44 - COM A SUA PERMISSÃO

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POV: LINK


Kael partiu para Hyrule assim que sua filha deu sinais de melhora. Mas impediu que eu fosse com ele.

— Prefiro que permaneça ao lado de Kayra. — Kael fazia uma trança em seus cabelos negros enquanto falava e se direcionava a borda das muitas aberturas entre o Reino dos Céus e o da superfície. — Renove sua promessa. — Ele interrompeu sua caminhada para me observar.

— Você não precisa pedir. Eu sempre cuidarei da Kayra. — Repeti a promessa que soava tão distante, mas que queimava em meu coração, mente e alma.

— Mesmo que... — ele se interrompeu, sacudindo a cabeça negativamente. — Confio em você, Link. Sempre confiei.

Depois de um abraço de quebrar os ossos, Kael se jogou do precipício, assumindo a forma de um dragão de escamas negras e prateadas, em plena queda, e rapidamente sua figura massiva foi engolida pelas nuvens.

Estar naquele reino sempre trazia emoções que eu não entendia de onde vinham. Uma sensação de estar em casa, que nunca presenciei em Hyrule, pelo menos não depois que despertei. Sua vegetação selvagem e abundante, seus incontáveis lagos e cachoeiras, e todas as criaturas que viviam ali me traziam paz, apenas ao observá-las.

— Queria que a (s/n) estivesse aqui. — Suspirei enquanto um vento primaveril balançava meus cabelos e uma lágrima escorria de meus olhos, há muito, cansados de chorar.

Não se perca, herói. Você precisa ser forte.

Uma vozinha infantil sussurrou em meu ouvido. Seu timbre não me era estranho, parecia com a voz que preenchia a sala onde Kayra se recuperava.

— Sim. Eu preciso ser forte pela (s/n).

Não. A voz me interrompeu. Sua força deve ser direcionada apenas a si mesmo. Você viu o que aconteceu quando colocou a vida de outras pessoas acima da sua.

— Não vou despedaçar tão facilmente. — Afirmei, com ferocidade. Eu jamais repetiria os erros que aquela minha outra versão cometeu. Eu não ficaria do lado errado, mesmo que vidas fossem perdidas pelo caminho.

A voz não reconheceu o meu argumento, e o seu silêncio carregava o peso da descrença. Da dúvida de que eu fosse capaz de me manter na luz.

...

POV: (S/N)


— Desiste? — O homem pálido perguntou pela milésima vez. Ele já havia se cansado de mim. Sua figura fantasmagórica jazia em uma cadeira, com a nuca no encosto, enquanto ele repetia a pergunta no modo automático.

— Não. — Respondi com o mesmo tom entediado que ele me direcionava.

Eu não conseguia contar as horas naquele lugar. Semanas, meses poderiam ter passado despercebidos. A não ser pelo buraco cada vez mais doloroso em meu estômago, que era uma lembrança constante, de que eu acabaria morrendo de fome.

Mas a ideia a essa altura soava atraente. Morrer de inanição. E não permitir que ele usasse meu corpo como receptáculo. Ele precisava que eu concordasse com a sua possessão. E isso não aconteceria.

— Você é um pé no saco em todas as suas vidas?! — O homem gritou, sacudindo os pés no ar igual a uma criança mimada que não recebeu o que desejava.

— Não sei em outras. Mas nessa daqui eu sou bastante irritante. — Sorri. Lembrando das inúmeras ocasiões em que minha personalidade havia estressado ou divertido minha família. — Eu existia no lugar de onde você veio? — Perguntei, querendo a todo custo abafar a sensação desconfortável em meu estômago. Qualquer distração valeria a pena.

— Sim, você existia. E é a razão de eu estar aqui. — Ele se ergueu repentinamente, e eu me preparei para seus frequentes acessos de fúria, que geralmente resultavam em meu corpo servindo de saco de pancadas. — Eu nunca deveria ter recomendado que o Mestre Ganon te aceitasse em nossas fileiras!

