Natália estava encolhida, sentada sobre o banco de concreto, abraçando os joelhos e pensando em tudo o que estava acontecendo em sua vida.
Tinha uma única certeza, não poderia simplesmente voltar para Caruaru em meio a toda aquela confusão, mas para o seu próprio bem precisava encontrar uma maneira de aquietar seus sentimentos.
Cada vez mais tinha consciência de que estava apaixonada pelos dois rapazes e isso a incomodava muito.
Suja, era como se sentia e o fogo que queimava sua pele só aumentava.
Castigo, é o que pensou, estava sendo punida por seus desejos promíscuos.
Ouviu passos delicados se aproximando e levantou a cabeça para ver quem era. A mulher loira sentou ao seu lado jogando o corpo delgado sobre o assento.
Um arrepio de repulsa tomou o corpo de Natália e ela virou a cabeça para o outro lado.
Aquela companhia era a última coisa da qual precisava.
— Aquelas duas trepeças não param de discutir um minuto sequer — reclamou Manu, olhando em direção a janela do apartamento de Diego.
— Eu vim pra cá por causa deles também. Tem hora que tenho vontade de arrancar os cabelos do meu quengo!
Manu gargalhou alto do uso da palavra "quengo" e depois de se recompor perguntou:
— De onde tu é?
— Como assim? Tu tais querendo saber onde eu nasci?
— Sim. Tá na cara que tu é nordestina, mas o som do teu "s" é diferente do meu. O meu tem um som chiado igual recifense o teu parece o do interior de Pernambuco.
— Ah! — compreendeu Natália — Eu sou caruaruense.
— A capital do forró! — disse a loira, usando as mãos para simular o toque de uma sanfona, fazendo referência ao estilo musical tão popularmente apreciado no nordeste.
— Isso mesmo — sorriu Natália e cantarolou: — Bonito pra você ver
É na noite de São João...
— Quem vem pra Caruaru
De longe, vê o clarão
É por isso que Caruaru é a capital do forró — completou a loira com um sorriso largo e depois falou: — Meu nome é Manu, acho que no meio dessa confusão a gente não foi apresentada direito.
— Eu sou Natália, acho que tu pode me chamar de Nat.
— Diego me falou seu nome.
— Falou, é? — perguntou, tentando a todo custo esconder a tristeza que insistia em lhe tomar.
— Tu é exatamente como ele disse. Pequena, meiga e linda!
— Linda?
— É linda sim. Tu não acha, não?
— Linda... acho que é demais — respondeu Natália.
— Oxe, mulher... tu é linda sim, se alguém tentou te dizer que tu é feia, é tudo mentira. Visse?
— Tu só pode ser doida! Mulheres como tu que são lindas. Eu sou no máximo bonitinha.
— Bonitinho é feio enfeitado!... Natália, tu é lindona! Uma gata! A sociedade diz que as bonitas são as loiras e altas como eu, mas beleza tá nos olhos de quem vê. Eu sei que é clichê o que eu tô dizendo, mas tô cansada de ver as mulheres se diminuindo por causa de porra de macho ou porra de construção social. Cada ser humano tem sua beleza e isso vai além do físico, vem da alma.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sempre Cabe +1
RomanceDepois de trancar o curso de medicina na Europa, Diego volta para o Rio de Janeiro, sua cidade natal, para cursar publicidade e propaganda. Nesse meio tempo de andanças por faculdades diferentes ele conhece Natália, uma nordestina tímida e sensível...