6. Hereges

1K 124 5
                                    

Diego realmente não gostava daquele maldito Viking arrogante, mas algo em seu íntimo lhe dizia que não era apenas rebeldia sem causa o que assolava o loiro.

Nunca foi do tipo que seguia intuições era mais ligado à ciência, mas dessa vez se viu correndo atrás do garoto junto com sua amiga.

Natália ouvia repetidas vezes em sua mente a frase pronunciada por Lucas: "sou o caralho de um assassino!" porque ele havia dito aquilo? Em que tipo de confusão aquele maluco tinha se metido dessa vez?

Algo lhe dizia que estavam lidando com um problema muito maior do que poderiam suportar, fez uma gratidão silenciosa por ter Diego ao seu lado naquele momento.

Encontraram Lucas sentado e curvado no banco de uma praça próximo a faculdade, chorando como um garotinho. O rosto normalmente claro estava vermelho e encharcado de lágrimas.

Em dois anos de faculdade, Natália nunca o vira naquele estado. Estava sempre de queixo erguido, contando vantagem ou intimidando alguém. Ali, sentado encolhido, Lucas parecia perdido, rendido e vulnerável.

A moça sentou de um lado de Lucas, envolvendo-lhe a cintura com o braço e Diego sentou do outro lado envolvendo seus ombros curvados.

O rapaz não ofereceu resistência ao toque dos dois que ainda considerava como estranhos e incapazes de compreender um tanto sequer da sua dor.

Encostando o rosto no ombro de Natália, Lucas apenas chorou e soluçou descontroladamente.

Vários minutos se passaram e os três ficaram na mesma posição, abraçados ou melhor, abraçando Lucas que tinha as mãos entrelaçadas no colo, separadas apenas em alguns momentos, para enxugar as lágrimas.

— Eu... Eu... — tentou o loiro, sentindo-se um inútil.

— Tu não precisa dizer nada se tu não quiser — disse Natália, sentindo sua perna formigando por estar na mesma posição por tanto tempo — Tu não tem obrigação de contar nada pra gente.

— Mas eu quero.

Ele precisava vomitar aquela dor enterrada em seu peito por tanto tempo.

Por isso, após tomar um tempo para se recuperar e também para encontrar coragem, começou:

— A minha mãe morreu quando me teve. Eu cresci com meu pai, a gente mora no Morro do Armagedom. Ele sempre me acusou de ter matado a minha mãe e eu... — uma sequência de soluços se seguiram — eu acho que acredito nisso, por mais que eu saiba que eu era só um bebê, eu acho que me sinto sim um assassino. Muitas vezes eu fico pensando como seriam as coisas se ela não tivesse morrido. Será que o meu pai se tornou um viciado por causa da morte dela? Se foi... então eu sou culpado duas vezes... talvez se eu não tivesse nascido nada disso estivesse acontecendo... — levou a mão aos olhos — eu me sinto como se eu fosse um erro, me sinto assim o tempo todo... talvez eles fossem mais felizes se eu não existisse.

— Ou talvez não — sussurrou Diego — talvez o seu pai tivesse outras amarguras e tivesse agora descontando na sua mãe.

— Eu nunca pensei assim.

— Mas pode pensar que, se ele é capaz de culpar o próprio filho que era só um bebê quando perdeu a mãe, também é capaz de despejar qualquer dor em outras pessoas.

Lucas voltou os olhos verdes para Diego. Sempre julgou que fosse ele próprio o motivo da morte da mãe e consequentemente da separação dos pais. Todavia, agora com essa nova percepção, jamais desejaria que sua mãe sofresse qualquer proporção de dor parecida com a sua.

Ele mesmo poderia carregar todo o fardo, sua mãe não.

— Esse corte no seu braço foi o seu pai? — indagou Natália.

Sempre Cabe +1Onde histórias criam vida. Descubra agora