24. Selvagem

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Ainda na lanchonete da faculdade, acompanhada por Jakob, Natália ouvia a pancada da chuva forte bater no telhado e embaçar as vidraças do estabelecimento.

Torcia para que Diego tivesse alcançado Lucas e a chuva impedisse o maluco do loiro de avançar ao seu destino.

No momento em que Lucas levantou, empurrando para trás a cadeira que caiu com um baque no chão, Diego e Natália trocaram um olhar que deixava claro o que passava em suas mentes:

Lucas iria atrás de Rui.

— Você achar o Lucas procurar sua pai?

Piscando para afastar a vontade de correr atrás dos amigos, a moça voltou o rosto para Jakob e focou a atenção na pergunta do homem.

— Eu acho que ele foi sim e eu acho que ele vai é quebrar a cara do pai dele.

— Você achar mesmo?

— Oxe, tu não faz ideia do bicho brabo que é teu filho.

— Sim, eu fazer.

Natália olhou de cima a baixo o homem sentado na sua frente e apesar da aparência assustadora, ele tinha os olhos brandos, diferente dos de Lucas que estavam sempre carregados de fúria e ameaça.

— Tu parece ser mais calmo que teu filho.

— Eu aprender a ser. O tempo passar e eu ver que não poder viver nervosa.

— Pois tomara que o tempo faça a mesma coisa com teu filho, porque eu e Diego falta é endoidar de vez pra acalmar aquela besta fera.

— Besta fera? — repetiu Jakob rindo — Moça, a vida mudar sempre e pessoas mudar também.

— É, tô percebendo isso — sussurrou, mais para si mesma do que para Jakob.

— Você preocupar, não é? Com os garotas?

— Eu tô mesmo preocupada com aqueles dois. São dois bicudos e dois bicudos não se beijam.

— Tudo dar certo.

Natália sentia que o que restava era esperar. Diego pediu que ela aguardasse ali que ele convenceria Lucas a desistir do que estava planejando ou, caso necessário, iria junto com o loiro até a casa do Rui.

Sentindo-se um pouco inútil, Natália virou novamente para Jakob e para tirar o foco dos pensamentos, perguntou:

— Tu dissesse que a mãe de Diego, a tal da Maria, escolheu ficar com Rui.

— Sim, eu dizer.

— Mas por quê? Se ela achava que Rui podia rejeitar o bebê e tu afirmando que ia criar mesmo que não fosse teu... qual o motivo de Maria escolher Rui?

— Maria explicar em carta. Carta mais ou menas assim:

Querido Jakob:

Em primeiro lugar, por favor me desculpe por falar com você através de uma carta, mas foi a única maneira que encontrei para te dar o mínimo de satisfação que você merece.

Sei que pedido de desculpas nenhum vai diminuir o ódio que você deve estar sentindo de mim e isso me dói muito porque ainda amo você.

Jakob, eu nunca te esqueci e acho que nunca vou te esquecer, meu bem. Todos os dias eu revivo cada beijo e cada toque que compartilhamos, mas foi melhor assim.

Minha família me odeia. Eu contei a eles toda a verdade porque eu estava decidida a fugir com você para a Noruega, mas não queria deixar minha própria família sem saber do meu paradeiro.

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