22. Surra

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— Meu maior erro foi aceitar aquele trabalho no porto — disse à mulher, com os olhos marejados.

No fundo não era isso que sentia, quando o trabalho como faxineira surgiu estava muito necessitada, pois seu marido mesmo se empenhando como carroceiro não conseguia dinheiro suficiente para pagar o aluguel, então ter algo estável era uma bênção para ambos.

Antes, todos os trabalhos que pegava era como diarista pela vizinhança onde morava, porém agora no Porto do Rio de Janeiro tinha esperança de conseguir mais indicações e melhorar sua condição financeira.

Até aí tudo bem, era o que esperava, mas em momento nenhum contou com a menor possibilidade de se apaixonar por um técnico em construção naval de olhos verdes como musgo, com quase 1.90 m, cabelos loiros, repicados, partidos ao meio e o corpo musculoso.

Ele era lindo e por algum motivo, que Maria não conseguia compreender, não tirava os olhos dela.

Com certeza aquele homem poderia ter nos braços quem desejasse, mas disparava sorrisos para uma mulher de cabelos cacheados, magricela e baixinha.

Não demorou para que Maria retribuísse tais olhares e um dia, após o trabalho quando descansava admirando a vista no píer ouviu passos pesados se aproximando.

Sentiu o corpo gelar quando viu que a escultura européia estava do seu lado.

— Ola! Meu nome és Jakob Hansen — disse o homem, estendendo uma mão grande em sua direção.

— Maria... Maria Helena da Silva.

Dias depois o píer deixou de ser o ponto de encontro dos dois, pois precisavam de privacidade para a troca de beijos e carícias.

Semanas se tornaram meses e os meses deram lugar a um ano de amor às escondidas pelos lugares mais inabitados do Porto do Rio de Janeiro.

Jakob era sedento, curioso, bravo e determinado. Diferente de Rui, homem com quem Maria estava casada há dez anos. Rui era delicado, gentil e doce.

Nunca deixou de amar o seu marido, todavia não conseguiu impedir que o mesmo sentimento a tomasse pelo norueguês que lhe dizia diariamente palavras tão belas, que faziam com que o desejo a arrebatasse para um prazer nunca antes experimentado.

— Jakob... — tentou afastar a boca carnuda que envolvia seu pescoço — Por favor...

— Sim, amor?... — sussurrou em sua orelha.

— Eu... preciso falar sério.

— E eu precisa de você a sério.

Com as duas mãos Maria o afastou delicadamente. Não poderia mais adiar aquela conversa.

— Jakob... é sério!

Encostando-se na pilastra atrás de si, o norueguês inspirou fundo e passou a mão várias vezes no cabelo tentando a todo custo controlar a excitação.

— Oi amor...

— Jakob, eu tô grávida.

Estreitos os olhos verdes a encararam por algum tempo.

Maria teve medo da rejeição e até mesmo da raiva, mas logo um pequeno sorriso no canto da boca surgiu.

— És... és... meu?

Empurrou para baixo a raiva que insistiu em tomar seu corpo. A pergunta não era de todo grosseira, afinal ela era casada, estar grávida do marido era uma possibilidade.

Rui e Maria ainda mantinham relações sexuais mesmo com as brigas constantes desde que ela contou ao esposo que se apaixonou por um norueguês do local onde trabalhava.

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