O herói, agora aliviado do peso da profecia e da morte das pessoas que amou, enfrenta um novo dilema. A paixão pela guerreira de cabelos perolados pode bagunçar a paz que ele já experimentava nos últimos meses vivendo ao seu lado.
Ela estava com o c...
Primeiro gostaria de pedir desculpas por não ter postado semana passada. O tempo e os dias da semana são apenas uma ilusão frente ao tanto de coisas que estou tentando lidar no plano 3D e dentro da minha mente.
Desabafo à parte, gostaria de dar as boas vindas aos novos seguidores e agradecer pelo apoio constante que venho recebendo de vocês. Seus comentários fazem o meu dia mil vezes mais divertido.
Às cinco da manhã o acampamento já fervilhava de pessoas correndo para todos os lados. A turma do Ciaran se dirigia para a saída das instalações militares. Enquanto a do Link seguia para as florestas de Akkala.
A animação me consumia, eu teria aulas de arqueria com o herói da lenda, o homem que eu admirava há tantos anos mesmo não sabendo de sua verdadeira identidade.
Todos ali carregavam arcos, aljavas e flechas simples. Pois durante as aulas não nos era permitido o uso de armas particulares.
Adentramos mais fundo na Planície do East Akkala até uma clareira com alvos coloridos presos às árvores de tronco esbranquiçado.
— A primeira equipe treinará aqui. — Link indicou os alvos e demonstrou o movimento que deveríamos realizar. Enquanto com o arco em posição, deveríamos acertá-los enquanto andávamos de lado. Sem parar para descansar ou mirar melhor.
— Não deveríamos começar com um treinamento mais simples? — Uma hylian cochichou para sua amiga, mas o Link escutou.
— Exatamente por isso que vocês estão divididos em equipes. A avançada fará o exercício proposto, ao passo que a iniciante construirá resistência ali. — Ele indicou a parede da montanha, onde instrumentos de escalada estavam apoiados em sua superfície rochosa. — Vocês escalarão o paredão de pedra apenas com a força de suas pernas, enquanto seguram os arcos em posição de ataque, sem realizar disparos.
— E como faremos isso?
— Uma equipe já está no topo. Eles os puxarão para cima, seguindo a velocidade de seus movimentos. Mais alguma pergunta?
Não pude conter o pensamento de que o treinamento iniciante parecia mais complexo que o avançado. Contudo, o silêncio foi absoluto. O Link afirmou com a cabeça e nossa equipe se dispersou.
Eu era a primeira da fila para a caminhada enquanto atirava as flechas. E o exercício era mais complicado do que o antecipado. Manter o corpo completamente alinhado, enquanto tentava não tropeçar nas pernas ao andar de lado em um terreno irregular e ainda manter uma boa mira e postura para acertar os alvos tricolores era exaustivo e esquisito.
E ao final de três horas intercalando o circuito de arqueria com levantamento de toras seguida por agachamentos, eu estava mais cansada do que havia ficado em todos os anos em que treinei com Teake. O que era um conceito absurdo, até ter sido exposta ao treinamento com o Link.
Ele era um demônio com rostinho de anjo.
Eu estava encostada no tronco de uma das árvores, tentando controlar a expressão de cansaço que queria pintar meu rosto, e os tremores nos músculos que foram forçados ao máximo.
— Tudo bem? — Vi o Link se aproximar e agachar à minha frente, o semblante preocupado.
— Tudo ótimo! Aguentaria mais duas horas disso! — Minha voz rouca seguiu a tentativa de me levantar, mas as pernas não se moveram um centímetro do solo. Ri quando os outros recrutas gargalharam, por partilharem de meu entusiasmo e sofrimento.
— Não será necessário. — Link também sorria. — Nosso próximo treinamento será ainda melhor. — Arregalei os olhos ao passo que sua animação se elevava. — Mas antes, vocês possuem uma pausa na ala médica. Vamos andando? Consegue se levantar?
Link estendeu uma mão que aceitei de bom grado. Tentei me erguer uma vez mais, as pernas me sustentando debilmente, ele passou meu braço por seus ombros e segurou firmemente o enfeite dourado da armadura que rodeava minha cintura.
À medida que avançávamos pela floresta presa em um outono eterno com suas árvores pintadas em tons de vermelho e amarelo, em direção à um lago artificial, o movimento ficava mais natural e menos penoso.
O cheiro floral de sais de banho preencheu minhas narinas antes mesmo que eu avistasse sua origem. Aos poucos uma enorme tenda azul com o símbolo de Hyrule estampado em seu tecido surgiu a nossa frente, gorons caminhavam mansamente ao redor das termas, jogando pedrinhas cheirosas em suas águas borbulhantes, e depositando toalhas enroladas com perícia, ao lado dos recrutas que já desfrutavam das instalações.
— Hey, Link! — Um goron trajando uma flanela azul ao redor do pescoço, veio correndo na direção do Link, lhe dando um tapa doloroso nas costas e arremessando o herói três passos à frente e quase me derrubando.
— Que bom que conseguiu se unir a nós, Yunobo.
Então aquele era o descendente do campeão Daruk.
— Trouxe mais recrutas para o tratamento.
— Deixe com a gente!
Yunobo nos indicou a abertura da tenda e os pelos da minha nuca se arrepiaram com os gritos que escaparam das pessoas deitadas nas macas e que estavam recebendo massagem de vários gorons idosos.
Recuei, pronta para correr se fosse necessário. Mas o Link espalmou uma mão nas minhas costas nuas, me impedindo de ir muito longe.
— Não é tão ruim quanto parece. — Ele constatou.
A minha opinião acerca do que o Link considerava doloroso, principalmente depois do treinamento de hoje cedo, estava pendendo para um lado bem obscuro do termo. Ou a resistência dele era monstruosa, ou o resto do mundo que era fraco demais para seus padrões.
— Dispenso. Estou me sentindo muito melhor. — Curvei o corpo para ter uma visão privilegiada da saída. E o hylian bloqueou minha passagem novamente.
— Você não conseguirá participar dos exercícios do resto do dia se não receber o tratamento primeiro.
— Link... — Me aproximei e sussurrei em seu ouvido. — Eles estão morrendo! Se eu me deitar ali, os gorons vão terminar de quebrar os meus ossos!
Me afastei quando não recebi resposta alguma de sua parte. Seu rosto estava levemente rosado e o olhar fixo ao meu. Conseguia perceber as engrenagens de seu cérebro funcionando a todo o vapor, mas não me vinha a cabeça o motivo de tanto esforço mental.
— Posso trocar a massagem pela água termal? — Toquei seu ombro para chamá-lo de volta a realidade.
— Claro! — Sua voz saiu um tanto rouca e atropelada. Ele endireitou sua túnica enquanto Yunobo se aproximava e me oferecia uma toalha e um maiô azul.
