17. Errado?

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Natália estava encolhida, sentada sobre o banco de concreto, abraçando os joelhos e pensando em tudo o que estava acontecendo em sua vida.

Tinha uma única certeza, não poderia simplesmente voltar para Caruaru em meio a toda aquela confusão, mas para o seu próprio bem precisava encontrar uma maneira de aquietar seus sentimentos.

Cada vez mais tinha consciência de que estava apaixonada pelos dois rapazes e isso a incomodava muito.

Suja, era como se sentia e o fogo que queimava sua pele só aumentava.

Castigo, é o que pensou, estava sendo punida por seus desejos promíscuos.

Ouviu passos delicados se aproximando e levantou a cabeça para ver quem era. A mulher loira sentou ao seu lado jogando o corpo delgado sobre o assento.

Um arrepio de repulsa tomou o corpo de Natália e ela virou a cabeça para o outro lado.

Aquela companhia era a última coisa da qual precisava.

— Aquelas duas trepeças não param de discutir um minuto sequer — reclamou Manu, olhando em direção a janela do apartamento de Diego.

— Eu vim pra cá por causa deles também. Tem hora que tenho vontade de arrancar os cabelos do meu quengo!

Manu gargalhou alto do uso da palavra "quengo" e depois de se recompor perguntou:

— De onde tu é?

— Como assim? Tu tais querendo saber onde eu nasci?

— Sim. Tá na cara que tu é nordestina, mas o som do teu "s" é diferente do meu. O meu tem um som chiado igual recifense o teu parece o do interior de Pernambuco.

— Ah! — compreendeu Natália — Eu sou caruaruense.

— A capital do forró! — disse a loira, usando as mãos para simular o toque de uma sanfona, fazendo referência ao estilo musical tão popularmente apreciado no nordeste.

— Isso mesmo — sorriu Natália e cantarolou: — Bonito pra você ver

É na noite de São João...

Quem vem pra Caruaru

De longe, vê o clarão

É por isso que Caruaru é a capital do forró — completou a loira com um sorriso largo e depois falou: — Meu nome é Manu, acho que no meio dessa confusão a gente não foi apresentada direito.

— Eu sou Natália, acho que tu pode me chamar de Nat.

— Diego me falou seu nome.

— Falou, é? — perguntou, tentando a todo custo esconder a tristeza que insistia em lhe tomar.

— Tu é exatamente como ele disse. Pequena, meiga e linda!

— Linda?

— É linda sim. Tu não acha, não?

— Linda... acho que é demais — respondeu Natália.

— Oxe, mulher... tu é linda sim, se alguém tentou te dizer que tu é feia, é tudo mentira. Visse?

— Tu só pode ser doida! Mulheres como tu que são lindas. Eu sou no máximo bonitinha.

— Bonitinho é feio enfeitado!... Natália, tu é lindona! Uma gata! A sociedade diz que as bonitas são as loiras e altas como eu, mas beleza tá nos olhos de quem vê. Eu sei que é clichê o que eu tô dizendo, mas tô cansada de ver as mulheres se diminuindo por causa de porra de macho ou porra de construção social. Cada ser humano tem sua beleza e isso vai além do físico, vem da alma.

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