3. Jujubas

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— Acho que você é o cara mais lindo que eu já vi na vida!... Sabe, quando eu era criança eu tinha o cabelo assim da cor do seu e acho que meus olhos também eram clarinhos, minha mãe me chamava de floquinho de neve...

Lucas tentava a todo custo ignorar a voz irritante de Maiara o decote ajudava bastante, mas seus ouvidos estavam sendo castigados por um monte de conversa que ele sabia se tratar de mais uma das mentiras da moça.

Naquela manhã, o rapaz havia finalmente conseguido sair de casa mais cedo e chegar dentro do horário na universidade. Todos o olhavam desconfiados, não era para menos, afinal, ele era sempre o rebelde que chegava atrasado.

Quando a porta da sala se abriu e Diego entrou acompanhado de uma bela morena sua atenção foi completamente assaltada e a voz de Maiara sumiu de seus ouvidos.

Cachos longos balançavam com o tímido rebolado da moça, um corpo com belas curvas se mostrava a partir de uma saia justa preta e uma blusa decotada no mesmo tom, saltos altos ressaltavam toda aquela beleza e os lábios estavam pintados de um vermelho rubi.

A garota estava bem longe de ser feia, ela parecia mais um anjo. Não fisicamente, mas tinha uma delicadeza e doçura reservada aos seres celestiais, na opinião de Lucas.

— Jeca?

De queixo erguido e postura ereta conforme instruções de Diego, Natália sentou de frente para Lucas sem sequer olhar na direção dele.

— Ei Jeca, sou eu o Lucas! — cutucou-lhe o ombro ansioso.

Natália virou-se para ele com ar de superioridade e disse sem gaguejar:

— Meu nome é Natália, Jeca é o teu passado.

Por dentro estava gritando, o coração socando o peito e as mãos suadas. Todavia...
Funcionou.

"Afaste as preocupações, respire e fale com determinação" foram as instruções de Diego para que a moça pudesse lidar com a gagueira que surgia em situações delicadas.

A única saia justa que ela precisava na vida era a que estava envolvendo o seu corpo.

Lucas estava boquiaberto e o sorriso de Natália surgiu diante da reação encabulada do bonitão da faculdade.

— Como um raio de sol — sussurrou Diego satisfeito.

— Caraca, garota, como você tá ridícula!... Nossa! Como você é magrela e despeitada! Você não acha Lucas? — intrometeu-se Maiara, torcendo o nariz enquanto analisava a oponente de cima a baixo.

— Eu... eu... é, eu acho que sim — concordou, sem dar muita atenção ao que a peituda dizia.

— Mulheres magrelas e sem bunda como você não podem usar saia justa e quase que você cai quando entrou com esse salto. Sabe nem andar! Quando eu era criança eu treinava com livros na cabeça, você pode começar a praticar, não vai ser a mesma coisa porque agora você tá velha pra aprender a andar de salto...

Aquela voz fina invadiu a mente de Natália, deixando-a completamente perturbada e sem saber como responder.

As vozes em sua cabeça voltaram com tudo:

"Mulher direita não se veste como puta!"

"Tu não é como elas, Natália, tu se veste com dignidade"

"Só mulher bonitona que se veste assim e são todas sem Deus!"

Maldita hora que pensou que poderia ser como Maiara ou como qualquer outra garota.

Com um pulo, ficou em pé e correu para fora da sala.

— Você — falou Diego, com um dedo apontado na direção de Maiara — é uma invejosa e você — apontou o mesmo dedo para Lucas — é um filho da puta! Aquela garota é louca por você, mas você não merece um único olhar dela — dizendo isso, apressou os passos porta afora à procura de sua amiga.

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