Lucas não permitiria que ninguém o substituísse na missão de estancar o corte na barriga de seu progenitor.
Diego e Pedro impediam Rui de se aproximar e nesse meio tempo acionaram uma ambulância e a polícia.
Lucas tirou a própria camisa e a usou para aplicar pressão no local do ferimento, tentando a todo custo impedir uma possível hemorragia.
Não demorou para que as mulheres chegassem e junto com elas o som da sirene que Lucas desejou que fosse da ambulância.
Foi exatamente a ambulância que chegou primeiro e Jakob obteve atendimento. Estava acordado, um tanto alheio, os lábios pálidos e as sobrancelhas franzidas.
Lucas entrou na ambulância seguido por Natália, os demais ficaram no aguardo da polícia.
Sentado no veículo em movimento assistindo seu pai receber socorro, o rapaz pôs as mãos sobre o rosto.
O Viking tremia, Natália notou, e tentava a todo custo reprimir o choro.
O som da sirene invadia os tímpanos do rapaz, perpetuando ainda mais sua mente. Sentia-se culpado, se não tivesse saído da faculdade enraivecido tudo teria sido diferente.
Se o orgulho e a teimosia não o acompanhassem como sempre faziam, Jakob estaria a salvo.
Culpado!
Sempre culpado.
Culpado pela morte da mãe e agora pelo acidente do pai.
Segurou os cabelos e os puxou tentando conter o rio que ameaçava transbordar por seus olhos.
O peito estava apertado, a garganta dolorida e a consciência cada vez mais pesada.
— Não é tua culpa — ouviu Natália falar baixo, pondo a mão sobre seu ombro.
O primeiro pensamento que passou em sua mente foi de empurrar para longe aquela mão delicada e dizer para que a garota o deixasse em paz.
Porém, dessa vez, deu ouvidos à instrução de sua psicóloga, não dando vazão ao sentimento de rejeição que sempre o tomava, fazendo-o afastar todos ao seu redor.
Ainda mais sabendo que sua última ação impensada trouxe resultados indesejados.
Virou-se para a moça sem a encarar e a envolveu em seus braços, deixando que as lágrimas molhassem a cabeça pequena onde apoiou seu queixo.
Mesmo com a consciência de que segurava um homem grande e forte de vinte e dois anos, Natália sentiu como se acolhesse um garotinho indefeso.
Talvez o garotinho indefeso nunca o tivesse deixado.
— Eu tô aqui contigo, tu não tais mais sozinho.
— Se ele morrer...
— Ele não vai. Olha lá, ele ainda tá de olho aberto. O bicho é um touro teimoso igual a tu — ela viu um pequeno sorriso se formar no rosto do rapaz que agora olhava para Jakob deitado na maca.
Sorriso de esperança e ao mesmo tempo de quem pela primeira vez admirava a semelhança que compartilhava com o pai biológico.
— Ele é meu pai — soltou em um sussurro.
— É sim, Lucas. Ele é teu pai e é igual a tu, visse?
— Você acha?
— Claro que sim! Tu é ele cagado e cuspido, mas eu não tô falando da semelhança física, eu tô falando do jeito.
— Que jeito?
— Ele é teimoso pra cacete, corajoso e finge ser durão, mas é um potinho de fofura igual a tu — passou a mão no cabelo do amigo antes de pronunciar as palavras seguintes: — Tu puxou ao teu pai, Lucas, tu puxasse ao teu pai de verdade.
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Sempre Cabe +1
RomanceDepois de trancar o curso de medicina na Europa, Diego volta para o Rio de Janeiro, sua cidade natal, para cursar publicidade e propaganda. Nesse meio tempo de andanças por faculdades diferentes ele conhece Natália, uma nordestina tímida e sensível...