Sentimentos Instintivos

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Capítulo revisado e corrigido por: dayandrann














- Nicolau? – Ele chamou quando sentou-se no espaço iluminado pela manhã. Uma das coisas que mais admirava na estrutura japonesa da casa de campo de seus avós era a forma como ela era cercada por aquele espaço alto e coberto, permitindo-o sentar-se ali e balançar as pernas sobre o chão enquanto assistia o campo de girassóis acordar com a manhã.

Deitado sobre o ladrilho de madeira avermelhada, o gato de pelagem exótica em um tom cinzento-prateado, com porções mais claras aqui e ali, estava quieto observando o horizonte em silêncio. Era uma criatura grande, com patas firmes e um corpo comprido e esguio coberto por pelos brilhantes e poucos cheios.

Harry o observou por alguns instantes, observando-o mover suas orelhas como sempre fazia quando ele se aproximava de si em tais situações. Internamente, Harry o achava intrigante. Um gato Azul Russo não é comum na Inglaterra, e Harry havia dado várias olhadas no globo terrestre da sala de estudos onde exercia a maior parte de suas lições, aprendendo que a Rússia ficava consideravelmente longe dali. Além disso, a pelagem da criatura era bem mais clara do que a de um Azul Russo comum, ele sabia disso pois, quando questionado, Nicolau o mostrou imagens sobre tal raça.

Harry sempre fora fascinado por gatos. Talvez esses animais tenham sido os primeiros por quem ele verdadeiramente sentiu qualquer tipo de emoção desde que conhecera Louis. Talvez Louis tenha grande parcela de responsabilidade por isso.

- Você não tem vontade de correr por aí quando está assim? – Perguntou de repente, anestesiado pelo sopro frio da manhã, notando o animal ao seu lado olhar em sua direção. Os grandes olhos verde-acastanhados com fendas verticais parecendo o estudar. – Eu sinto essa vontade sempre que deixo meu lobo sair. Ele gosta de correr, de caçar. Eu o entendo agora... antes eram só rosnados e ruídos, mas eu realmente consigo me comunicar agora. Ele é selvagem, incorrigível, e de alguma forma me mostrou que eu também sou... não somos nada diferentes.

O gato balançou sutilmente sua cauda, inclinando o rosto para o lado conforme se mantinha atento. Harry sabia estar sendo ouvido, compreendido, e talvez por ter conhecimento de que não poderia o entender de volta, fosse tão fácil apenas falar. Falar sem importar-se de ser respondido.

- Eu o ouço uivar em minha cabeça quando ele quer sair, eu o sinto faminto quando eu também estou. Eu escuto seus ganidos e rosnados ao longo do dia e agora sei o que significam. É estranho porque tudo ficou maior, mais forte, é o dobro de tudo. – Continuou, observando os girassóis. – Acho que somos amigos, ou talvez sejamos apenas... uma pessoa só.

A criatura manteve os olhos esverdeados em si, olhando-o com a atenção que apenas um felino consegue esbanjar em suas íris brilhantes.

-  Era confuso, no começo eu não o entendia, e de repente nós passamos a buscar pelas mesmas coisas. Quando deixo meu lobo sair ele não me reprime, porque queremos fazer as mesmas coisas... foi por isso que corremos até a casa de Louis ontem.

As orelhas da criatura se moveram, seus olhos ainda fixos em si e Harry o encarou, seriedade e inexpressividade demais para alguém de apenas treze anos.

- Ele queria ver o Louis, e eu deixei porque também queria, então ele correu até lá. Eu sei que não deveria ter ido e embora ninguém tenha me visto eu reconheço os riscos sobre ser descoberto aqui. Por isso, eu peço perdão. – Continuou, ainda encarando a criatura, que possuía tamanho suficiente para se igualar ao porte de um cachorro de médio ou grande porte. – Não quero ser mandado para longe, mesmo que esse seja o protocolo para quem quebra as regras... por favor, não comunique aos meus pais. Eu farei qualquer coisa.

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