30. Honra

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Alcançando a filha, Cláudia segurou na barra da saia da moça com as duas mãos e com força, puxou-a para baixo, deixando à mostra as partes íntimas de Natália.

— Tu tá sem calcinha, menina? Tu virasse quenga mesmo, não foi? — reclamou, segurando a filha pelos cabelos.

— Ai Mainha! Me solte, por favor!

— Bem que dona Fernanda falou que tu desse pra quenga! — berrou a mãe, soltando os cabelos da garota.

— Natália, tu tais se prostituindo, mesmo? — perguntou tia Carla.

— Me prostituindo? Não titia, que história é essa?

— Foi o que a gente ficou sabendo! — respondeu a mãe, vermelha como um pimentão — Que tu passa as noites fora e tem usado umas roupas de rapariga!

Fernanda, a dona da república cristã feminina, assistia a discussão com certa distância, do outro lado da sala, porém Natália não deixou de notar o semblante de satisfação da mulher.

— É claro que eu não tô me prostituindo, minha gente! — defendeu-se a garota, puxando a saia para cima, ajustando-a de volta ao próprio corpo.

Sentiu-se violada.

— E isso nos teus olhos é o que menina? — gritou a mãe, enfiando a ponta do polegar em um dos olhos da garota — O olho pintado igual uma qualquer e esses peitos de fora? É pra isso que tu viesse pro Rio de Janeiro, Natália? Pra quengar?

— Não mainha, eu vim pra estudar!

— Ela só tem dormido aqui em casa, uma ou duas vezes por semana. Antes ela até ligava pra avisar, mas ultimamente nem isso tem feito — apontou dona Fernanda.

— Onde tu tem dormido, Natália? — perguntou a tia Carla, segurando a sobrinha pelo braço e sacudindo-a em uma exigência por respostas.

— Na casa de um amigo — os dentes batiam com o sacolejo.

— Na casa de macho?... Tu tais dormindo com macho, é? — bradou a mãe.

Aos poucos as outras jovens saíam de seus quartos para assistir o desenrolar da discussão acalorada.

— É só um amigo, mainha! — respondeu a garota, passando a mão no rosto para enxugar as lágrimas que já caíam descontroladas.

Nos últimos meses, Natália pensava que tinha mudado bastante a partir de suas novas experiências, entretanto se vendo diante da mãe e da tia novamente é como se tivesse regressado de imediato para a estaca zero.

Voltou a ser a garotinha que um dia foi, a menina que não podia brincar na chuva e que seguia regras que não entendia os motivos.

Seu coração estava apertado dentro do peito, a garganta travada, uma dor de cabeça se iniciava devido as sacudidas que recebia hora da mãe e hora da tia.

Às colegas da casa estavam ao redor, dona Fernanda ainda com expressão de satisfação e sua mãe e tia pareciam duas leoas andando ao redor, como se pudessem tragá-la.

— Responde a pergunta da tua mãe, Natália! — exigiu a tia, puxando os cachos da moça para baixo, arrancando dela um grito.

— Que pergunta? — indagou a garota, tentando fixar os olhos nos da mãe.

— É pra isso que tu tais usando a pensão do teu pai? Pra virar puta aqui no Rio de Janeiro?

— Claro que não, mainha! Eu só dormi na casa do meu amigo porque ele tava precisando de ajuda.

— Ajuda com quê? — insistiu a mãe.

Natália não achou conveniente expor os acontecimentos da vida de Lucas.

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