39. Bombástica

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Diego encarava a própria mala sem acreditar no que estava prestes a fazer. Dentro de cerca de dez horas estaria aterrisando em solo português.

Muito provavelmente dentro de uma semana estaria matriculado na universidade lusitana, de volta para o curso de medicina, é o que havia prometido ao seu pai.

Tinha trancado o curso quando estava no quarto ano, na época tinha vinte e dois anos. Agora, três anos depois, não poderia nem retomar de onde parou, devido ao tempo precisaria começar do zero.

Sentia-se um fracassado, aos vinte cinco anos tinha dois cursos de graduação inacabados, teria que estudar o que não queria e onde não queria.

Lembrava-se muito bem de quando ele e Manu fizeram um projeto de divulgação de um escritor nos anos da faculdade de medicina. Eles filmaram o evento e impulsionaram a divulgação nas redes sociais.

Tinham como objetivo divulgar os livros do autor que em suas obras falava sobre depressão.

Diego lembrou do tempo que perambulava na empresa de seu pai, acompanhando os trabalhos de cada área. Fotografia, edição, filmagem...

Aquele projeto que fez com Manu, tão simples, avivou nele uma chama que sequer conhecia.

Gostava de medicina e era um excelente aluno, entretanto iniciou o curso por causa do seu pai e não por vontade própria.

Quando largou medicina para estudar publicidade percebeu que estava, pela primeira vez, fazendo algo por si mesmo, todavia, agora, tudo foi por água abaixo.

O pior para ele era pensar em Lucas e Natália. Não os veria tão cedo, não queria os ver. Achava injusto manter contato e criar esperanças nos dois ou em si mesmo se estaria tantos anos distante.

Foi melhor assim, era a única saída para quitar a que não era de nenhum dos três.

Talvez o universo conspirasse contra eles desde o início. Talvez não tivessem que ficar juntos.

— Quando você começar a estudar, você vai esquecer de tudo isso. Você vai fazer novos amigos e se ocupar com os estudos...

— Por que tá me falando isso, papai?

— Porque tá na cara que você tá com a cabeça lá naquele lugar horrível — o mais velho torceu o nariz.

Natália quase implorou para que Diego não entrasse no carro que parou na frente da casa deles, Lucas apenas olhava para o chão atônito.

Diego não culpava o loiro, sabia o quanto era doloroso para ele pedir ajuda a Jakob ou a quem quer que fosse e se havia entre eles alguém que tinha condições financeiras, esse alguém era o Playboy.

— Quando o carro entrou naquele lugar, eu vi os olhares dos marginais — falava o pai de Diego — percebi logo que o lugar era pior do que eu imaginei.

— Também não é assim...

— Como não é assim, Diego? Você tem tudo meu filho, tudo! Abriu mão de tudo por causa de uns coleguinhas de faculdade. Colegas vem e vão, Diego.

— O senhor não entende, o senhor nunca vai entender.

— Não vou mesmo. Costumávamos nos dar bem quando você morava em Portugal, desde que você largou o curso não conseguimos mais conversar civilizadamente.

— Porque eu fazia o que o senhor queria e pior, papai, eu achava que era o certo — rebateu o rapaz.

— E quem garante que não é o certo? Como você tem tanta certeza que as decisões que está tomando nos últimos meses são as certas?

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