Lucas sentou na calçada, apoiou os cotovelos nos joelhos e pôs as mãos na cabeça.
Respirava do jeito que sua psicóloga, com quem não tinha mais atendimentos desde os cortes financeiros do pai de Lucas, o instruiu.
Inspirando pelo nariz e soltando o ar lentamente pela boca.
Precisava a todo custo acalmar as emoções. Lembrava-se o tempo todo dos olhares acusatórios de Natália e tinha certeza que a moça também não foi embora porque não tinha para onde ir.
Tudo por culpa sua e de seu orgulho infinito, porém era como se uma força maior o impedisse de pedir ajuda.
Desde muito cedo o loiro precisou correr atrás do que queria. Era ele por ele mesmo, como costumava pensar.
Pedir ajuda nunca foi uma possibilidade, depender de outras pessoas muito menos. Já bastava o tempo que dependeu dos amigos. Agora, pedir ajuda a um homem que apenas o gerou lhe deixava com a sensação de fraqueza e Lucas aprendeu desde cedo a não ser fraco.
Não que o Jakob fosse mau, isso não. Todavia, o norueguês não tinha responsabilidade com o rapaz só por tê-lo gerado, era o que pensava o Viking.
De qualquer forma estava encurralado, sem alternativas. Era pedir ajuda ou talvez nunca mais ver o Diego e talvez, com o tempo, perderia também a Natália.
Lembrou-se que pensou que iria vomitar quando viu o carro em que Diego estava indo embora, levando-o para longe e depois mais de sete mil quilômetros de distância os separaria.
Talvez não estivesse no destino deles ficar juntos, porque ao que parecia tudo dava errado para que ficassem unidos.
Tentando afastar esses pensamentos, focou em suas duas grandes decisões. A primeira seria ligar para sua psicóloga para falar sobre a segunda decisão.
Lourdes, a psicóloga, disse que estaria disposta a ajudar mesmo que as sessões estivessem encerradas. Na verdade, sempre deixou o canal de comunicação aberto para Lucas e estava dentro dos planos do rapaz voltar para a terapia, ainda mais quando tomou consciência de que quase cometeu suicídio e de que tinha questões muito fortes de ansiedade que precisavam ser tratadas, sem esquecer da sua forte tendência a agressividade.
— Oi Lucas, o que aconteceu? Eu vi sua mensagem agora a pouco, algum problema?
— Oi Lourdes, desculpa te incomodar assim do nada, mas é uma questão de urgência.
— Pode falar Lucas, eu tô disponível agora e no que eu puder ajudar você sabe que pode contar comigo.
— Sei sim e obrigado por isso. Você lembra dos meus amigos, os que eu sou apaixonado por eles?
— Lembro sim. Diego e Natália são esses os nomes deles, não é?
— Exatamente.
— Vocês brigaram de novo?
— Não dessa vez, não. Na verdade, foi uma coisa pior do que isso — respondeu o Viking ajustando o celular no ouvido.
— Me conta.
Lucas falou tudo o que aconteceu e só de saber que Lourdes o escutava lhe dava uma sensação de alívio, de colocar para fora algo que estava atravessado em sua garganta.
— Então, pelo que entendi, você tem a possibilidade de pedir ajuda ao Jakob? — indagou a psicóloga depois de ouvir toda a história — Mas você não se sente confortável pra fazer isso?
— Exatamente isso, eu sinto como se tivesse uma corrente presa no meu tornozelo, você entende? É como se essa corrente limitasse os meus movimentos e me impedisse de pedir ajuda a qualquer pessoa, ainda mais pra alguém que eu mal conheço.
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Sempre Cabe +1
RomansaDepois de trancar o curso de medicina na Europa, Diego volta para o Rio de Janeiro, sua cidade natal, para cursar publicidade e propaganda. Nesse meio tempo de andanças por faculdades diferentes ele conhece Natália, uma nordestina tímida e sensível...