Capítulo 17

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Era estranha a facilidade com que ela atraía sentimentos dele sem avisar. Ora, isso era um aborrecimento. Arthur pegou o isqueiro e acendeu-o. Viu-a tragar e depois expelir logo a fumaça, num gesto que ele percebeu vir mais do hábito que do prazer.

— Continue.

— Você disse que conhecia minha mãe — ela começou. — Que a tinha conhecido, em todo caso. Ela é uma mulher linda, talentosa e inteligente. Eu a amo muito, tanto como mãe quanto como uma pessoa cheia de alegria de viver. Tem uma única fraqueza, homens.

Sentou-se nas pernas e concentrou-se em relaxar.

— Já teve três maridos e inúmeros amantes, mas acredita em princípio que toda relação é para sempre. Quando se envolve com um homem, fica jubilosamente feliz. Os interesses dele passam a ser os dela, as aversões dele as dela. Claro que, quando a relação termina, fica arrasada.

Mais uma vez, tragou o cigarro. Esperava que ele fizesse algum comentário passageiro. Como, em vez disso, ele continuou apenas a ouvi-la, apenas a olhá-la, ela foi além do que pretendia.

— Meu pai é um homem mais prático, e mesmo assim já passou por dois casamentos e alguns discretos casos amorosos. Ao contrário de minha mãe, que aceita falhas... e até curte por um breve tempo... ele busca a perfeição. Como não existe perfeição alguma nas pessoas, só no que as pessoas criam, vive continuamente decepcionado. Minha mãe busca empolgação e romance, meu pai, a companhia perfeita. Eu não busco nenhuma dessas coisas.

— Por que não me diz então o que busca?

— Sucesso — ela disse apenas. — O romance tem um começo, portanto se deduz que tenha um fim. Um companheiro exige concessões e paciência. Dou toda minha paciência ao trabalho, e não tenho talento para concessões.

Isso devia tê-lo satisfeito, até aliviado. Afinal, não queria mais que uma aventura casual, sem amarras nem compromissos. Não entendia por que sentia vontade de fazê-la engolir as próprias palavras, apenas sabia que queria.

— Sem romance — concordou com um assentimento da cabeça. — Sem companheirismo. Isso não elimina o fato de que você me quer e eu a quero.

— Não. — A fumaça começava a deixar um gosto amargo na boca de Carla. Ao esmagar o cigarro no cinzeiro, ela pensava em como a conversa deles parecia uma negociação. Mas não era assim que preferia que as coisas fossem? — Eu disse que ia ser difícil trabalharmos juntos, mas também necessário. Você quer que eu lhe preste um serviço, Arthur, e concordei, porque me interessam a experiência e a publicidade que vou ganhar. Mas mudar o tom e a face de seu restaurante vai ser um processo longo e complicado. Acomodando-o com meus outros compromissos, não vou ter tempo para quaisquer distrações pessoais.

— Distrações? — Por que essa única palavra o enfurecera? De fato, enfureceu, assim como a profissional descartada de desejo dela. Talvez a houvesse dito com a intenção de desafio, mas mesmo assim ele não conseguia engoli-la. — Isto distrai você?

Correu o dedo pelo lado do pescoço dela e envolveu-lhe a nuca.

Ela sentiu a firme pressão de cada um dos dedos na pele. E nos olhos dele viu o mau humor, a necessidade.

Ela manteve a voz firme. Ótimo. Mas o batimento cardíaco, não.

— Como homem de negócios, você devia querer reduzir as complicações ao mínimo.

— Complicações — ele repetiu. Arrastou a outra mão pelos cabelos dela, e inclinou seu rosto para trás. Carla sentiu um sobressalto de excitação precipitar-se pela espinha abaixo. — É isto... — roçou os lábios pela face dela — uma complicação?

Sobremesa de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora