Com muito esforço, movo as pálpebras pesadas. Obro os olhos e a primeira coisa que vejo é um eletrocardiógrafo. Minha cabeça está virada um pouco para o lado esquerdo, tento girar para o outro lado, mas sinto uma dor latejante vinda do lado direito. Solto um gemido baixo.
— Clara? — escuto a voz de Roy, em menos de dois segundos ele aparece em meu campo de visão — Mon amour! — segura minha mão esquerda e pressiona seus lábios em minha testa.
— Ro... — tento falar, mas minha voz sai fraca e baixa. Começo a tossir, e a dor vinda do lado direito da cabeça lateja ainda mais.
— Shhh! — segura o meu rosto com delicadeza — O doutor Shepherd já está vindo. Não faça esforços, por favor!
Só então as coisas começam a se encaixar em minha cabeça. O meu desmaio, o eletrocardiógrafo, os bips, o doutor Shepherd e os olhos inchados e vermelhos do meu esposo. Estou no hospital.
— Senhora Carter! — a voz do doutor chama nossa atenção, e eu tento virar novamente, mas devido a dor, desisto de uma vez — Que bom que acordou! — ele também aparece em meu campo de visão.
— Ela parece estar sentindo dor e está tendo dificuldade em falar, como o senhor havia dito. — Roy comenta com preocupação.
— Ela está tentando se movimentar e os pontos ainda não cicatrizaram, deve ser isso. Quanto à voz, aos poucos voltará. — assegura.
Pontos? O que está acontecendo?
— O q... O que está... Acontecendo? — pergunto com a voz bem rouca.
Os dois trocam olhares rapidamente. Quem responde é o doutor que, com um sorriso simpático e olhos brilhantes, me põe a par das coisas.
— A senhora passou mal há pouco menos de duas semanas, enquanto estava em New York. Teve uma crise de convulsão, não sabemos ao certo por quanto tempo, mas por sorte o seu esposo chegou a tempo de socorre-la. — olho para Roy e vejo que em seus olhos há culpa e tristeza — A senhora entrou em coma. Quando veio transferida para cá, um dia depois do desmaio, fizemos uma bateira de exames e notamos um crescimento rápido no tumor. Ele praticamente dobrou de tamanho nesse curto período. — apenas assinto, ainda assustada — Por causa disso, precisamos fazer a cirurgia imediatamente. Retiramos o tumor quase todo. Uma parte, porém, fica em um local delicado, com altos riscos, então não conseguimos retirar todo o câncer.
— Ok! — digo, sentindo um pouco de alívio.
— Não se preocupe, com a radioterapia, daremos um jeito no que sobrou. A senhora ficará bem logo, logo. — sorri pegando sua prancheta e anotando algo nela — Ah! E a dor que vem sentindo no lado direito da cabeça, são os pontos da cirurgia. O latejar vai permanecer por mais alguns dias, até que cicatrize por completo. Mas agora que despertou do coma, com a ajuda da fisioterapia, poderá levantar dessa cama e caminha um pouco, sem sentir muita pressão na cabeça por precisar ficar tanto tempo deitada.
Roy permanecia quieto e com os olhos longe dos meus. Seguro sua mão e ele me fita. Abre um sorriso, nem um pouco sincero, e acaricia a minha mão.
— Mas agora está... tudo bem, certo? — pergunto ao doutor, ainda com dificuldade para falar. Entretanto, não permito que ele responda, pois lembro de algo muito mais importante que o meu tumor — E o bebê? — com a mão livre, toco meu ventre.
O aperto em minha mão se intensifica. O olhar de pena que o doutor me lança, causa um arrepio na espinha. Olho de um para o outro, mas não preciso de muito para entender o que aconteceu. Solto a mão do meu esposo e levo até o meu ventre, ainda plano. E pelo que tudo indica, ele permanecerá assim por um longo tempo.
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𝗗𝗮 𝗩𝗮𝗿𝗮𝗻𝗱𝗮 | Em Paris [Livro 2]
RomanceApós dizer "sim" à vontade de Deus e ser surpreendida por Sua bondade e misericórdia, mais uma vez, Ana Clara Bianchi passará por um novo processo de mudança. Novidades e desafios aguardam a jovem em Paris. No entanto, ela não imagina que esta nova...