Eros Stackhouse:
Parei de escrever, meus olhos fixos na última linha que tinha rabiscado no papel. Depois, com um gesto repentino de frustração, atirei a caneta e o caderno de capa de veludo para longe, vendo-os pousarem com inocência e cortarem o estofado da poltrona junto à janela do restaurante.
Naquele momento, eu estava aproveitando meu intervalo, tentando escrever um poema pela terceira vez desde que havia me interessado por essa forma de expressão. Do outro lado da sala, a sobrinha da cozinheira, Margaret, uma garotinha de quatro anos, se deliciava com seu cereal, enquanto Judith, a cozinheira, conversava sobre como o dia estava surpreendentemente calmo para uma sexta-feira. Por essa razão, tínhamos um intervalo mais longo que o usual para o almoço.
Judith era o tipo de mulher que sempre parecia estar à beira de uma pequena crise. Seu rosto fino era emoldurado por cabelos levemente grisalhos que escapavam de sua touca de cozinheira. Alguém beliscou minha bochecha, e eu franzi a testa, irritado, ao olhar para Ramona, minha melhor amiga, que ocasionalmente podia ser incrivelmente irritante. Ela estava sentada à minha frente com um sorriso irônico.
— Já terminou o seu poema tão precioso? — ela perguntou, dirigindo o olhar para o livro que eu tinha jogado na janela. — Parece que ainda não.
— Isso é completamente ridículo — resmunguei.
Desde quando eu havia enfrentado dificuldades para escrever alguma coisa? Desde quando essa inquietação se apoderara de mim?
Ramona lançou um olhar desafiador e acrescentou:
— Você sabe que está enfrentando um bloqueio criativo porque finalmente está sendo puxado pelas fofocas da cidade, certo? Você quer saber mais sobre os novos moradores do que todo mundo.
Eu revirei os olhos e me levantei para sair, pegando meu caderno e caneta. Era um hábito que eu tinha desenvolvido quando não queria admitir que também estava curioso sobre a família recém-chegada à cidade, que era o assunto do momento. Tudo o que sabíamos sobre eles era que eram três irmãos: dois rapazes e uma garota de dezessete anos que guardava silêncio sobre sua família e origens. Claro, passou pela minha mente a ideia de usar meu dom para extrair informações dela e satisfazer minha curiosidade, mas isso era algo que eu nunca faria.
Eu só usava meu dom em situações de confusão ou quando sabia que Jeremy havia aprontado alguma coisa. Com esses pensamentos me assaltando novamente, sentimentos como ansiedade, medo e uma sensação de que algo ruim estava prestes a acontecer voltaram à tona. Deixei a sala dos funcionários e me deparei com um homem lendo o menu.
— Boa tarde, desculpe pela demora, mas estamos no nosso intervalo — eu disse, me aproximando dele, e percebi imediatamente uma mudança em sua postura. Ele se inclinou para trás, como se quisesse se afastar de mim, como se tivesse medo de que eu fosse machucá-lo.
— Você não pode estar aqui, isso é impossível! — ele disse, mantendo uma postura rígida na ponta da cadeira, sentando-se o mais longe possível de mim e olhando-me desconfiado. Pude ver suas mãos segurando o menu se fechando com força, a ponto de rasgá-lo ou machucá-lo. Algo estava errado, não condizia com a atitude que ele demonstrara antes da minha aproximação.
— Sinto muito, mas acho que você me confundiu com outra pessoa — falei, estalando a língua. — Meu nome é Eros Stackhouse.
Estendi a mão, mas ele a ignorou, mantendo seu olhar desconfiado sobre mim.
Ele se levantou e se aproximou de mim lentamente, me fazendo dar um passo para trás.
— Não adianta me dizer que tem outro nome, de longe iria reconhecer esse rosto sujo — ele disse, revoltado por eu ter a audácia de mentir para ele.
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Sangue Verdadeiro
FantasyEros Stackhous, perdeu os pais ainda jovem e vive resolvendo as confusões do irmão, Jeremy. Certo dia, depois de voltar do horário do almoço, encontrou um rapaz no restaurante, nesse dia conhece Braxton Compton, um homem mistérioso que irá mudar com...