47. Onça

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Naquele dia caótico, nenhum dos três foi trabalhar. Natália dormiu a tarde toda e os meninos se dividiram nas tarefas da casa.

Ambos queriam respeitar o espaço da namorada, entretanto Diego estava incomodado com a situação, por isso assim que a garota acordou ele encontrou o melhor momento para perguntar:

— Você não tá curiosa pra saber de onde começou essas acusações falsas?

Natália respirou profundamente sentindo a dor de cabeça voltar.

— Não. Pelo menos não tô por enquanto. No momento eu só quero que tudo isso se foda.

— Eu te entendo, Nat.

— Não é o que tá parecendo pra mim.

— Desculpa, é só que...

— É só que o quê?

— É que me dá a sensação que você voltou a agir como quando eu te conheci.

— Nada a ver — refutou a garota franzindo a testa.

— Desculpa se eu tô sendo muito duro agora, mas eu, mais do que o grandalhão idiota que tá na cozinha fazendo sopa pro jantar, acompanhei de perto a sua evolução e agora é como se...

— Como se...?

— Como se você tivesse dado dois passos pra trás, Nat — ele se adiantou em completar diante da expressão irritada que se formava diante dele — e tá tudo bem dar dois passos pra trás, ninguém é de ferro, eu só não quero que você esqueça de tudo que enfrentou pra chegar até aqui. De tudo que enfrentou pra se tornar a pessoa que quer ser.

— Eu acho que eu tô entendendo onde tu quer chegar.

— Eu respeito esse momento e é bom que você tenha esse tempo desligada de tudo. Só não deixa isso se tornar uma fase longa demais e te consumir como das outras vezes, te fazendo ser... — ele coçou a cabeça.

— Me fazendo ser o quê?

— Fujona e medrosa — soltou o rapaz.

Ela então lembrou de quando se sentia como um coelho em fuga, se escondendo em uma toca, enxergando o mundo como um grande predador que a perseguia.

Realmente não é o que queria para si, conseguia enxergar sua própria evolução e não queria voltar a se esconder. Contudo, pensar em enfrentar um mundo virtual lhe lembrava da dor de cabeça que estava sentindo.

— Eu fui atrás de onde surgiu essa confusão — Diego olhou para a namorada especulando o quanto poderia contar — você quer saber?

Inspirando fundo e soltando o ar devagar pela boca, como Lucas tinha lhe ensinado, a moça abriu os olhos e disse:

— Vai conta.

— É uma porra de uma conta fake. Amigos fake, foto fake e é bem feita eu faço questão de dizer, mas é a porra de um fake e pras pessoas que são ligadas em internet é mais óbvio. Isso que me irrita, sabe?

— As pessoas dando ouvidos a uma conta falsa?

— Sim, me irrita muito, mas ao mesmo tempo eu sei que o que importa pras pessoas tanto no mundo real como no virtual, é só a fofoca. É divertido ou talvez prazeroso ver outra pessoa se foder.

— É uma merda, mesmo. Mas me fala o que dizia o perfil falso?

— A pessoa postou sobre você e começou a marcar muitos dos nossos seguidores, o que gerou um burburinho. Você quer ver os posts?

— Eu já falei que eu quero, Diego. Mostra logo essa bexiga.

Diego pegou o celular e abriu o post:

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