Pingos de chuva molhavam o seu rosto, porém não tinham o menor poder de desmanchar a expressão dura ali contida.
Ouvindo as batidas das muletas no chão, Lucas não diminuiu a força que impunhava para se mover até a casa do seu pai.
Sentia as lágrimas tentando subir aos olhos, mas não permitiu o menor sinal que julgava ser fraqueza.
Bater, queria bater!
Vingar cada dor, choro e horror que sentiu por toda vida.
Tanto respeito e cuidado que se forçou a ter por acreditar que apesar de tudo era o seu pai, contudo agora, apesar do ódio sentia alívio por não ser filho de um monstro.
Quando tomou certa distância da faculdade ouviu, ao longe, os gritos de Diego que corria para lhe alcançar.
Que inferno! Tudo o que não precisava era de um Playboy enchendo sua paciência, logo agora.
— Lucas, peraí!
— Como se eu pudesse ir longe com essa coisa — disse, apontando com o queixo para as muletas.
— Pra onde você tá indo? — perguntou Diego já ao seu lado,
— Não te interessa!
— Interessa sim.
— Não, não te interessa.
— Lucas, você tá indo atrás do seu pai?
— Ele não é meu pai!
— Você tá indo na casa do Rui? — indagou Diego, passando a mão no rosto para enxugar as gotas da chuva que engrossava.
— Eu vou lá mesmo e vou quebrar a cara dele, como ele fez tantas vezes comigo.
— E esse é o melhor jeito de resolver as coisas?
— Cuida da sua vida que eu cuido da minha. Dá o fora daqui!
— Eu não vou pra canto nenhum.
— Olha só... — falou Lucas, parando no meio da rua de terra — eu já tô cheio de você achar que tem o direito de se meter na minha vida. Eu sei muito bem me virar sozinho!
Diego apertou o maxilar, estava cheio, pensou, da ladainha de sempre. A mesma conversa de não precisar de ninguém. Argh!
Na altura da relação entre os três amigos, não cabia, em sua opinião, mais lugar para o orgulho daquele Viking. Por isso, esticou o dedo na direção de Lucas e falou em tom baixo, mas claro:
— Chega Lucas! Chega de bancar de fortão. Você é mais medroso do que pensa que é.
— Medroso é o cara...
— Medroso, metido a brabo e fujão pra caralho!
— Repete! — exigiu Lucas, girando o corpo imenso na direção do outro.
Diego já há muito tempo, tinha percebido que aquela postura intimidadora não passava de um método barato de desarmar o oponente, então repetiu sem nenhum sinal de medo:
— Você é um medroso, metido a brabão e fujão de merda!
— Vai. Tomar. No. Cu!
— Na verdade quem vai é você agindo desse jeito.
— O que quer dizer?
— Toda essa merda vai te levar pro buraco uma hora ou outra, Lucas. O seu medo da notícia que acabou de receber é tão grande, que você precisa ir lá no Morro do Armagedom dar uma de brabão pra cima do Rui e esse é o seu jeito de merda de fugir da realidade.
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Sempre Cabe +1
RomanceDepois de trancar o curso de medicina na Europa, Diego volta para o Rio de Janeiro, sua cidade natal, para cursar publicidade e propaganda. Nesse meio tempo de andanças por faculdades diferentes ele conhece Natália, uma nordestina tímida e sensível...