— Eu vai procurar garotas, não aguentar mais ficar aqui com braços cruzados.
— Talvez tu teja certo mesmo — concordou Natália, balançando a cabeça — é melhor a gente procurar por eles.
— Sim, eu cansada esperar, meu filha pode não estar bem.
Jakob tinha razão, já fazia um algum tempo que os rapazes tinham sumido e não atendiam as ligações, deixando ambos impacientes à espera por notícias e plantados na lanchonete da faculdade.
— O problema é que eu não sei onde é a casa do pai de Lucas.
— Eu achar, você ficar aqui e esperar.
Natália não gostou da sugestão, franzindo a testa encarou o norueguês, estava farta de esperar por notícias e aquele pedido despertou em si um sentimento que sempre a acompanhava.
Sentimento de ser sempre a moça obediente que esperava e não agia.
— Eu não vou ficar aqui sentada igual uma abestalhada duma donzela em perigo.
— Poder ser perigoso. Eu não querer problemas para você.
— Sou eu que decido se eu vou ou fico, eu já sou dona das minhas vontades e eu vou.
— Mas...
— Eu tô cansada de decidirem o que é melhor pra mim. Eu tô cansada de ser coadjuvante na minha própria vida.
— Eu não saber se é melhor.
— Tu não tem que saber o que é melhor pra mim, eu é que sei. Tenho vinte anos, sou adulta, já tenho idade pra fazer minhas próprias escolhas e eu vou Jakob, eu vou!
Depois de um tempo, Jakob e Natália entraram no restaurante de Mônica que quando os viu correu em sua direção.
— Tá tudo bem com meu garoto? — indagou a mulher, limpando as mãos no avental.
— Mônica, por favor dizer onde ficar casa do Lucas.
— Tá tudo bem com o Lucas? — insistiu ela.
— A gente não sabe ainda — respondeu Natália — ele saiu da faculdade arretado depois que descobriu que o Jakob é pai dele e a gente acha que ele pode ter vindo atrás do Rui.
Pedro, o marido de Mônica, acompanhou Jakob até a casa de Rui.
Mesmo contra a própria vontade, Natália aceitou que deveria esperar no restaurante de Mônica. A moça concordou quando lembrou das inúmeras vezes que Lucas chegou na faculdade machucado depois de uma discussão com o pai não biológico.
— Eu queria ir lá ver se os meus amigos tão bem.
— Calma garota, o Jakob tá certo, talvez seja perigoso. O Rui é louco e a gente não sabe se ele pode tentar alguma coisa.
— Enquanto isso eu fico esperando aqui igual uma alesada.
— A gente espera um tempo e se eles não voltarem, vamos até lá às duas e chamamos a polícia — sugeriu a mais velha.
— A gente devia chamar a polícia agora, não?
— Ninguém nem sabe se o Lucas foi mesmo lá, isso é uma coisa que você e o tal Diego acham.
— É, porque a gente conhece o doido do Lucas.
— Eu também conheço o Lucas e sei que essa seria a primeira coisa que ele faria, mas mesmo assim não vamos meter os pés pelas mãos e o Pedro foi junto, ele vai saber interferir se alguma coisa acontecer.
Natália sacudia a perna e não conseguia tocar no suco de laranja sobre a mesa, olhando sempre para a porta em busca de notícias ou para a tela do celular desejando profundamente que os garotos dessem ao menos sinal de vida.

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Sempre Cabe +1
RomanceDepois de trancar o curso de medicina na Europa, Diego volta para o Rio de Janeiro, sua cidade natal, para cursar publicidade e propaganda. Nesse meio tempo de andanças por faculdades diferentes ele conhece Natália, uma nordestina tímida e sensível...