POV: (S/N)
Perdi a oportunidade de treinar com as guerreiras hylians que tinham chegado à Gerudo Town. Elas não pararam quietas dentro de nossos muros durante os vários meses que permaneceram aqui, nos ajudando a lidar com todo tipo de empecilho. Meu batalhão foi designado para patrulhar os limites de nossas terras. E quando retornei, elas já haviam partido.
— Não fique tão decepcionada. — Minha tia repetia a todo momento que eu estralava a língua de raiva. — Elas são apenas hylians.
— Pare de fingir. — Retruquei, decepando a cabeça do boneco de madeira com o qual eu treinava. — Eu notei como você ficou em alerta quando elas se aproximaram. A aura delas não era comum.
— Você quer dizer a aura assassina? — Ela bufou. — Não tenho interesse em conhecer pessoas que atingiram esse nível de energia.
— Eu tenho! — Terminei de estraçalhar o boneco e arremessei a espada no ar, até que ela fincasse no centro do alvo destinado ao exercício com o arco e flecha, no outro extremo da arena de treinamento.
O silêncio que se seguiu ao meu movimento foi preenchido aos poucos pelos cochichos. Eles nunca me incomodaram. Os olhares tortos e as risadinhas que seguiam os comentários sobre a minha altura, ou a falta dela, o meu cabelo de cor diferente, o meu nariz fino demais para os padrões das Gerudos ou os meus olhos verdes com pontos dourados.
Eu era muito diferente para os seus padrões preconceituosos.
— (s/n), você ainda é muito jovem. — Teake tocou no meu ombro com carinho. — Terá todo o tempo do mundo para provar o seu valor em nosso exército.
Ela tinha razão. Mas eu não ficaria satisfeita em ser boa apenas entre as mulheres com as quais cresci lutando. Eu queria a força das hylians que estavam a serviço do herói de Hyrule. Eu queria fazer parte de sua armada.
Alguns anos se passaram, até que eu recebesse o convite para compor o esquadrão que protegia nossa rainha, Riju. Eu tinha me dedicado de corpo e alma ao treinamento, em parte para ficar mais forte e em parte para me livrar do casamento que minha família tanto esperava que eu procurasse.
A cerimônia de transferência do novo regimento seria dali a duas semanas, antes da coroação oficial da rainha Zelda, que segundo os rumores, tinha sido salva pelo herói da lenda e por sua fiel escudeira. E acabado com a calamidade ao engoli-la com seu dom divino.
Eu não queria participar do exército de Riju.
Meses atrás, a própria Zelda apareceu em nossos portões, acompanhada pelas duas guerreiras que nos ajudaram anteriormente. Minha alegria atingiu níveis alarmantes quando reconheci os olhos azuis e cinzentos das mulheres que eu admirava.
Durante a reunião com nossa líder, a princesa demonstrou o seu desejo em reunir um novo exército para o seu reinado. Onde não apenas hylians pudessem participar, mas todas as raças que compunham o Reino de Hyrule.
Meu sangue fluía rapidamente nas veias ao ouvi-la. Aquela seria minha única oportunidade de deixar esses muros e suas exaustivas extensões de areia.
— Infelizmente princesa, as guerreiras Gerudo servem apenas a sua própria rainha. — Buliara respondeu antes que Riju tivesse a oportunidade de se pronunciar. Ela ainda era jovem demais, e com o peso das expectativas de toda uma raça sobre os seus ombros, se limitou a concordar e desviar o olhar do rosto decepcionado da princesa com sangue divino.
Minha tia agarrou o meu braço quando, involuntariamente, dei um passo adiante. Sua feição me advertia a permanecer calada e imóvel. Mas a minha movimentação chamou a atenção da guerreira a esquerda da princesa, fiz um aceno de cabeça imitando uma reverência, que ela retribuiu, para em seguida desviar sua atenção para a mulher de cabelos platinados que vestia uma suntuosa armadura de escamas vermelhas.
— Qual o motivo de sua interrupção? — Buliara perguntou ríspida. Ela e as demais comandantes dos diversos batalhões estavam em reunião com a rainha Riju àquela manhã. O semblante de Teake escureceu, assim que abri a boca.
— Vim apresentar minha dispensa das atividades atuais e futuras. — Minha avó gargalhou no canto do cômodo. Seu humor só foi perdoado devido a idade avançada.
— Temos uma razão plausível para a melhor guerreira dessa geração dispensar seus deveres pouco antes de receber a honra de servir nossa rainha diretamente?
— Me unirei ao exército da rainha de Hyrule.
Teake murchou em seu assento, escondendo o rosto nas mãos. Eu pulei ao sentir tapinhas firmes nas costas.
— Essa é a minha garota! — Vovó disse animada. — Esses muros não podem conter sua ambição. Vá! Seja a única Gerudo a debandar sem ser a caça de um homem!
— Mamãe! — Teake retrucou, se levantando apressadamente. — Não ouse fazer isso (s/n)! — Ela me alertou.
— Eu já me decidi. Se você não me dispensar, eu partirei com desonra. Mas partirei.
— Não vamos nos precipitar. — O tom ansioso e entrecortado da rainha Riju abrandou a tensão. — Por favor (s/n), se aproxime.
Desviei das mulheres que me superavam muito em altura, a inveja me corroendo com o conhecimento de que eu tinha parado de crescer a muitos anos. Contudo, minha postura se manteve firme, enquanto atravessei a sala. O semblante tenso tinha se tornado a minha marca registrada, o que me dava o ar de poucos amigos que Taeke sempre me pedia para desfazer.
Levei um joelho ao chão, enquanto curvava a cabeça em uma profunda reverência.
— Minha intenção não é desrespeitá-la. — Comecei, a urgência em ser compreendida fazia meu corpo tremer. — Não partirei por não ver um futuro brilhante sobre o seu reinado. Mas sim porque a vida que se desenrola a minha frente não será o suficiente.
Quando ergui o rosto novamente ela me olhava com carinho, e seus olhos carregavam uma tristeza que quase me fizeram pensar que ela também, um dia, desejou não ser rainha.
— Entendo seu motivo. E a parabenizo por sua coragem. — Riju se ergueu do trono e tocou meu ombro para que eu me levantasse também. — Quando a princesa Zelda veio buscar nosso auxílio, eu quis satisfazer seu pedido, para pagar por tudo que suas guerreiras fizeram, não apenas por nós, mas por todo o reino. — Buliara sustentou seu olhar, sem interromper. — Mas não poderia forçar nenhuma de vocês a partirem apenas para diminuir a culpa que senti ao depender tanto de forasteiras.
As mulheres ali presentes eram as mais fortes e bem treinadas de todo o nosso povo, e mesmo assim, o inimigo tinha se mostrado superior. E só conseguimos viver em paz nos últimos tempos, graças à ajuda da comitiva da princesa com sangue divino, e do herói ao qual elas serviam.
— Então, (s/n). Que nossos ancestrais te guiem em sua jornada heroica. E rogo para que encontre o que sua alma clama com tamanho fervor.
Suas palavras fizeram lágrimas se acumularem em meus olhos, as segurei firmemente e assenti, deixando o cômodo com todos os olhares me julgando.
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Filha do Sol e do Mar__FANFIC: Link x Leitora (BOTW)
FanficO herói, agora aliviado do peso da profecia e da morte das pessoas que amou, enfrenta um novo dilema. A paixão pela guerreira de cabelos perolados pode bagunçar a paz que ele já experimentava nos últimos meses vivendo ao seu lado. Ela estava com o c...