Capítulo Quarenta e Seis

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Eros Stackhouse:

Naquela noite, mergulhei profundamente em um sonho que me trouxe de volta à presença reconfortante de meus pais. Era como se estivéssemos unidos novamente, e até mesmo a luz tênue do sol que penetrava pela janela parecia ter uma qualidade tangível. Minha mãe estava ocupada na cozinha, um pedaço de tecido estendido à sua frente. Sobre o tecido, ela havia disposto um arranjo de flores, organizadas com perfeição, variando em tamanho e cor. Sob o suave brilho do sol, minha mãe parecia ainda mais radiante quando se voltou para mim com um sorriso caloroso e acolhedor.

Meu pai adentrou a cozinha segurando um livro em suas mãos, e logo reconheci o álbum de fotos que continha registros de minha infância e da de Jeremy.

A presença mágica que emanava dos dois preenchia meu sonho, tornando tudo vívido e realista. Lágrimas brotaram em meus olhos quando minha mãe se sentou em minha frente, e meu pai, com um olhar gentil, colocou o livro de lado, estendendo sua mão para segurar a minha.

Minha mãe pegou a outra mão de meu pai, seus olhos transbordando de amor e ternura enquanto me observavam.

— Sinto tanto a falta de vocês — eu disse, minha voz embargada pela emoção. — É ainda mais doloroso saber que nunca mais nos encontraremos.

Meu pai sorriu gentilmente, sua mão apertando a minha com carinho.

— Eros, tenha certeza de que você está perfeitamente bem — minha mãe falou com suavidade. — Podemos não nos encontrar novamente, mas você deve entender que estamos imensamente orgulhosos do homem que você se tornou. Maxuel nos contou sobre seu irmão e os namorados de vocês.

— Talvez não tanto assim, espero que eles sejam respeitosos com vocês — meu pai acrescentou, e olhei para ele com confusão. — Maxuel pediu um favor a um amigo ceifeiro para que pudéssemos visitá-lo e visitar seu irmão nesta noite. Foi um presente de casamento que esse amigo concedeu a ele.

— Presente de casamento? — perguntei, ainda perplexo. — Maxuel vai se casar?

— Querido, há muitas coisas que você ainda não sabe sobre Maxuel — minha mãe disse com um riso suave. — Ele e Maeru se conhecem há duzentos anos. Maeru pediu Maxuel em casamento depois de cento e oitenta anos de amizade. Maxuel só recusou por causa de Logan, que ainda estava vivo naquela época. Agora que esse vilão se foi, eles finalmente podem se casar.

— Há muito sobre Maxuel que eu não sabia — comentei, e os dois riram.

— Mãe, eu entendo que você fez o que fez para nos proteger, a mim e a Jeremy — falei, as palavras brotando com sinceridade. — Quero que saiba que não a culpo. Você sempre buscou o melhor para nós, e se apagar nossas memórias foi o caminho que escolheu para nos manter seguros, então foi a decisão certa.

— Quero que saiba que estou orgulhosa de você e não me arrependo de ter desistido de tudo para ter você, seu pai e irmão como minha família — minha mãe disse com determinação, apertando minha mão.

— Mesmo que nunca mais possamos nos ver, desejo que seja feliz, até mesmo ao lado de Braxton. Jeremy ficaria feliz em ver você feliz ao lado de alguém que ama de verdade. E se alguém ousar magoar meus filhos, eu lhes darei uma lição.

— Mas, pai... — murmurei, hesitante. — Pai, você está morto.

Ele ergueu um sorriso triste.

— Não existe morte de verdade, afinal, permanecemos vivos em suas memórias e em seu coração — meu pai disse, e uma névoa etérea começou a preencher a cozinha. Levantei-me da cadeira da cozinha e olhei para fora. O céu estava tingido de tons escuros, o sol poente refletindo nas águas do canal.

Sangue VerdadeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora