Perda do tônus muscular uterino, causando distúrbio hemorrágico.
Quase mil mililitros de sangue foram perdidos causando queda na pressão arterial.
Desmaios.
Febre.
Óbito.
Segurando em seus braços o pequeno pacotinho alheio a grande perda que sofrera, o homem jurou em nome de sua falecida esposa que cuidaria e protegeria o bebê com sua própria vida.
Já não conseguia mais derramar lágrimas, os músculos faciais doíam a qualquer pequeno movimento que fizesse.
Aquilo era um pesadelo, pensou, foi tudo rápido e inefável. Ao mesmo tempo, vivia um sonho vendo as pequenas mãozinhas em punho que se sacudiam.
— Lucas — sussurrou e em resposta obteve um grunhido infantil.
Admirou o rostinho enrugado, os olhinhos fechados, a pele avermelhada de recém nascido e os cabelinhos claros.
— Agora somos eu e você, filho, até o fim.
— Quer ajuda pra arrumar tudo? — perguntou a enfermeira, entrando no apartamento onde antes esteve sua esposa, enfraquecida, mas viva.
Mal conseguiu segurar o pequeno nos braços. Mal conseguiu se comunicar.
— Meu pequeno iluminado... eu amo você... — eram as palavras das quais Rui se lembrava de ouvir sua esposa pronunciar, quando conseguiu por pouco tempo segurar seu filho.
— Senhor? — Chamou de volta a enfermeira
— Por favor, sim — concordou, entregando o bebê no colo da mulher para arrumar suas coisas.
— Eu sinto muito.
— Obrigado — conseguiu dizer, já ouvira tantas condolências que optou por entrar no automático. As intenções eram boas, mas não suportava mais ouvir nenhuma. Aumentavam sua dor.
— Sei que você já ouviu muito isso, mas essa criança vai ser uma bênção na sua vida. Deus sabe o que faz!
Deus...
Por que Deus?...
— Obrigado — repetiu, passando a bolsa sobre os ombros e estendendo os braços para pegar o filho.
— Ele vai precisar muito do senhor, não é fácil viver sem a mãe.
— Eu vou dar o meu melhor.
— Sei que vai e parabéns, teu filho é lindo! Loirinho, branquinho, os olhinhos acho que vão ser clarinhos...
Cerca de três anos depois, Rui se pegou lembrando daquelas características mencionadas. Na época, diante do luto não levou em consideração.
Mas agora, era inevitável.
Dedinhos alvos apertavam os botões do controle remoto sem pilha, olhos verdes observavam o eletrônico com curiosidade e cabelos cheios, ondulados, diferente dos de Rui que eram negros e cacheados, os do garoto eram loiros.
Desde a morte da esposa Rui entrou aos poucos no vício, de algum modo o álcool diminuía sua angústia e quando não mais fazia efeito, como no início, a cocaína se tornou uma aliada.
Se antes vivia com pouco, agora vivia com quase nada e ainda com uma criança para alimentar.
Criança essa que crescia, apesar de tudo, saudável e bela com características marcantes, que jamais foram suas.
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Sempre Cabe +1
RomanceDepois de trancar o curso de medicina na Europa, Diego volta para o Rio de Janeiro, sua cidade natal, para cursar publicidade e propaganda. Nesse meio tempo de andanças por faculdades diferentes ele conhece Natália, uma nordestina tímida e sensível...