27. Chega!

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Lucas não permitiria que ninguém o substituísse na missão de estancar o corte na barriga de seu progenitor.

Diego e Pedro impediam Rui de se aproximar e nesse meio tempo acionaram uma ambulância e a polícia.

Lucas tirou a própria camisa e a usou para aplicar pressão no local do ferimento, tentando a todo custo impedir uma possível hemorragia.

Não demorou para que as mulheres chegassem e junto com elas o som da sirene que Lucas desejou que fosse da ambulância.

Foi exatamente a ambulância que chegou primeiro e Jakob obteve atendimento. Estava acordado, um tanto alheio, os lábios pálidos e as sobrancelhas franzidas.

Lucas entrou na ambulância seguido por Natália, os demais ficaram no aguardo da polícia.

Sentado no veículo em movimento assistindo seu pai receber socorro, o rapaz pôs as mãos sobre o rosto.

O Viking tremia, Natália notou, e tentava a todo custo reprimir o choro.

O som da sirene invadia os tímpanos do rapaz, perpetuando ainda mais sua mente. Sentia-se culpado, se não tivesse saído da faculdade enraivecido tudo teria sido diferente.

Se o orgulho e a teimosia não o acompanhassem como sempre faziam, Jakob estaria a salvo.

Culpado!

Sempre culpado.

Culpado pela morte da mãe e agora pelo acidente do pai.

Segurou os cabelos e os puxou tentando conter o rio que ameaçava transbordar por seus olhos. 

O peito estava apertado, a garganta dolorida e a consciência cada vez mais pesada.

— Não é tua culpa — ouviu Natália falar baixo, pondo a mão sobre seu ombro.

O primeiro pensamento que passou em sua mente foi de empurrar para longe aquela mão delicada e dizer para que a garota o deixasse em paz.

Porém, dessa vez, deu ouvidos à instrução de sua psicóloga, não dando vazão ao sentimento de rejeição que sempre o tomava, fazendo-o afastar todos ao seu redor.

Ainda mais sabendo que sua última ação impensada trouxe resultados indesejados.

Virou-se para a moça sem a encarar e a envolveu em seus braços, deixando que as lágrimas molhassem a cabeça pequena onde apoiou seu queixo.

Mesmo com a consciência de que segurava um homem grande e forte de vinte e dois anos, Natália sentiu como se acolhesse um garotinho indefeso.

Talvez o garotinho indefeso nunca o tivesse deixado.

— Eu tô aqui contigo, tu não tais mais sozinho.

— Se ele morrer...

— Ele não vai. Olha lá, ele ainda tá de olho aberto. O bicho é um touro teimoso igual a tu — ela viu um pequeno sorriso se formar no rosto do rapaz que agora olhava para Jakob deitado na maca.

Sorriso de esperança e ao mesmo tempo de quem pela primeira vez admirava a semelhança que compartilhava com o pai biológico.

— Ele é meu pai — soltou em um sussurro.

— É sim, Lucas. Ele é teu pai e é igual a tu, visse?

— Você acha?

— Claro que sim! Tu é ele cagado e cuspido, mas eu não tô falando da semelhança física, eu tô falando do jeito.

— Que jeito? 

— Ele é teimoso pra cacete, corajoso e finge ser durão, mas é um potinho de fofura igual a tu — passou a mão no cabelo do amigo antes de pronunciar as palavras seguintes: — Tu puxou ao teu pai, Lucas, tu puxasse ao teu pai de verdade.

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