— Eu lutava pelo Ganon? — Minha voz saiu como um filete quase inaudível. Que realidade terrível seria essa. Como será que a eu de lá estava vivendo atualmente?

— Não chegou a tanto. — O fantasma desistiu e se sentou novamente na cadeira. — Você fez todo o possível para nos atrapalhar, e como foi ardilosa! Uma verdadeira serpente.

— O que exatamente eu fiz?

— O inimaginável. — Ele esticou a mão a sua frente, como se segurasse alguma arma imaginária. — Tirou a vida da pessoa que mais amava. — Ele riu. — Você é cruel.

— Quem...?

— Quem mais seria? — Ele bufou, as lembranças o deixando irritado, mas nostálgico. — O herói que salvou a sua patética vida. Antes se a tivesse deixado apodrecer! — Ele apontou um dedo acusador na minha direção e deixou sua mão pender debilmente ao seu lado. — Nosso plano era perfeito!

"Mestre sabia que o Link estava se comportando de maneira mais insubordinada à medida que os dias passavam. Eu não tinha percebido que você era a responsável pela inconsistência do herói para com os seus deveres.

Depois da nossa missão para tomar o último local de resistência, o Zora's Domain, ter falhado, o Mestre estava desconfiado do Link, e resolveu testá-lo. Demos a parecer que realizaríamos uma visita diplomática do Mestre ao Reino das Águas. E então, como o esperado, o Link insistiu em nos acompanhar, mesmo que se mostrasse inútil em batalha."

— Eu sempre perguntava ao Mestre o motivo de ele manter o garoto ao seu lado! Um completo estorvo! Inútil! — O homem esbravejou.

— Você está se desviando do ponto principal.

— Cale-se, mestiça!

— É o único insulto que consegue vociferar? — Meu lado pentelha estava tomando conta de mim, então respirei fundo e o vi imitar meu comportamento. — Pode continuar?

— E por que eu deveria te contar?

— Porque não temos mais nada para fazer. — Indiquei as paredes úmidas e iluminadas apenas pela chama que ele havia deixado flutuando perto de sua cadeira.

— Link nos acompanhou, — o homem disse, a contragosto. — E quando a Rainha Kayra nos expulsou, como o previsto, íamos dar o sinal para outro grupo que aguardava para invadir pelas montanhas. Mas o seu heroizinho previu o nosso plano e te avisou, e acredito que não tenha sido a primeira vez. E assim você espalhou a notícia e os dragões se intrometeram quando a vida da rainha e a sua estavam em perigo.

— Por que eles fariam isso? Não tenho contato com os dragões.

— Você está prestando atenção? Não estou falando de você, exatamente. Mas da você que me matou!

— Bom saber. — Um sentimento de orgulho preencheu o meu peito ao saber que alguma versão minha, tinha acabado com a vida daquele homem, pena que não tinha transformado seu corpo em cinzas.

— Quer morrer?! — Ele gritou.

— Fique à vontade para fazer o quiser! — Gritei de volta, perdendo completamente a paciência.

Mas ao contrário de raiva, o que vislumbrei em seu rosto era triunfo. Ele sorria e erguia os braços como se estivesse pronto para abraçar o mundo.

— Finalmente! — Sua voz se transformou.

— O que está fazendo? — Tentei me afastar de seu toque gelado, mas ele agarrou o meu rosto.

— Vou fazer um bom uso do seu corpo.

— Eu não te dei permissão!

— Mas você me disse para ficar à vontade.

E sua risada doeu mais do que todos os meus ferimentos.

Como eu tinha sido tão burra! Achando que o estava dobrando para ganhar tempo para os outros, quando em realidade, ele esteve brincando comigo todo esse tempo.

Filha do Sol e do Mar__FANFIC: Link x Leitora (BOTW)Onde histórias criam vida. Descubra agora