Os olhos dela viraram fendas.
— Você é atrevido.
— Agora que equacionamos o primeiro problema, é hora de passar para o segundo. Podemos jantar.
— Você equacionou o primeiro problema — ela respondeu. — Eu não equaciono nada com essa facilidade. Jante com sua conta bancária. É o que você entende.
Ele se levantou e aproximou-se sem pressa.
— Nós concordamos que, quando estamos fora daqui, não somos parceiros comerciais.
— Não estamos fora daqui. — Ela ainda empinava o queixo. — Eu estou em seu escritório, aonde fui intimada a vir.
— Não vai estar hoje à noite.
— Eu vou estar onde quiser hoje à noite.
— Então, hoje à noite — ele continuou, tranquilo — não seremos parceiros comerciais. Não foram essas as suas regras?
Pessoal e profissional, com aquela linha tangível de demarcação. Sim, era assim que ela queria, mas não era tão fácil fazer a separação como pensara.
— Talvez esta noite — disse com um dar de ombros — eu esteja ocupada.
Arthur olhou o relógio.
— Já é quase meio-dia. Podemos considerar que é hora do almoço. — Tornou a olhar para ela, com um meio sorriso. — Na hora do almoço, não há negócios entre nós, Carla. E hoje à noite eu quero estar com você. — Com os lábios, tocou-lhe o canto da boca, depois o outro. — Quero passar longas... — enviesou os lábios sobre os dela — horas privadas com você.
Ela esperava isso também, por que fingir que não? Jamais acreditara em fingimentos, só em defesas. De qualquer modo, já decidira cuidar de Marcos e da cozinha à sua maneira. Juntando as mãos na nuca dele, retribuiu-lhe o sorriso.
— Então estaremos juntos hoje à noite. Você traz o champanhe?
Estava amolecendo, mas não cedendo. Arthur achava isso infinitamente mais excitante que a submissão.
— Isso tem um preço?
— Quero que você faça por mim uma coisa que não fez antes.
Virou a cabeça e tocou os lábios com a ponta da língua.
— O quê?
— Cozinhe para mim.
A surpresa iluminou os olhos dela antes da risada explodir.
— Cozinhar para você? Bem, é um pedido bastante diferente do que eu esperava.
— Depois do jantar talvez eu faça outros.
— Quer dizer que você quer que Carla Diaz faça o jantar para você. — Ela pensou no assunto enquanto se afastava. — Talvez eu cozinhe, embora essas coisas em geral custem muito mais que uma garrafa de champanhe. Uma vez em Fortaleza preparei um jantar para um homem do petróleo e a nova noiva dele. Fui paga com ações. De grandes empresas.
Arthur pegou a mão dela e levou-a aos lábios.
— Eu lhe comprei uma pizza. De pepperoni.
— É verdade. Oito horas então. E eu o aconselho a comer coisa leve no almoço. — Ela estendeu a mão para a maçaneta da porta e olhou para trás com um sorriso. — Gosta de Cervelles Brulées?
— Talvez, se eu soubesse o que é.
Ainda sorrindo, ela abriu a porta.
— Miolo de bezerro assado. Au revoir.
Arthur ficou olhando a porta. Desta vez ela sem dúvida tivera a última palavra.
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Sobremesa de Carla
FanfictionUma chef refinada, mas viciada em junk food? Quanto mais Arthur Picoli conhece a extraordinária confeiteira Carla Diaz, mais fica intrigado e decidido a contratá-la. Arthur quer o melhor profissional do ramo, e Carla possui uma experiência excelente...