. Desprendia-se da ambiência a riqueza antiga e estabelecida. Nenhum acréscimo de brilho, resplendor ou ouro teria sido mais eficaz.

Tomando-a pelo braço, Arthur atravessou-o com apenas um aceno da cabeça aqui e ali aos muitos cumprimentos de "Boa noite, Sr. Picoli" que recebeu. Após introduzir uma chave num elevador privado, conduziu-a para dentro. Os dois viram-se envolvidos em silêncio e vidro fumê.

— Lindo lugar — comentou Carla. — Faz anos que não entro aqui. Tinha esquecido. — Olhou o elevador em volta e viu os reflexos dos dois no fundo do vidro cinza. — Mas não acha meio confinado morar num hotel... morar, quer dizer, onde você trabalha?

— Não. Acho conveniente.

Que pena, ela pensou. Quando não trabalhava, precisava afastar-se das cozinhas e cronômetros. Nunca fora uma pessoa — como haviam sido o pai e a mãe — de levar trabalho para casa.

O elevador parou com tanta suavidade que a mudança pareceu quase imperceptível. As portas deslizaram sem fazer ruído algum.

— Você ocupa o andar todo?

— Há três suítes para hóspedes, além da minha cobertura — ele explicou, enquanto os dois se encaminhavam pelo corredor. — Nenhuma ocupada no momento.

Ele enfiou a chave no único painel de uma porta dupla de carvalho e fez um gesto para ela entrar.

O ambiente já estava à meia-luz. Ele escolhera bem as cores, ela pensou ao pisar no espesso tapete cor de estanho. Matizes de cinza desde prateado-claro ao enfumaçado dominavam o sofá amplo, as poltronas e paredes. Com a iluminação baixa, aquilo tinha um efeito onírico e, ao mesmo tempo, sensual e calmante.

Talvez isso houvesse tornado o ambiente sem graça, até insípido, não fossem os toques de cor inteligentemente entremeados. O escuro azul das cortinas, os tons perolados das almofadas enfileiradas no sofá, o verde forte e primal de uma hera que descia emaranhada por um aparador com a parte inferior saliente. E também as brilhantes cores de um único quadro, uma pintura impressionista que dominava uma das paredes.

Embora não se visse nada dos objetos que ela teria escolhido para si mesma, uma sensação de classe logo despertou sua admiração.

— Bem incomum, Sr. Picoli — elogiou, tirando automaticamente os sapatos. — E eficaz.

— Obrigado. Mais um drinque, Srta. Diaz? O bar está com o estoque completo, e também tem champanhe, se preferir.

Ainda decidida a sair da noite com classe, Carla encaminhou-se para o sofá e sentou-se. Enviou-lhe um sorriso indiferente e descontraído.

— Eu sempre prefiro champanhe.

Enquanto Arthur lidava com a garrafa e a rolha, ela aproveitou o momento livre para examinar mais uma vez a sala. Um homem nada comum, concluiu. Com demasiada frequência, o comum era sinônimo de enfadonho. Forçou-se a admitir isso porque, como se associara durante a maior parte da vida ao boêmio, excêntrico e criativo, sempre achara as pessoas envolvidas em negócios inatamente chatas.

Sobremesa de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora