Capítulo 16

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Como ela comia aquilo? — ele se perguntou, largando de volta o garfo na caixa. Olhando-a, a gente a via nos mais elegantes restaurantes — flores, vinho francês, garçons corretamente engomados. Vestida de seda e brincando com alguma sobremesa exótica.

Carla esfregou a base de um pé descalço na parte superior do outro, enquanto comia mais um pedaço de galinha. Arthur sorriu, perguntando-se por que ela o atraía?

— O profissional primeiro, então — ele respondeu. — Vamos passar a trabalhar estreitamente durante pelo menos vários meses. Acho que é sensato nos conhecermos melhor... descobrirmos como o outro trabalha, para irmos fazendo os ajustes certos quando necessário.

— Lógico. — Carla pescou dois palitos de batata frita e ofereceu-lhe a caixa depois. — É simplesmente melhor você descobrir desde já que não faço qualquer tipo de ajuste. Só trabalho de um jeito... do meu. Então... o motivo pessoal?

Ele gostou da confiança e da completa falta de concessão. Planejava explorar a primeira e desfazer a segunda.

— Pessoalmente, acho você uma mulher linda e interessante. — Mergulhou a mão na caixa e observou-a. — Quero levar você para a cama. — Como ela nada disse, ele mordiscou uma batata. — E acho que devíamos passar a nos conhecer melhor primeiro. — Ela encarou-o direto e sem piscar os olhos. Ele sorriu. — Lógico?

— É, e egoísta. Você parece ter sua parcela das duas qualidades. Mas... — ela limpou os dedos no guardanapo antes de tornar a pegar o refrigerante — ...é honesto. Admiro a honestidade nas outras pessoas. — Levantando-se, olhou-o de cima. — Terminou?

Ele continuava com o olhar tão frio quanto o dela ao lhe estender a caixa.

— Sim.

— Por acaso tenho duas bombas na geladeira, se estiver interessado.

— Supermercado especial?

Ela curvou os lábios aos poucos, de leve.

— Não. Tenho alguns padrões. São minhas.

— Então eu dificilmente a insultaria recusando.

Desta vez ela riu.

— Tenho certeza de que a diplomacia é seu único motivo.

— Isso, e gulodice básica — ele acrescentou, quando ela se afastou.

É uma mulher fria, refletiu, tornando a pensar em sua reação, ou falta de reação, à afirmação dele sobre a possibilidade de levá-la para a cama. A frieza e o controle o intrigavam. Ou, talvez mais corretamente, o desafiavam.

Era uma fachada? Se fosse, gostaria da oportunidade de descascar as camadas. Aos poucos, decidiu, mesmo preguiçosamente, até descobrir a paixão por trás. Estaria ali — imaginava-a como uma das sobremesas dela — escura e proibida sob uma cobertura branca. Antes que se passasse muito tempo, ele pretendia prová-la.

Não tinha as mãos firmes, amaldiçoou-se Carla, ao abrir a geladeira. Ele a abalara... exatamente como pretendera. Esperava apenas não ter conseguido vê-la por trás de sua resposta improvisada. É, ele pretendera abalá-la, mas ela dissera precisamente o que pretendia. Disso entendia. No momento, não tinha tempo para absorver e dissecar seus próprios sentimentos. Só percebera sua primeira reação — não choque, nem indignação, mas uma espécie de excitação nervosa que não sentia havia anos.

Tolamente, disse a si mesma, enquanto arrumava as bombas em dois pratos de delicada porcelana Meissen. Não era uma adolescente que se deliciava com sentimentos palpitantes. Nem ia tolerar ser informada de que estava prestes a tornar-se amante de alguém. Sempre parecia haver uma parte que se envolvia mais na história, e por isso se tornava mais vulnerável. Não se permitiria ficar nessa posição.

Sobremesa de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora