8. Furacão

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Segurando a cabeça como se fosse uma bola de ferro, Natália entrou na sala de aula naquela manhã de segunda-feira. Parecia que facas estavam sendo cravadas em suas têmporas.

As conversas ao redor lhe davam vontade de sair correndo, qualquer pequeno som lhe incomodava. Mal conseguia especular o motivo pelo qual Diego não foi lhe buscar para juntos irem para a faculdade.

Olhando ao redor não encontrou o garoto em parte alguma. Entretanto viu Lucas sentado no fundo da sala de cara amarrada, como sempre.

Lentamente, para sua cabeça não doer ainda mais com os passos que dava, foi até o amigo sentando ao lado dele.

— E aí?

Lucas não respondeu ao cumprimento, olhava para frente, para as explicações da professora e tinha o maxilar tão travado que fez Natália ponderar se faria o próximo comentário.

— Eu... queria agradecer pela noite de ontem.

Lucas virou a cabeça na direção dela estreitando os olhos, devagar inclinou o corpo na direção da garota deixando dúvidas se iria beijá-la ou espancá-la.

Os pêlos dos braços de Natália se arrepiaram com a aproximação. O cheiro de campo e suor masculino invadiu suas narinas e por um único instante a tremenda dor de cabeça que sentia foi esquecida.

— Fica bem longe de mim — exigiu o garoto em tom baixo mas firme.

Como alguém tão bonito como aquele loiro poderia ser tão estúpido? Na opinião de Natália era quase paradoxo conceber aquilo.

Depois de dizer isso, Lucas se acomodou de volta no assento e voltou os olhos para a professora. Contudo dessa vez foi Natália quem inclinou o corpo na direção dele para proferir furiosa:

— Tu é mesmo um cavalo, visse? Tu tem teus problemas e desconta tudo em cima dos outros! Isso faz de tu o maior idiota do mundo, sabia?... Tu não pode simplesmente descarregar tuas mágoas em mim, principalmente depois do que aconteceu entre a gente ontem de noite.

— A noite de ontem pra mim foi insignificante — rebateu com os olhos disparando faíscas — eu não sinto nada por você! Ontem, pra mim, o que aconteceu foi só um sarro que podia ter sido com qualquer garota. Você não tem nada de especial, entendeu bem? Tira dessa sua cabecinha dura que você pode me fazer apaixonar por você ou que você pode me salvar, porque você não pode. Você é uma inútil! Agora se me dá licença, eu tô aqui pra assistir a aula não pra ouvir suas bobagens.

Com os olhos arregalados e marejados, Natália se levantou e sentou distante de Lucas. Nunca na vida se sentiu tão humilhada.

Inútil, ele a chamou de inútil. No fundo era o que todos ali pensavam sobre ela.

Queria sair correndo, mas isso é o que faria a velha Natália, aquela que não queria mais ser. A nova Natália seria forte, engoliria o choro e lidaria com qualquer situação de queixo erguido.

A porta da sala se abriu e Diego entrou com olheiras profundas e com os ombros levemente curvados.

Claramente o rapaz teve uma madrugada terrível, nem parecia que tinha se divertido tanto antes dos últimos acontecimentos da festa, parecia mais que teve uma noite de insônia ou pesadelos.

De cabeça baixa e sem olhar para ninguém, o garoto sentou na fileira da frente, distante dos outros dois.

Natália se sentiu ainda pior. Claramente rejeitada pelo Viking no fundo da sala e, agora, ignorada por Diego.

O restante dos alunos achou estranha a falta de interação entre os três, todavia ninguém falou nada, mesmo os que estavam na festa e viram a troca de socos entre Diego e Lucas, assim como o tapa que Natália deu em Maiara.

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