Capítulo 4

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Cinco anos antes.

Eu continuo olhando para o chão, na esperança de que meu desenho esteja aqui mas não, ele não está, eu realmente o perdi.
Eu engulo a pedra na minha garganta enquanto olho para as raízes da árvore, na esperança de que meu desenho apareça magicamente, mas nada acontece, obviamente.
Ontem eu estava tão nervosa para chegar logo na aula que derrubei tudo no chão, e não percebi que havia perdido o desenho mais importante da minha vida até essa manhã, onde eu revirei todas as minhas coisas no quarto do alojamento só para descobrir que meu desenho não estava em lugar nenhum. Acho até que ameacei minha colega, insuportável, de quarto à morte caso eu descobrisse que foi ela quem roubou o desenho só para infernizar a minha vida. Como se ela já não fosse complicada o bastante.
Não estava em lugar nenhum do caminho do alojamento até aqui, onde eu me lembro de pegar todas as coisas que caíram no chão.
Eu sinto as lágrimas começarem a embassar a minha visão mas de jeito nenhum eu vou chorar agora, ajoelhada embaixo de uma árvore, no meio do campus e com várias pessoas ao redor.



- Tudo bem por aí, baby ?


Uma voz familiar, de sotaque inglês, diz e eu levanto minha cabeça só para encontrar o idiota de ontem a tarde, o mesmo que esbarrou em mim e me fez derrubar tudo porque estava ocupado demais dando em cima de três meninas ao mesmo tempo.



- Eu estou ótima, e eu já disse que meu nome não é baby!


Eu digo, enquanto me levanto do chão, para ficar cara a cara com o idiota. Ou melhor, para ficar cara com peito, porque minha altura não me permite alcançar seus olhos, ao menos que eu levante minha cabeça.



- Pode até não ser baby para os outros, mas é para mim.
E, só para constar, eu poderia facilmente descobrir o seu nome.




O idiota diz, e eu reviro os olhos ao mesmo tempo em que digo de forma sarcástica:



- É claro que poderia, porque ninguém teria a audácia de negar nada para vossa majestade.



O idiota ri de mim, e eu seria capaz de dar um soco na cara dele porque já estou tendo um dia de merda, mas resolvo não fazer. Não sei se ele é filho de alguém importante da universidade, o que me causaria problemas, e eu ainda precisaria ficar na ponta dos pés para alcançar seu rosto.




- Na verdade, perguntar seu nome não seria tão divertido quanto fazer você me dizer.


O idiota diz, e eu reviro os olhos porque ele é muito metido.


- O que você estava procurando, baby?



O idiota insiste, e eu suspiro fundo, porque não quero dizer a ele, mas talvez ele tenha visto meu papel. Estou perdida de qualquer jeito mesmo.



- Estou procurando um desenho que eu fiz. É de um vestido preto, longo, com o corpete apertado mas com um acabamento mais bufante nos pés, tem uma amostra do tecido granpeada ao lado do desenho e...

- Duas letras entrelaçadas ? Como uma assinatura? Um J e um L, aparentemente.



O idiota diz antes que eu termine de descrever o desenho, e eu abro minha boca porque porra, ele encontrou. Será que ele leu o que eu escrevi atrás...


- Você o encontrou, então?

- Sim.

- Então me devolva!

- Não.


O idiota diz, com as duas covinhas ainda mais idiotas aparecendo, e eu repenso seriamente na ideia de dar um soco nele, talvez apenas um chute na virilha resolva o meu problema.



Você e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora