Horas antes da experiência quase traumática de Lucas, Natália e Diego dividiam um vinho na sala de estar, tinham chegado há pouco tempo da sessão de terapia do loiro e como não estavam tão cansados como ele, ficaram conversando amenidades tentando ao máximo se desvencilhar das declarações feitas naquela tarde.
— Foi tu que decorou o apartamento?
— Foi sim. Você gosta? — perguntou Diego.
— Gosto, é meio masculino demais, mas é bonito. Eu colocaria um vaso de plantas naquele centro de vidro ali — falou, apontando para o móvel preto — e colocaria umas telas de pinturas nas paredes, de preferência coloridas.
— Eu já pensei em comprar umas telas, mas ainda não achei nada monocromático.
— Tudo aqui já é monocromático demais, as paredes cinzas dão até um toque sofisticado, mas também passa um pouco de tristeza.
— Gosto de praticidade.
— Percebi, mas talvez umas plantinhas de sombra caíssem bem.
— Nat?...
— Oi?
— Você não tá nem aí pra decoração do meu apartamento.
— Eu tô sim.
— Você se veste como uma vovozinha confortável, não é do tipo que liga muito pra decoração, eu te conheço. Para de fazer aquilo de novo.
— Aquilo o quê?
— Fugir.
— Como se tu não tivesse fazendo a mesma coisa — rebateu ela.
— Pois é... por isso tô interrompendo esse papo. Tá mais do que na hora de a gente parar de fugir.
Natália se recostou no sofá segurando firme sua taça de vinho e deu um longo gole antes de falar novamente.
— Tu queres falar sobre o que eu disse na clínica da psicóloga?
— Quero. Quando foi que você percebeu que gostava de mim?
— Eu acho que na festa eu senti um pouco de ciúme de tu lá com a peituda, mas a minha ficha só caiu mesmo quando eu te vi com Manu.
— Você pensou que eu tivesse alguma coisa com Manu?
— Pensei e fiquei doida de ciúme — respondeu a garota — fiquei com muita raiva dela no começo, mas depois a gente acabou virando amigas.
— Eu percebi vocês bem próximas e fiquei feliz por isso, Manu é uma boa pessoa e você precisa de uma amiga.
— Ela é uma fofa e eu já adoro ela.
— Conheci ela em Portugal e a gente já ficou sim, mas foi só uma vez, depois disso viramos amigos.
— Ela me contou e eu acho que agora é tu que tais fugindo da conversa.
Natália estava certa, respirando fundo Diego girou o corpo na direção da garota e perguntou o mais diretamente que conseguiu:
— Então você gosta de mim?
— Gosto.
— E como é esse gostar?
— Eu já falei... — agarrando a pouca coragem que tinha pôs a taça de vinho para o lado — Eu tô apaixonada por tu.
— E ele? — indagou, apontando na direção do quarto de hóspedes.
— Eu sei que é meio... doido, mas... eu sinto o mesmo por ele.
— Ah!... Então... — olhou para a própria taça de vinho — talvez não seja justo com ele.
— Como se ele sentisse alguma coisa por mim!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sempre Cabe +1
RomanceDepois de trancar o curso de medicina na Europa, Diego volta para o Rio de Janeiro, sua cidade natal, para cursar publicidade e propaganda. Nesse meio tempo de andanças por faculdades diferentes ele conhece Natália, uma nordestina tímida e sensível...