Capítulo 42

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Oiie,

Eu disse no capítulo anterior que ia começar a montanha russa, pois aqui começamos.

Espero que gostem e comentem muito!

Beijinhooos💋
Rafa🦋
@ConduruRafa
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– Estou morrendo de fome.

Já escurecera por completo, sem lua alguma para lançar um fio de luz no quarto. A própria escuridão era confortável e tranquila. Eles continuavam nus e enredados na cama de Carla, mas o piano silenciara uma hora atrás. Não havia mais cheiros de ceia no ar. Arthur puxou-a um pouco mais para perto e manteve os olhos fechados, embora não buscasse o sono. De algum modo, naquele silêncio, nas trevas, sentia-se mais próximo dela.

— Estou morrendo de fome — ela repetiu, um pouco mal-humorada desta vez.

— Você é a chef.

— Ah, não, eu, não. — Erguendo-se num cotovelo, ela olhou-o. Via a silhueta do perfil, a longa linha do queixo, o nariz reto, a vastidão da testa. Queria beijá-lo todo, mas sabia que era hora de firmar uma posição. — Decididamente, é a sua vez de cozinhar.

— Minha vez? — Ele abriu os olhos, com cuidado. — Eu podia mandar buscar uma boa pizza.

— Demora muito. — Ela rolou para cima dele e deu-lhe um beijo estalado e um rápido soco nas costelas. — Eu disse que estava morrendo de fome. É um problema imediato.

Ele cruzou os braços na nuca. Também via apenas uma silhueta — o cortinado dos cabelos, a encosta do ombro, a curva dos seios. Era o bastante.

— Eu não cozinho.

— Todo mundo cozinha alguma coisa — ela insistiu.

— Ovos mexidos — ele disse, esperando desencorajá-la. — Só isso.

— Serve.

Antes que ele pudesse pensar em qualquer coisa para fazê-la mudar de ideia, ela já saltara da cama e ligava a lâmpada na cabeceira.

— Carla!

Ele cobriu os olhos com o braço e tentou um gemido meio morno. Ela sorriu disso e voltou-se para o armário em busca de um roupão.

— Aceito um ovo e uma omelete.

— Eu faço uns ovos muito ruins.

— Para mim tudo bem. — Ela encontrou a calça dele, sacudiu-a um pouco e jogou-lhe em cima. — A verdadeira fome faz concessões.

Resignado, Arthur pôs os pés no chão.

— Então não aceito crítica depois.

Enquanto ela esperava, ele enfiou um calção de jóquei, azul-escuro, cintura baixa, no alto das coxas. Muito sexy, ela pensou, e bem discreto. Estranho como uma coisa tão informal refletia uma personalidade.

— Os cozinheiros gostam que cozinhem para eles — disse enquanto ele puxava o calção.

Ele vestiu uma camisa e deixou-a desabotoada.

— Então não interfira.

— Eu nem sonharia com isso. — Passando o braço no dele, ela conduziu-o à cozinha. Mais uma vez, acendeu as luzes e o fez piscar. — Fique à vontade — convidou.

— Não vai ajudar?

— Na verdade, não. — Carla tirou a tampa do jarro de biscoitos e pegou um. — Eu não dou hora extra e nunca ajudo.

— Regras do sindicato?

— Regras minhas.

— Vai comer biscoito? — ele perguntou, mexendo numa tigela. — E os ovos?

— Isso é apenas o aperitivo — ela disse de boca cheia. — Quer um?

— Eu passo.

Enfiando a cabeça na geladeira, ele encontrou uma caixa de ovos e leite.

— Talvez você precise ralar um pouco de queijo — começou Carla, e deu de ombros quando ele lhe lançou um olhar travesso. — Desculpe. Vá em frente. — Arthur quebrou quatro ovos numa tigela e acrescentou um pouco de leite. — A gente deve medir.

— A gente não deve falar de boca cheia — ele disse brandamente, e começou a bater os ovos.

Batia demais, ela pensou, mas conseguiu conter-se. Mas quando se tratava de cozinhar, a força de vontade não era seu ponto forte.

— Você não esquentou a panela, também. — Indiferente ao fato de não receber a menor atenção, ela pegou outro biscoito. — Vejo que vai precisar de algumas aulas.

— Se quer fazer alguma coisa, faça umas torradas.

Obediente, ela pegou pão-de-forma na lata e jogou duas fatias na torradeira.

— É típico dos cozinheiros ficarem meio irritados quando são observados, mas o bom chef tem de superar isso e as distrações. — Esperou até ele despejar a mistura de ovos numa frigideira para se aproximar. Passando os braços pela cintura dele, colou os lábios na nuca. — Todo tipo de distração. E a chama está muito alta.

— Gosta dos ovos sapecados ou queimados mesmo?

Com uma risada, ela correu as mãos pelo peito nu dele.

— Sapecados está ótimo. Eu tenho uma garrafinha legal de Bordeaux que você podia despejar nos ovos, mas como não fez isso, vou servir um pouco. — Deixou-o a cozinhar e, prontos os ovos, ela já tinha as torradas amanteigadas num prato e vinho gelado em taças.

— Impressionante — decidiu ao sentar-se à mesinha da cozinha. — E cheiroso.

Mas é o olho que nos diz primeiro, ele lembrou.

— Atraente? — perguntou.

Viu-a pôr colheradas dos ovos mexidos no prato.

— Muito, e... — deu uma primeira mordida, testando — é, e muito bom, no todo. Eu podia pensar em botar você no turno do café da manhã, em fase experimental.

— E eu poderia considerar o emprego, se cereal frio fosse a base do menu.

— Vai ter de expandir seus horizontes. — Ela continuava a comer, gostando da comida quente e simples no estômago vazio. — Creio que você pode ser um cozinheiro muito bom, com algumas aulas básicas.

— Suas?

Ela ergueu a taça, e sorriu com os olhos por sobre a borda.

— Se você quiser. Sem dúvida não poderia ter uma professora melhor.

Tinha os cabelos desalinhados em torno do rosto — obra das mãos dele. Faces afogueadas, os olhos brilhavam salpicados de ouro. O roupão ameaçava deslizar de um dos ombros, e deixava uma provocante insinuação de pele exposta. Como antes a paixão acabara com o controle dele, agora as emoções paralisavam toda lógica.

— Amo você, Carla.

Sobremesa de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora