𝗗𝗮 𝗩𝗮𝗿𝗮𝗻𝗱𝗮 | Em Paris [Livro 2]

Prólogo

O medo sempre dá um jeito de esmagar a esperança, embaçar a verdade e aprisionar o futuro das pessoas. Ele aparece de repente nas nossas vidas, debilita a nossa mente e altera a nossa direção. Esse estado emocional não tem misericórdia. E o mais assustador é que você pode estar neste exato momento, vivendo sob seu domínio sem ao menos perceber.

A verdade é que todos os dias nós escolhemos ao que daremos poder. Àquilo que damos atenção, também damos autoridade. Se optamos manter nossa atenção em Deus, permitimos que Ele trabalhe em nós e por meio de nós. Nossos pensamentos sobre a vida mudam, assim como nossas prioridades, e vemos o Seu poder agindo em nosso dia a dia.

Quanto mais focamos em Deus, mais poder damos para o Seu Espírito trabalhar. Entretanto, este não é um processo fácil...

— Minha filha, o que faz acordada uma hora dessa? — Papai desce as escadas com cara de sono e preocupação. Olha o relógio pendurado na parede e arregala os olhos — São duas e meia da manhã.

Solto um suspiro e volto a fitar minhas mãos entrelaçadas no colo.

— Estou preocupada! — Digo simplesmente.

Ele se aproxima e senta ao meu lado em silêncio, esperando que eu continue.

— Eu não sei o que fazer do meu futuro! Não sei que curso escolher e o meu tempo está acabando, pai! — Encaro o homem que mais admiro. Ele passa um dos braços pelos meus ombros e olha para o teto rebaixado da nossa sala.

— Você não tem nenhuma ideia do que deseja fazer? — Ergue a sobrancelha e volta a me olhar.

— Na verdade, eu tenho sim. — Levanto-me e, com um pequeno sorriso no rosto, sigo até a porta de correr que dá para a área externa da nossa casa — Eu quero ser uma bailarina de verdade! Fazer minhas apresentações em grandes teatros, viajar pelo mundo e continuar adorando a Deus da forma que eu mais amo — Viro-me para ele — Através da dança!

Alargo o sorriso e ele faz o mesmo. Se levanta em silêncio e caminha até onde estou.

— Então acho que já tem sua resposta! — Toca meu ombro com carinho — E o meu total apoio! Tenho certeza que será uma excelente bailarina, Clara!

Meus olhos se enchem de água e o sorriso fica ainda maior. Ter a aprovação e o apoio dos meus pais era o que eu mais desejava. No entanto, não era o suficiente para arrancar os meus medos e preocupações. Solto um suspiro cansado e desfaço o sorriso.

— O que foi? Não ficou feliz com isso? — Questiona com a testa enrugada.

— Fiquei sim, papai! Mas estou com tanto medo de me frustrar. De não ser boa o suficiente. — Dou de ombros — E o mais importante, se essa não for a vontade de Deus para mim? Eu não quero pagar um alto preço por me desviar dos seus caminhos!

Ele me puxa para os seus braços e eu apoio minha cabeça em seu ombro.

— Já colocou essas preocupações diante de Deus, querida? — Pergunta.

— Já! Estava fazendo isso agora mesmo, como o senhor nos ensinou, mas continuo com medo e aflita. — Sussurro.

— Então agora você precisa descansar o seu coração e confiar no seu Pai celestial! — Afaga meu cabelo.

— Mas é tão difícil fazer isso... — Comento com desanimo — Os meus medos estão em constante guerra com minha fé. Não sei mais o que fazer!

— O medo é um sentimento natural, mas pode nos paralisar e levar a decisões erradas. — Afasta nossos rostos para fitar os meus olhos — Mas lembre-se, Clara, aquele que confia em Deus não precisa ter medo do futuro! Se você depositou tudo o que te aflige diante dele, então espere, pois agora o Senhor fará a parte dEle.

Assinto e volto a abraça-lo com força.

— Obrigada por me dar os melhores conselhos, papai! O senhor é um homem tão sábio e admirável! — Ele dá uma leve risada antes de falar.

— Querida, isso é o fruto de uma vida de intimidade e comunhão com Deus! Tenho certeza que Ele fará o mesmo com você. No entanto, cabe a você busca-lo de todo o coração e sem sessar!

— Mais um conselho precioso! — Afasto-me e admiro a figura do meu pai — Sou grata a Deus por ser a sua filha, seu Samuel!

Ele acaricia o meu cabelo e meneia a cabeça em afirmação.

— E eu de ser o pai de duas meninas incríveis como você e a Sofi! — Seu comentário renova minha alegria.

— Eu te amo! — Digo segurando suas mãos.

— Eu também, minha filha! — Deposita um rápido beijo no alto da minha cabeça — Agora precisamos dormir, pois daqui a pouco eu acordo para trabalhar e você para estudar.

— Sim, senhor!

De mãos dadas e com o coração em paz, subimos a escada. No meu íntimo, começava a sentir que aquela era a vontade de Deus para mim. A única coisa que eu precisava fazer era colocar meus olhos no autor da minha existência, e não nas circunstâncias ao meu redor.

Uma pena que dias depois me esqueci de tudo isso e acabei ignorando os preciosos conselhos de papai...