Capítulo 52

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Uma semana se passou desde o dia em que recebi alta do hospital. Mamãe e papai ficaram hospedados aqui em casa, no quarto de hóspedes, onde Sofi costumava dormir antes de alugar um apartamento aqui perto.

Os dias ainda continuavam cinzentos para nós. Eu passava boa parte do meu dia sentada no banco balanço conversando com Deus. Costumava ser um monólogo, pois o mesmo permanecia em silêncio, para a minha infelicidade. Achei que uma das partes mais difíceis seria contar para Emily. Porém, como na maioria das vezes, a pequena nos surpreendeu com sua reação. Ela abriu um sorriso genuíno, se aproximou de mim e beijou minha barriga, antes de voltar para o seu quarto em silêncio. Depois disso ela não disse mais nada a respeito da gravidez.

Neste exato momento, estou sentada na cama, vendo a chuva cair forte do lado de fora. Tínhamos acabado de chegar da nossa igreja. O pastor Jonh e sua esposa oraram por nós. Pela minha recuperação e tratamento, pelo nosso luto e pelos futuros filhos que ainda viriam, para a glória do Senhor Jesus.

Deus falou bastante comigo nessa noite. Estava precisando de uma injeção de fé e um pouco de bom ânimo.

— Está com fome, querida? — Roy volta do banheiro com uma toalha enrolada na cintura. Observo distraidamente a água que escorre do seu cabelo e pinga nos ombros largos do meu esposo — Que tal comida japonesa? Espero que ainda goste. — abre um sorriso sincero.

— Acho que continuo gostando, — vejo seu sorriso se alargar — mas não estou com fome. Veja se meus pais e a Em querem, aí pede apenas para vocês.

Óbvio que o sorriso é desfeito na mesma hora. Uma ruga de preocupação surge em sua testa. Ele se aproxima e senta ao meu lado.

— Você precisa se alimentar, mon amour! Não tem comido direito.

— Não tenho sentido tanta fome assim... — tento me levantar, mas ele segura minha mão.

— Clara, — miro seus olhos — eu sei que não esta sendo fácil, mas isso irá passar. Eu prometo! Mas você precisa se cuidar. E você querendo ou não, eu estou aqui para cuidar de você. — continuo o encarando em silêncio. Roy solta um suspiro e se põe de pé — Vou trocar de roupa. Depois iremos descer e pediremos pizza, que tal?

— Pelo visto não tenho escolha! — dou de ombros e volto a observar as fortes águas caindo do lado de fora.

Meu marido some no closet e o barulho da chuva toma o ambiente. Fecho os olhos por um instante e reflito nos últimos acontecimentos.

— Eu quero confiar em Ti, Pai! — sussurro — Mas eu preciso da sua ajuda.

— Clarinha? — Emily entra no quarto, carregando Cookie nos braços.

— Oi, pequena! — ajeiro uma mexa de cabelo atrás da orelha — Está tudo bem?

— Comigo sim, — diz, jogando o gato na cama, e pulando no colchão, em seguida — mas com vocês não!

— Em... — respiro fundo e uno os lábios com força.

Não quero mais chorar, estou exausta disso, mas sempre que tocávamos no assunto, os olhos ardiam. Uni todas as minhas forças tentando me manter forte diante do Roy, entretanto, já não estou mais conseguindo.

— Já conversamos sobre isso, princesinha. — Roy sai do closet vestido, enxugando o cabelo. Coloca a toalha na cadeira da penteadeira e senta ao lado da irmã — Nós estamos enfrentando um momento de luto, não é fácil passar por ele e...

— Que eu saiba, só passamos pelo luto quando perdemos alguém. — olha de Roy para mim, com um olhar de incredulidade — Me surpreende vocês, pessoas de fé, acharem que esse bebê está morto. — aproxima-se de mim com um sorriso inocente em seu rosto e toca o meu ventre — Ele está vivo! — alarga o sorriso e olha no fundo dos meus olhos — Se você ainda não percebeu, sua barriguinha já começou até a crescer. — arregalo os olhos com suas palavras — Daqui a pouco você vai estar que nem uma bola! — ri sapeca.

𝗗𝗮 𝗩𝗮𝗿𝗮𝗻𝗱𝗮 | Em Paris [Livro 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora