Turbulência Em Prova

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Capítulo não corrigido




Certamente era a descoberta de uma nova sensação, pois apenas não havia uma forma de explicar de modo a permitir que uma boa porcentagem de compreensão fosse alcançada, a fim de transmitir, ao menos um pouco, do que era sentido.

Talvez fosse como ser submetido ao espaço de repente, com cada força gravitacional trabalhando de formas novas ao seu redor, forças densas e conturbadas geradas pela massa de um amontoado de planetas, estrelas e outras infinidades de corpos celestes que, de repente, decidiram se aproximar em um único momento. Em algum lugar havia um aviso perturbador de que uma catástrofe estava à beira, aviso esse que tornou-se palpável e, ao mesmo tempo, inconstante. Aviso esse que trabalhava junto às consequências profundas da microgravidade, segundo a segundo gerando uma nova sensação fúnebre de impotência, como seus ossos parecendo perder lentamente a densidade mineral e o volume de seu sangue apresentando-se menor, continuando a diminuir ao mesmo passo em que as batidas de seu músculo cardíaco se arrastavam tão conturbadas quanto ele.

E então, quando parecia que tudo estava perdido, ele despencava. Quilômetros e quilômetros, talvez horas, talvez anos, em uma queda livre de volta ao local onde pertencia, de volta à Terra, de volta à sua gravidade original, muito embora ainda estivesse além de suas capacidades lidar com qualquer partícula existencial dessa viagem cruelmente capaz de arrancar-lhe qualquer traço de compreensão, de percepção ou, especialmente, de controle.

Ele afundava muito antes de atingir o chão, agora experimentando os efeitos aterrorizantes de se afogar tão fundo. Como se seus pulmões diminuíssem e apertassem, o nitrogênio em seu organismo tornando-se completamente líquido, seu corpo inteiro sofrendo os resultados de uma pressão incompatível para com sua vida. Então, quando novamente acreditava que fosse ceder, tudo se repetia e ele era puxado para cima, desancorado das profundezas e submetido ao espaço, repetidas vezes, incontáveis vezes. Descontroladamente.

Assim como não parecia haver tempo para uma descompressão, ele frequentemente não encontrava espaço para respirar e, definitivamente, precisava continuar o fazendo. Abrir os olhos era uma tarefa quase tão trabalhosa quanto, mas dentre tudo com o que estava lidando, era certamente a mais fácil. Na maioria das vezes era como se uma camada escura de algo existisse sobre suas pupilas, deixando-o com uma visão comprometida e quase inútil. Mas haviam momentos, momentos como este, em que ele conseguia visualizar o exato motivo para o quão sobrecarregado estava.

Piscando de maneira lenta e cansada, ele aguardou os poucos segundos até que a imensidão de toda a figura que o tinha em sua posse se expusesse nitidamente ao seu olhar. Ainda estavam no mesmo lugar, mesmo que ele soubesse que horas haviam se passado. Sob seu corpo o chão de madeira estava molhado pela água que transbordou em muitos momentos mais ao lado, mesmo ela estava morna em meio à madrugada que preenchia-se com os sons da ação contínua e crua que ocorria ali.

Às bordas de seu corpo e sobre ele, em todo lugar ao seu respeito, o alpha se encontrava sob excesso de desequilíbrio. Seu corpo parecia duas vezes maior que o comum, seus músculos e veias parecendo capazes de romper sua pele, esta que se encontrava vermelha, úmida e escaldante, coberta por inúmeros hematomas, alguns claramente não eram superficiais e Louis não poderia se culpar por ser a causa disso.

Era preciso, às vezes, proporcionar algo doloroso o suficiente para manter o outro consciente de seus limites. Se fosse sincero, se pudesse apenas verbalizar qualquer coisa agora, talvez admitisse que também o fazia para evitar ser alvo em tempo integral, compreendendo que não importa o quanto resistisse, ainda era demais para suportar.

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