51. Escorpião

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Cátia desceu de seu carro apreensiva, mediante os olhares que recebia desde quando entrou na comunidade.

Diego, vendo o carro da mãe se aproximar, saiu ao seu encontro e os olhares antes especuladores diminuíram. Dando instruções para que o motorista voltasse para lhe buscar mais tarde, Cátia olhava para o barraco parecendo um tanto assustada.

— É aqui?

— É sim, mamãe. Eu sei que é humilde demais, mas quero que se sinta bem vinda.

— Obrigada meu filho — disse, esforçando-se para dar o seu melhor.

— Mamãe, muito obrigado por ter vindo. A senhora não faz ideia de como eu tô feliz por isso. Pena que o papai...

— Dê tempo ao seu pai — interrompeu ela, encaixando as mãos no maxilar do filho — você sabe que ele não é má pessoa, mas ele precisa de tempo pra absorver tudo isso e quando ele perceber que você não tá pondo em risco tudo que ele ralou tanto para construir, ele vai te procurar. Você acredita, meu filho? Você confia em mim?

— Confio sim, mamãe.

— Sabe... você agiu igual a ele anos atrás.

— Eu?

— Sim. Quando era jovem, seu pai estava longe de ser rico, mas naquela época ter o ensino médio já era um grande status e o seu pai fez mais do que isso. Ele fez um curso técnico e era o orgulho da família dele — ela riu de novo — hoje um curso técnico é tão pouco, mas naquele tempo era como fazer uma graduação se for pra comparar com os dias de hoje. Quando o seu falecido avô soube que o seu pai tava namorando comigo e que planejávamos nos casar ele disse pro Clóvis escolher entre mim ou a família dele.

— Por que você era da comunidade? — a origem da mãe Diego conhecia.

— Sim e porque eu interrompi o ensino médio pra trabalhar e ajudar minha mãe como lavadeira. Seu pai escolheu a mim, ele escolheu a gente — ela apontou para si mesma e para o filho — e o resto da história você já sabe. Ele deu a volta por cima. Você fez parecido quando escolheu... como devo chamar?

— Meus namorados.

— Isso, você enfrentou seu pai e escolheu não abrir mão dos seus namorados.

— Não acho que o papai veja dessa maneira.

— Vê sim, mas ainda não tá pronto pra admitir. O tempo é o melhor remédio.

— Sim mamãe, espero que você teja certa, vem vamo entrar — sugeriu o rapaz.

Juntos entraram na casa que estava com a porta aberta devido ao calor. Cátia baixou os olhos um tanto sem graça depois de perceber como todos estavam à vontade, apesar do pouco espaço.

Os adolescentes estavam sentados no chão jogando uno com a mãe e com Natália.

Mônica mexia o cadeirão com a feijoada servindo caldinhos a todos. Para enganar o estômago, era o que ela dizia.

Jakob e Lucas estavam ao redor da mesa, na companhia de Nathan, tentando explicar ao último como era possível ganhar dinheiro com a internet.

Atrás de Cátia uma voz conhecida pelo trisal se fez ouvir:

— Eita, que é gente que só a bexiga lixa! Pelo visto esse barraco é que nem coração de mãe... — disse Manu, sorrindo para todos.

— Sempre cabe mais um, minha filha! — completou Natália ficando em pé para abraçar a amiga.

Depois de cumprimentar Manu, Nat virou para Cátia se apresentando:

— Eu sou Natália, seja muito bem vinda a nossa casa.

Sempre Cabe +1Onde histórias criam vida. Descubra agora