Capítulo 30

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Oiie,

Como estamos?? Sigo aqui sem entender nada do que está acontecendo... 😂😂

Espero que vcs gostem do cap de hoje e comentem bastante, quero saber o que vcs acham que ainda vai acontecer nessa história!

Beijinhooos💋
Rafa🦋
@ConduruRafa
——————————————————————Carla tinha seus próprios problemas. Quatro xícaras de café preto forte não a haviam deixado no máximo da forma para o trabalho. Precisava de umas dez horas de sono, no mínimo oito. Menos disso, e tivera muito menos na noite anterior, chegava perigosamente à beira da perversidade. Acrescente o estado de torvelinho emocional, e o frígido ressentimento de Marcos, e aquela não prometia ser a mais agradável ou produtiva das manhãs.

— Usando uma das mais tradicionais guarnições francesas para o assado de carneiro, acrescentaremos uma coisa europeia e atraente para o primeiro prato.

Ela cruzou as mãos sobre alguns dos papéis espalhados na escrivaninha. Trouxera algumas flores de Gil e pusera-as num jarro d'água. Ajudavam a amenizar um pouco o cheiro de poeira.

— Meu assado de carneiro já está perfeito desse jeito — disse Marcos.

— Para alguns gostos — disse Carla. — Para o meu, está apenas correto. E eu não aceito apenas correto. — Os olhos dos dois guerreavam, violentos. Como nenhum cedia, ela continuou: — Prefiro ir de clamart, corações de alcachofra recheados com ervilha amanteigada e batata refogada na manteiga.

— Nós sempre usamos folhas de mostarda e cogumelos.

Meticulosamente, ela mudou o ângulo de um botão de rosa. A pequena distração ajudou-a a manter a calma.

— Agora usamos clamart. — Anotou, sublinhou e prosseguiu: — Quanto à costela de primeira...

— Você não vai tocar na minha costela de primeira.

Ela começou a responder, mas conseguiu ranger os dentes em vez disso. Todos sabiam na cozinha que a costela de primeira era especialidade dele, podia-se dizer sua criança. O curso mais sábio seria ceder com graça, e manter a linha dura com os outros. Sua herança britânica de jogo limpo predominou.

— A costela de primeira fica exatamente como está — ela disse. — Minha função aqui é melhorar o que precisa de aperfeiçoamento, incorporando o padrão da Picoli House. — Bem dito, Carla, congratulou-se. Marcos bufou e aquiesceu. — Além disso, vamos manter a fita de Nova York e o filé do ano-novo. — Sentindo que o amolecera, ela o atacou com o primeiro prato de frango. — Vamos continuar a servir o mesmo frango assado simples, com acompanhamento de batata ou arroz e os legumes do dia, mas acrescentamos terrina de pato.

— Terrina de pato? — explodiu Marcos. — Não temos ninguém na equipe capaz de preparar bem esse prato, nem temos a prensa.

— Não, e por isso encomendei uma e contratei alguém que sabe usá-la.

— Você vai trazer alguém à minha cozinha só para isso?

— Estou trazendo alguém para a minha cozinha — ela corrigiu-o — para preparar o patê de pato e o prato de carneiro, entre outras coisas. Ele vai deixar o atual emprego em Chicago para vir para cá, porque confia em minha opinião. Você podia começar a fazer o mesmo. — E com isso, pôs-se a arrumar os papéis. — É só por hoje, Marcos. Gostaria que você levasse estas notas. — Com a dor de cabeça começando a martelar, entregou-lhe um monte de papéis. — Se tem alguma sugestão sobre o que eu relacionei aí, por favor, anote.

Curvou-se sobre o trabalho, e ele se levantou e saiu em silêncio da sala.

Talvez não devesse ter sido tão brusca. Carla entendia sentimentos magoados e egos frágeis. Poderia ter lidado melhor com o caso. Poderia, sim — com um suspiro de cansaço, esfregou as têmporas — se não estivesse se sentindo um pouco magoada consigo mesma; pousando os cotovelos na escrivaninha, apoiou a cabeça nas mãos.

Como já se tratava do dia seguinte, tinha de enfrentar as consequências da véspera. Quebrara uma de suas próprias regras básicas.

Jamais se torne íntima de um parceiro comercial. Devia poder dar de ombros e dizer que as regras eram feitas para serem quebradas, mas... preocupava-a mais o fato de não ser essa regra em particular que causava o conflito, mas outra que também quebrara. Jamais deixe alguém que realmente tenha importância se aproximar demais. Além do mais, se não traçasse as linhas e as impusesse agora, isso realmente contava.

Tomando mais café e desejando uma aspirina, ela começou a repassar tudo mais uma vez na mente. Tinha certeza de que fora bastante casual, e bastante clara, na noite anterior, sobre a falta de ligações e obrigações. Mas quando tornaram a fazer amor, nada do que ela dissera fizera sentido. Balançou a cabeça, tentando bloquear a lembrança. Naquela manhã, tinham estado perfeitamente à vontade um com o outro — dois adultos preparando-se para um dia de trabalho sem qualquer acanhamento do dia seguinte. Era o que ela queria.

Demasiadas vezes vira a mãe apaixonada e borbulhando no começo de um caso. Aquele agora era o homem — o mais excitante, mais considerado, mais poético. Até que o frescor desbotava, Carla acreditava que o que não fulgia não desbotava, e a vida era muito mais simples.

Mas ainda o queria.

Após uma breve batida, um dos empregados da cozinha meteu a cabeça pela fresta da porta.

— Srta. Diaz, o Sr. Picoli gostaria de vê-la no escritório dele.

Carla acabou rápido o café que esfriava.

— É? Quando?

— Imediatamente.

Ela ergueu uma sobrancelha. Ninguém a chamava imediatamente. As pessoas convidavam-na, a seu bel-prazer.

— Entendo. — Deu um sorriso gélido o bastante para fazer o mensageiro encolher-se. — Obrigada.

Quando a porta tornou a fechar-se ela continuou imóvel. Era hora de trabalho, pensou, e assinara contrato. Era razoável e correto ele pedir-lhe que fosse ao seu escritório. Aceitável. Mas ela ainda era Carla Diaz — não ia se apresentar a ninguém imediatamente.

Passou os 15 minutos seguintes deliberadamente mexendo nos papéis antes de levantar-se. Após andar pela cozinha e inspecionar o conteúdo de uma panela ou espeto a caminho, dirigiu-se a um elevador. Na subida, olhou o relógio, satisfeita por notar que ia chegar quase vinte minutos depois do chamado. Quando a porta se abriu, ela tirou um cisco da manga da blusa e foi em frente.

— O Sr. Picoli gostaria de falar comigo?

Ela deu às palavras a entonação de uma pergunta e sorriu à recepcionista.

— Sim, Srta. Diaz, deve entrar direto. Ele está esperando.

Sem saber se a última declaração fora uma censura, ou aviso, Carla continuou pelo corredor até a porta de Arthur. Deu uma peremptória batida antes de entrar.

Sobremesa de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora