4. Analogia

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— Que lambuzeira é essa que você tá fazendo? — perguntou Diego com um risinho.

— Quero ver se fica bom — respondeu a garota, misturando ambos os sorvetes e mexendo tudo com uma colher de plástico, experimentou. — Hum!... Nada mal! — estendeu uma colher com a, agora, calda para Diego.

— Nossa! Não quero isso, parece horrível!

— Deixa de ser fresco.

— Flocos e menta definitivamente não combinam.

— Tudo bem, abestalhado! Sobra mais pra mim.

Rindo, Natália bebeu todo o restante da calda.

— Então... eu queria te pedir desculpas — disse o rapaz.

— Pelo quê?

— Por ter insistido pra você vestir essa roupa. Tá claro que você não se sentiu bem... Eu queria que você percebesse o quanto é bonita, mas não são elogios de idiotas como o Lucas que vão te tornar bonita. Enfim... desculpa! Você é linda mesmo com seus vestidos de vovó e o cara que te merecer vai perceber isso.

— Tu percebeu.

— Percebi, mas não significa que eu mereça você. Nat, sobre aquele beijo...

— Eu te beijei porque eu quis. Tu dissesse que eu devia fazer minhas próprias escolhas e eu fiz. Tu não precisa gostar de mim e nem eu de tu, não me dá explicações, por favor!

— Tudo bem — ele sorriu novamente — eu na verdade ia dizer que você pode me beijar quando quiser. Pode me usar a vontade.

— Sabe... não fica se achando, mas essas coisas que tu fala me fazem sentir bonita.

— Você não precisa delas pra se sentir bonita, mas pode contar que eu vou sempre falar, sai naturalmente. Mas então... de onde você é? Pelo sotaque é do nordeste, mas de onde?

— Eu sou de Caruaru.

— Eu acho que já ouvi falar. É Pernambuco, certo?

— É sim. Mais conhecida como Capital do Forró. Eu vim pra cá pra estudar, consegui a bolsa pro Rio de Janeiro e não quis perder a oportunidade.

— Você sempre quis estudar publicidade?

— Na verdade, não. Por muito tempo eu queria ser veterinária, mas eu fico enjoada quando vejo sangue, então com o tempo percebi que não era pra mim por isso, estudei pra publicidade.

— Os seus pais moram em Caruaru?

— Cresci com a minha mãe, tia e avó. Meu pai eu vi algumas vezes, mas ele mora em Recife, na capital pernambucana. Ele paga a minha moradia aqui na cidade, ele nunca foi muito presente, mas sempre me ajuda financeiramente.

— Você parece uma garota muito contida, tem a ver com a sua educação?

— Acho que tem... eu tive uma educação cristã, bem rígida, não é fácil pra mim ver o mundo como... vocês veem.

— Vocês quem? Nós hereges? — zombou.

Ela riu e balançou a cabeça positivamente.

— E foi se apaixonar logo pelo Lucas? O líder dos hereges! — continuou Diego, rindo ainda mais alto.

— Nem eu consigo explicar isso. Não sei o que diabo eu vi nele.

— Talvez o diabo mesmo. Talvez ele seja tudo que você acha que não pode ser ou ter.

— Eu confesso que já cheguei a pensar sobre isso. Tu acha que ele me notou hoje?... Ele até me chamou pelo nome.

— Notou sim.

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