– Descaramento incrível — resmungou Carla. Deu mais uma mordida no cachorro-quente, fez um ar carrancudo e engoliu. — O cara tem um incrível descaramento.
— Não devia deixar que isso afetasse seu apetite, cara — disse Carlo, e afagou-lhe o ombro quando retomaram o caminho pela calçada, em direção as paredes orgulhosas e gastas pelo tempo do Copacabana Palace.
Carla deu mais uma mordida no cachorro-quente. Quando sacudia a cabeça, o sol colhia as pontas dos cabelos e salpicava-as de dourado.
— Feche a matraca, Carlo. Ele é muito arrogante. — Com a mão livre, gesticulava violentamente enquanto continuava a mastigar, quase vingativa, a salsicha e o pão. — Entenda, eu não vou receber ordens de ninguém, sobretudo de um executivo requintado, metido em elegantes ternos feitos sob medida, com tendências ditatoriais e incríveis olhos azuis.
Carlo ergueu uma sobrancelha a essa descrição, e lançou então um olhar apreciativo a uma loura de pernas longas de short rosa-forte que passou por eles.
— Claro que não, mi amore — respondeu, ausente, esticando o pescoço para acompanhar o avanço da loura pela rua. — Este seu Brasil tem as mais fascinantes atrações turísticas, sì?
— Eu tomo minhas próprias decisões, dirijo minha própria vida — resmungava Carla, puxando o braço dele quando via sua atenção divagar. — Recebo pedidos, Carlo, não ordens.
— Sempre foi assim — ele lançou um último olhar para trás, a mente devaneando. Talvez conseguisse convencer Carla a parar em algum lugar, o banco da praia, um café ao ar livre, onde tivesse uma visão... mais completa das atrações do Brasil. — Você deve estar cansada de caminhar, amor — começou.
— Eu decididamente não vou jantar com ele esta noite.
— Isso talvez sirva para ensiná-lo a não pressionar Carla Diaz com insistência.
A praia, pensou Carlo, talvez fosse a mais interessante das possibilidades.
Ela disparou-lhe um olhar perigoso.
— Você acha divertido porque é homem.
— Você é que parece divertida — ele a corrigiu, rindo. — E interessada.
— Não estou.
— Oh, está, cara mia, está, sim. Que tal a gente se sentar para eu absorver as... belezas e atrações da cidade que você adotou? Afinal... — levou a mão à pala do chapéu ao passar por uma morena que passeava de short bem curto — sou um turista, sì?
Ela captou o brilho no olhar do amigo. Após expirar ruidosamente, deu uma virada brusca à direita.
— Eu vou lhe mostrar as atrações turísticas, amico.
— Mas Carla... — Carlo avistou uma ruiva, de jeans colado ao corpo, que levava um poodle para passear. — A vista daqui é muito educacional e empolgante.
— Eu vou empolgar você — ela prometeu, e grosseiramente arrastou-o para dentro do prédio. — O Belmond Copacabana Palace, com quase um século de existência, continua a ser um dos mais importantes estabelecimentos hoteleiros da cidade e do Brasil.
Ouviu-se um eco de pés e de vozes — um grupo de turista adentrando o hotel.
— Fascinante — murmurou Carlo. — Que tal a gente ir a praia, Carla? O dia está lindo. Para eu apreciar corredoras de shorts e camisetas minúsculas.
— Eu me consideraria uma péssima amiga se não lhe desse uma breve lição de história antes de você partir hoje à noite, Carlo. — Ela enlaçou o braço no dele com mais firmeza. — Ele possui duzentos e trinta e nove apartamentos e suítes, divididos entre o prédio principal e anexo, em uma área de onze mil metros quadrados.
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Sobremesa de Carla
FanfictionUma chef refinada, mas viciada em junk food? Quanto mais Arthur Picoli conhece a extraordinária confeiteira Carla Diaz, mais fica intrigado e decidido a contratá-la. Arthur quer o melhor profissional do ramo, e Carla possui uma experiência excelente...