Capítulo 13

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Ele imaginara que ela seria fria, macia e perfumada. Tivera certeza. Talvez por isso a erupção de calor o deixara estupefato. Macia ela era, a pele igual a seda, quando ele correu as mãos por suas costas para enconchar o pescoço. Perfumada. Tinha um perfume que ele iria sempre, desse momento em diante, associar a ela. Mas não fria. Nada tinha de frio na boca grudada na dele, nem na respiração que se misturou com a sua quando seus lábios se abriram. Havia alguma coisa impensada. Ele não conseguia apreendê-la nem analisá-la, apenas senti-la.

Com um profundo e quase felino gemido de prazer, ela correu as mãos pelos cabelos dele. Minha nossa, julgara que não havia um sabor que não houvesse conhecido, uma textura que já não houvesse sentido. Mas os dele eram além de seu âmbito, e agora, bem agora, estavam ao seu alcance. Carla regozijou-se e deixou lábios e língua absorverem a doçura.

Mais. Ela jamais conhecera a ganância. Fora criada num mundo de riqueza, onde sempre existia o bastante. Pela primeira vez na vida, conhecera a verdadeira fome, a verdadeira necessidade. Aquelas coisas causavam dor, descobriu. Passou-lhe mais uma vez pela mente a ideia de que, quanto mais absorvesse, mas sofreria por ter.

Arthur sentiu-a enrijecer. Sem saber a causa, abraçou-a mais forte. Queria-a agora, imediatamente, mais do que jamais quisera ou imaginara querer qualquer mulher. Ela se mexeu em seus braços, resistindo pela primeira vez desde que ele a puxara para ali. Lançando a cabeça para trás, ela viu a paixão e a impaciência dos olhos dele.

— Chega.

— Não. — Ainda a mão entrançada possessivamente nos cabelos dela. — Não, não chega.

— Não — ela concordou com a respiração vacilante. — Por isso é que tem de me soltar.

Ele a soltou, mas não recuou.

— Vai ter de explicar isso.

Ela recuperara mais algum controle agora... muito pouco, percebeu, abalada, mas era melhor que nenhum. Chegara a hora de estabelecer as regras — as suas regras — rápida e precisamente.

— Arthur, você é um homem de negócios, eu sou uma artista. Cada um de nós tem suas prioridades. Esta... — ela deu um passo para trás e aprumou o corpo — ...não pode ser uma delas.

— Quer apostar?

Ela estreitou os olhos, mais surpreendida que aborrecida. Estranho ter-lhe escapado aquela implacabilidade nele. Seria melhor pensar nisso depois, quando houvesse alguma distância entre os dois.

— Vamos trabalhar juntos com um objetivo específico — ela continuou, com a voz inalterada. — Mas somos duas pessoas diferentes, com perspectivas diferentes. Você está interessado no lucro, claro, e na reputação de sua empresa. Eu estou interessada em criar o mostruário certo para minha arte e minha própria reputação. Ambos precisamos ser bem-sucedidos. Não vamos complicar a questão.

— Essa questão é perfeitamente clara — ele rebateu. — Assim como a seguinte: eu quero você.

— Ah. — A voz dela saiu devagar. Deliberadamente, Carla estendeu a mão para pegar a bolsa abandonada. — Sem rodeios e direto ao assunto.

— Seria um tanto ridículo usar rodeios nesse momento. — A diversão sobrepujava a frustração. Ele se sentiu grato por isso, porque lhe daria a vantagem que começara a perder assim que provara o gosto dela. — Você teria de estar inconsciente para não perceber.

— E não estou. — Mesmo assim, ela recuou, confiando no equilíbrio para levá-la embora antes que perdesse a vantagem mínima que lhe restava. — Mas é a sua cozinha... e será a minha cozinha... minha principal preocupação neste momento. Com o montante que está me pagando, devia se sentir grato por eu entender as prioridades. Farei uma relação provisória das mudanças e dos novos equipamentos que você terá de encomendar na segunda-feira.

— Ótimo. Vamos jantar no sábado.

Carla parou na porta, voltou-se e balançou a cabeça.

— Não.

— Pego você às oito.

Era raro alguém ignorar suas declarações. Em vez de perder o controle, Carla tentou o tom paciente que lembrava da sua governanta. Para enfurecer.

— Arthur, eu disse não.

Se ele ficou enfurecido, ocultou bem. Simplesmente sorriu para ela — como alguém sorriria para uma criança criadora de casos. Os dois, parecia, sabiam fazer o mesmo jogo com igual competência.

— Às oito — ele repetiu, e sentou-se na quina da escrivaninha. — Podemos até comer tacos, se quiser.

— Você é muito teimoso.

— Sim, sou.

— Eu também sou.

— Sim, é. A gente se vê no sábado.

Ela teve de se esforçar muito para parecer furiosa, porque sentia vontade de rir. No fim, satisfez-se batendo a porta, bastante alto.

Sobremesa de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora