Capítulo 7

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— Podem levar lá para dentro — ela disse.

Com uma gargalhada, estendeu bem alto os braços para cima a fim de alongar os músculos. Decidiu que gostaria de dormir durante uma semana.

— Muito impressionante.

Com os braços ainda erguidos, Carla voltou-se devagar e viu-se diante dele.

— Obrigada — agradeceu, a voz fria, os olhos cautelosos. Em algum momento entre as bagas e a cobertura, decidira ser muito, muito cuidadosa, com Arthur Picoli. — Era essa a intenção.

— Na aparência — ele concordou. Baixando os olhos, viu que a grande vasilha de cobertura de chocolate ainda não fora retirada. Correu o dedo em volta da borda e lambeu-o. O sabor bastava para derreter os mais duros corações. — Fantástica.

Ela não poderia ter evitado o sorriso — uma travessura de menino feita por um homem de terno primoroso e gravata de seda.

— Claro — disse com uma jogada da cabeça. — Eu só faço o fantástico. Por isso é que o senhor me quer... correto, Sr. Picoli?

— Uum. — O som talvez houvesse sido de assentimento, ou de alguma outra coisa. Sensatamente, os dois deixaram a ideia de lado. — Você deve estar cansada, após ficar tanto tempo em pé.

— Um homem perspicaz — ela murmurou, retirando o chapéu de chef.

— Se preferir, jantaremos na minha cobertura. É muito aconchegante. Vai se sentir à vontade.

Ela ergueu uma sobrancelha e lançou-lhe um olhar rápido e desconfiado. Jantares íntimos eram uma coisa a ser levada cuidadosamente em consideração. Talvez se sentisse cansada, pensou, mas ainda sabia comportar-se com qualquer homem — sobretudo um empresário. Dando uma encolhida de ombros, retirou o avental manchado.

— Tudo bem. Só vou levar um minuto para me trocar — disse, e deixou-o sem olhar para trás.

Mas, observando-a, ele a viu ser interpelada por um homenzinho de bigode preto que lhe agarrou a mão e colou-a teatralmente nos lábios. Arthur não precisou ouvir as palavras para avaliar a intenção. Sentiu em seu rosto uma torção de aborrecimento que, com algum esforço, transformou em sorriso.

O homem falava rápido e subia a mão pelo braço de Carla. Ela riu, fez que não com a cabeça e gentilmente o afastou. Arthur viu-o voltar-se para olhá-la como um filhote de cachorro abandonado e apertar o próprio chapéu de chef de cozinha contra o peito.

Que grande efeito ela causava sobre os homens, ele pensou. Mais uma vez desinteressado, refletiu que certo tipo de mulheres era atraente sem qualquer esforço visível. Era um dom... inato, imaginou que fosse a palavra certa. Um dom que não admirava nem condenava, mas do qual simplesmente desconfiava. Uma mulher como aquela podia manipular qualquer um apenas com um movimento rápido do pulso. Num nível pessoal, ele preferia mulheres mais óbvias.

Ele posicionou-se fora do caminho quando começaram o falatório e a confusão da limpeza. Era uma aptidão que imaginava não fosse magoá-la na posição como chef principal de sua Picoli House no Rio de Janeiro.

Logo Carla retornou à cozinha. Escolhera o fino vestido de seda cor de papoula porque era perfeitamente simples — tão simples que tinha uma tendência a grudar-se em cada curva do corpo e atrair todos os olhares. Tinha os braços nus, a não ser por um bracelete de ouro esculpido com ornamentos, usado no antebraço. Brincos em forma de gota espiralada pendiam das orelhas até quase os ombros. Agora soltos, os cabelos ondulavam-se um pouco em volta do rosto, devido ao calor e à umidade da cozinha.

Ela sabia que parte de sua aparência era excêntrica e parte exótica. Assim como sabia que transmitia uma sensualidade primitiva. Vestia-se assim — de jeans a sedas — para seu próprio prazer e capricho. Mas quando viu o fogo, logo reprimido, nos olhos de Arthur, sentiu-se perversamente satisfeita.

Sobremesa de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora