Capítulo 23

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Ela umedeceu os lábios, porque quando tornou a encontrar os olhos dele viu-os tão intensos e escuros quanto a pedra em sua mão.

— Eu quero ter sucesso. Quero ser considerada a melhor no que faço.

— Mais nada?

— Não, nada.

Por que estava sem fôlego?, perguntou a si mesma.

As jovens ficam sem fôlego... ou as românticas. Ela não era nenhuma das duas coisas.

— E quando conseguir? — Ele se levantou e a pôs de pé sem esforço. — Que mais?

Como estavam de pé, ela precisava erguer a cabeça para manter os olhos no mesmo nível dos dele.

— Basta. — Ao dizer isso, Carla teve as primeiras dúvidas sobre a verdade da afirmação. — E você? — ela perguntou de volta. — Não está atrás do sucesso... de mais sucesso? Os melhores hotéis, os melhores restaurantes.

— Eu sou um homem de negócios. — Devagar, ele contornou a escrivaninha até nada separá-los. Ainda tinham as mãos juntas. — Tenho um padrão a manter ou melhorar. E também sou homem. — Ergueu a mão para os cabelos dela e deixou-os fluir por entre os dedos. — E penso em mais coisas que livros de contabilidade.

Estavam bem próximos agora. O corpo dela roçava o dele e fazia sua pele tremer. Ela esqueceu todas as regras que estabelecera para os dois e ergueu a mão para tocar a face dele.

— Em que mais você pensa?

— Em você. — Tinha a mão na cintura dela, e subia-a devagar pelas costas, aproximando-se mais. — Penso muito em você e nisto.

Os lábios tocaram-se — suavemente. Os olhos permaneceram abertos e conscientes. Os pulsos latejaram. O desejo se desencadeou.

Ela estava nos braços dele, agarrando-se, gananciosa, e ardendo. Cada hora das últimas duas semanas, todo o trabalho, o planejamento, as regras, derreteram-se sob uma explosão de paixão. Se ela sentia impaciência nele, apenas combinava com a sua. O beijo foi forte, longo, desesperado. Corpo tenso contra corpo, em perfeito tormento.

Mais apertado. Se ela disse a palavra em voz alta ou apenas pensou, ele pareceu entender. Curvou os braços em torno dela, esmagando-a contra si como ela queria. Carla sentiu as linhas e planos do corpo dele moldarem os seus, como fazia a boca, e de algum modo pareceu mais macia do que jamais se imaginara.

Deus do céu, como uma mulher podia levá-lo tão longe com apenas um beijo? Ele já se sentia mais que louco de paixão por ela. O controle perdia o sentido numa necessidade muito mais imperativa. A pele dela deslizaria como seda em suas mãos — ele sabia. Tinha de sentir.

Deslizou a mão por baixo do suéter e encontrou-a. Sob sua palma, o coração dela martelava. Não bastava, a ideia de que jamais bastaria percorreu-lhe a mente. Mas as perguntas, a razão, ficavam para depois. Enterrando o rosto no pescoço dela, ele saboreou a pele. Lembrava-se do cheiro que demorava ali, atraindo-o mais, puxando-o mais para perto da borda onde não poderia haver retorno. O cansaço que sentira ao entrar no quarto dissipara-se. A tensão que sentia sempre que a tinha perto se evaporara. Nesse momento, considerava-a inteiramente sua, sem perceber que desejava posse exclusiva.

Os cabelos dela roçaram o seu rosto, macios como nuvens, cheirosos. Fazia-o lembrar Paris, pouco antes do calor do verão substituir a primavera. Mas a pele era quente e vibrava, fazendo-o imaginar longas noites úmidas em que o amor seria lento, interminavelmente lento. Queria-a ali, no acanhado quartinho com o piso repleto de caixas.

Ela não conseguia pensar. Sentia os ossos se dissolverem e a mente vazia. A sensação despejava-se sobre ela. Era como se a afogassem. Mas queria mais — sentia o corpo ansiando por mais, querendo tudo. Tempestade, trovão, calor. Só uma vez... o anseio insinuou-se dentro dela com sussurrantes promessas e sombrio prazer. Podia deixar-se ser dele, tomá-lo como seu. Só uma vez. E depois...

Sobremesa de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora