Capítulo 2

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Cinco anos antes.

- Você só pode estar brincando com a porra da minha cara!




Eu grito para meu irmão mais velho pelo face time enquanto saio do prédio onde acabei de ter uma aula de história.
O semblante melancólico de Titan só me inrrita ainda mais, e não melhora  quando ele faz sua cara de cachorro pidão. Fazem quase seis anos que eu e toda família nos mudamos da Inglaterra para os Estados Unidos, e meu irmão mais velho, Titan, que já era maior de idade e estava na faculdade preferiu não se transferir. Minha mãe não gostou da ideia de não ter todos os filhos morando com ela e meu pai aqui, mas Titan usou o argumento de que não havia finalidade em se transferir no seu último ano de faculdade, então, meu irmão ficou e adivinha só? Ele continuou morando na Inglaterra!
Ele conseguiu um emprego, e sei que está esperamos sua promoção a um ano, mas porra... ele é o mais velho, eu estou no meu último ano de faculdade e não pretendo ir para nenhum time de hóquei da Califórnia, não, isso está fora de cogitação!




- Eu sei maninho, eu sei, mas não quero desperdiçar essa chance!
Você sabe que a arquitetura é tudo na minha vida, é como o meu hóquei! Só que sem os patins, a pista congelada, o taco, o disco e toda aquela roupa que vocês usam.



Titan diz, tentado ser engraçado, mas eu só reviro os meus olhos.



- Irmão, eu sei que vocês me querem aí, eu também quero ir, mas somos cinco competindo pela mesma vaga. Isso não é pouca coisa, e eu estou me sentindo um merda por ainda não ter voltado desde o Natal passado. Mas não vai dar, desculpa.




Titan diz, e eu suspiro fundo para tentar me acalmar, o maior problema não é Titan não vir é a nossa mãe.
Ela não é uma péssima mãe, pelo contrário, ela sempre foi super carinhosa e amorosa, mas também é a pessoa mais aproveitadora e invejosa da terra.
Eu não a culpo, nem meus irmãos, sua situação a deixou assim, e realmente é uma merda você ser condenado a paraplegia, eu não consigo nem imaginar como é você estar assim, para a sua vida inteira. Ser incapaz de se levantar da cama sozinho, não poder andar, não poder jogar hóquei... merda, um arrepio percorre o meu corpo só de imaginar ficar sem o hóquei, sem o ar que eu respiro!
Mas, apesar de eu, Titan e Mercy entendermos isso e termos crescido com essa doença, o que torna tudo difícil de suportar são as atitudes da mamãe. Ela não queria nenhum filho fora do ninho, ela faz de tudo para se aproveitar das menores situações e deixa claro para qualquer pessoa o quanto ela é grossa. Já perdi as contas de quantas vezes minha mãe foi injusta comigo, Titan e Mercy só porque queria descontar suas frustrações na gente.
É, eu não culpo meu irmão por ter fugido na primeira chance que pode, eu mesmo fiz isso quando vim estudar em Washington. Por sorte minha desculpa era tão boa quanto a do meu irmão, a faculdade havia me oferecido uma bolça de 70% graças ao meu hóquei e minhas notas no colégio, minha família tem uma boa condição financeira, mas com todos os gastos diários da mamãe e os três filhos, não podíamos negar essa oportunidade só para que eu continuasse na Califórnia.
Então, eu consegui minha liberdade, já Mercy...





- Não acho que seja para mim que você deva se desculpar Titan, você sabe que Mercy vai surtar quando não te vir passar por aquela maldita porta no Natal !
Nós fugimos, ela também quer fugir, e nós vamos ter que ajudá-la nisso, nem que tenhamos que pagar os dois a faculdade dela para que a mamãe não surte com ela  realmente  indo para Seattle!




Eu digo, parando em baixo de uma árvore e pegando o vento fresco. Ainda faltam alguns meses para o Natal, mas juro que já consigo ver minha irmã mais nova correndo para o quarto para chorar, porque tem medo de continuar presa na Califórnia com nossos pais, como minha mãe praticamente me obrigou a fazer antes das cartas da faculdade chegarem.





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