48 - O SEU PERDÃO

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POV: LINK

(s/n) não dizia nada enquanto andávamos a esmo pelo terreno adjacente ao Castelo de Hyrule. Seus passos eram vacilantes. E apesar de ter se apoiado no Ciaran, ela se recusou a manter contato físico comigo quando nos afastamos o suficiente do Acampamento Militar.

— Algum dia vai me perdoar? — Indaguei, e a vi sorrir.

Não! — Ela se virou para me encarar, e o movimento súbito quase a fez cair. — Por que faria isso? Você é a razão de eu estar nesse estado. — Ela indicou o próprio corpo com as mãos.

A compressão que sentia no peito se intensificou. E não consegui impedir as lágrimas. Ela vestia um vestido folgado que deixava evidente todos os maus tratos que sofreu no período em que me mantive inerte. E me senti culpado por ter me atido a nossa promessa.

"Sem sacrifícios".

Ela não acreditava nisso depois do que havia acontecido.

— Que inferno! — Ela gritou, me assustando. Agarrou os cabelos com tanta força que seria capaz de arrancá-los, se agachou e enfiou a cabeça nos joelhos. — Cale a boca!

— (s/n)? — Minha voz saiu tremula. — Vamos voltar, você ainda não está bem.

— Vai pro inferno! — Ela berrou novamente. — Vocês dois! Casalzinho de merda!

Encostei a adaga na garganta da (s/n), tomando o cuidado de fazê-lo com o lado cego da lâmina. E ela arreganhou os dentes, que estavam mais afiados do que eu me lembrava.

— Quem é você?!

— Do que está falando, seu lunático?! Não consegue me reconhecer? — Não importava o quanto a olhasse, ela era a (s/n), mas não a minha (s/n). A puxei pela gola, e a mulher cambaleou como se não conseguisse controlar o corpo completamente. — Está me machucando Link!

Fui arremessado para trás, perdendo a adaga no processo. Sidon amparou meu corpo antes que eu fosse muito longe, olhando para mim com descrença. Ciaran bloqueava completamente o corpo da (s/n), os ombros curvados como se estivesse pronto para me matar.

Tudo aconteceu rápido demais.

Em questão de segundos a minha adaga estava enfiada nas costelas do zora negro, que desabou aos pés da gerudo que exibia um sorriso triunfante e retirava a lâmina da ferida, só para erguê-la no ar novamente, mirando no pescoço de Ciaran agora.

Uma lufada de gelo passou raspando pelo meu rosto e atingiu o cabo da adaga na mão da (s/n). Kayra tinha criado um arco com seu poder e retesava os dedos na fina linha até que uma flecha de gelo surgisse no espaço que ela havia deixado.

— Se afaste dele! — Kayra rosnou. Seus poderes ainda não estavam cem por cento sob controle, e eu via que o esforço a transformava sem o seu consentimento. Suas asas haviam aparecido pela fenda de seu vestido e escamas azuis claras envolviam seus ombros, como se tentando criar uma armadura.

(s/n) ergueu as mãos acima da cabeça, em um sinal debochado de rendição. Chamas rosadas apareceram em suas palmas, e suas pupilas, antes verdes com dourado, se tornaram negras com salpicados de rosa.

— E se eu não quiser? — As chamas se alongaram, e se aproximaram perigosamente do pescoço do Ciaran, que ainda estava curvado no chão.

Mas o Ciaran deu uma cotovelada no estômago da (s/n) e passou o braço por seu pescoço, enquanto segurava as mãos dela com o braço livre. Não demorou muito até que ela perdesse a consciência.

— Zelda! — Ele gritou, mas a princesa já corria na sua direção e analisava o corte logo abaixo de suas guelras. — Tire isso da (s/n), por favor.

— Eu não sei como...

— Juntos. — Toquei as costas de sua mão e o tom dourado de seu poder divino extravasou a minha pele, criando um desenho parecido ao que ela possuía, nas costas da minha mão.

Zelda fechou os olhos por um momento antes de observar o corpo da (s/n).

— Está por todos os lados. — Ela disse, enxergando algo que era invisível para o resto de nós. — Não sei se a (s/n) ainda está aí dentro.

— Não diga isso! — Apertei sua mão, arrancando uma reclamação dela. — Faça! Precisamos de você!

Ela afirmou e pediu que o Ciaran colocasse a gerudo no chão, posicionou uma mão no coração e outra no abdômen. A luz dourada se intensificou quando cobri as mãos da princesa com as minhas.

(s/n) começou a se debater e sua boca se abriu em um grito silencioso e assustador. E tão repentinamente quanto surgiu, os espasmos cessaram e ela ficou paralisada. Zelda retirou as mãos e olhou com apreensão para mim.

Não tive tempo de perguntar por que ela havia parado. Um estrondo ainda maior veio das nossas costas a medida que um pandemônio se aproximava de nós.

Pessoas fugiam, algumas a cavalo, outras a pé, e ainda aquelas que os dragões resgatavam ao puxá-las pelas roupas com seus dentes. Mas, o mais inacreditável surgia do horizonte que escurecia sem que a passagem de tempo fosse a sua causa natural. O Castelo de Hyrule pairava acima do solo, movido pela força da calamidade que o impulsionava além de nosso alcance.

Uma lua de sangue pintava o céu uma vez mais.

O grito bestial que estrondou das profundezas da fortaleza real me paralisou.

Reconhecimento.

Ganon surgia novamente sob Hyrule, e dessa vez não aguardaria a nossa aproximação para o combate. Ele já erguia sua espada curva, característica das gerudos e a apontava na minha direção.

Filha do Sol e do Mar__FANFIC: Link x Leitora (BOTW)Onde histórias criam vida. Descubra agora