20 - SOBREVIVÊNCIA EM AMBIENTE AQUÁTICO

77 14 10
                                    

POV: (S/N)


— Se aproximem, por favor! — Ciaran berrou em meio ao trovejar da tempestade que se precipitava pela montanha aonde a turma da tarde se reunia. — Todos sabem nadar?

Esperei que alguém se pronunciasse em negativa, mas nenhuma resposta veio da multidão aterrorizada com a queda mortal que podia ser vista pela borda do penhasco.

Eu não daria ao Ciaran a satisfação de me menosprezar.

Eu havia praticado com o meu pai.

Por menos de dois dias.

Deveria ser o suficiente.

Assim eu rezava.

— Perfeito! Se enfileirem na borda da montanha. Prestem atenção redobrada na postura e posicionamento das mãos durante o salto. — Comecei a suar frio. Percebendo que a queda era superior à que levava ao subsolo do Zora's Domain. — Ou vocês se arrebentarão na água abaixo.

— Não podemos fazer isso depois que a chuva cessar?

— Claro, meu amor. — Ele se aproximou da hylian, a mesma garota que havia respondido aos comandos do Link no treinamento com arco. — Quer que eu construa uma cabana para você e lhe sirva uma bebida quente enquanto esperamos?

— Babaca. — Resmunguei.

— Eu ouvi (s/n). — Me virei para encará-lo e ele não parecia bravo, mas como se não esperasse menos de mim. Sorri do modo como ele tinha mudado seu comportamento a meu respeito. Ser sobrinha da Teake tinha um peso imenso em seu conceito, aparentemente. — Quando eu contar até três, quero que recuem, depois corram para pegar impulso e mergulhem de cabeça. — Ele parou no outro extremo da fila para nos observar.

— Um...

Me afastei da beirada, lentamente.

— Dois...

Curvei o corpo para frente, enterrando meus pés descalços no chão lamacento.

— Três!

Corri e me joguei.

O céu estava escuro demais devido as pesadas nuvens cinzentas que bloqueavam o sol. Ouvi meu nome ser chamado apressadamente, mas não identifiquei sua origem. Apenas raios azuis ultrapassavam minhas pálpebras, que relutantemente, se mantinham abertas. Minha visão se tornava um breu à medida que meu corpo caía em um ângulo estranho.

O que tinha acontecido?

...

POV: LINK


— Com licença, senhor. Preciso da sua assinatura na carga que acaba de chegar da Cidade de Goron. — O guarda vinha correndo para dentro da tenda principal, buscando refúgio da tempestade que se desenrolava furiosamente lá fora.

— Deveríamos ter cancelado a aula de sobrevivência aquática. — Pensei em voz alta, e não pude impedir o suspiro que deixou meus lábios ao pensar que a (s/n) estava naquela turma.

— Capitão?

— Ah, sim. — A afastei de meus pensamentos e segui o soldado até a entrada do acampamento. A carruagem bloqueava completamente a passagem. Então me preparei para escalar as toras de madeira que compunham a cerca e verificar a parte de trás do carregamento quando o som de passos apressados me distraiu.

Ciaran corria em direção ao acampamento, com alguém em seus braços, oculto por um tecido.

— SAIAM DO CAMINHO! — Ele berrou enquanto se aproximava rapidamente.

O condutor da carroça não o ouviu em meio aos trovões que rasgavam furiosamente o céu nublado. Mas não foi preciso, com o rosto contorcido em fúria, o zora saltou pela cerca e fios turquesas surgiram por trás do tecido que cobria a cabeça da pessoa em seus braços. Meu coração soava em meus ouvidos ao observá-lo se direcionar à ala hospitalar.

Forcei minhas pernas a se moverem, e mais lentamente do que eu gostaria, irrompi para dentro da tenda. Um curandeiro hylian examinava o corpo deitado inerte na maca e o Ciaran esperava de pé enquanto agarrava o metal que contornava o leito. 

Não tive tempo para internalizar as emoções que transfiguravam sua face.

A pele negra da mulher tinha sido dilacerada em vários pontos. Na altura do estômago, nos braços e pernas. Seu cabelo turquesa descansava ao redor de seu rosto, também machucado. Sangue escorria para todos os lados. E os curandeiros se apressavam em limpar e estancar suas feridas.

— O que... — Minha voz se perdeu em meio ao nó que se formava na garganta. Olhei para o lado, buscando o rosto do Ciaran. Sua atenção estava completamente na (s/n).

Agarrei seu pulso com força desmedida e o vi desviar o olhar da garota.

— O. Que. Aconteceu? — Articulei pausadamente, minha voz saindo como um rosnado rouco.

— Guardiões alados. — Ele franziu o cenho quando pressionei meus dedos com mais força ao redor de seu pulso. — Surgiram do nada durante o treinamento. A equipe de apoio os abateu rapidamente. Contudo, eles já haviam disparado na direção dela. Link! — O homem se livrou do meu aperto e esfregou o pulso. — Não é só você que está preocupado com ela.

— E desde quando você se importa? — O sangue em minhas veias fervilhava de maneira doentia. Eu podia sentir os músculos retesando, implorando para que eu amenizasse a dor em meu peito, e que nublava meus pensamentos.

— Te pergunto o mesmo! — Ele aprumou a postura. — De acordo com todo o reino, você é apaixonado pela Kayra. Que ironicamente, ama o príncipe Sidon, um zora. — Pressionei os lábios, tentando pensar e não reagir à sua provocação. — Qual o problema, herói?  Seu título não foi o suficiente para conquistar o coração da híbrida e agora está se insinuando para uma mestiça?!

— Pelos céus... Calem a boca! — A voz fraca, mas imponente da (s/n) me tirou do transe em que eu estava.

— Não fale! — O curandeiro a advertiu, mas a mulher não só o desobedeceu, como também se sentou na cama.

— Ciaran. — Ela mal pronunciou o nome do zora e ele já se ajoelhava ao seu lado, enquanto ela lhe sussurrava alguma coisa e apertava sua mão.

— Já volto. — Ele saiu apressadamente da tenda.

A chuva lá de fora não mostrava sinais de ceder, e os meus olhos queriam chover com a mesma intensidade daquelas nuvens cinzentas.

— Link? — (s/n) me encarou, preocupação manchando suas feições já pintadas de dor. — Não chore. Estou bem. — Ela arriscou um sorriso, que não fui capaz de retribuir. Tentei enterrar ao máximo os sentimentos que se precipitavam de meu peito e escorriam pelo meu rosto.

— Encontrei! — Ciaran retornou com vários frascos em mãos. — Nunca pensei que você precisaria disso.

— Ter descendência zora é bem inconveniente. — Ela constatou enquanto o médico avaliava as embalagens e os conteúdos que lhe foram entregues.

— O que esperam que eu faça com isso? — Ele perguntou, atordoado.

—Deixe-me adivinhar. — O guerreiro grunhiu e encarou o curandeiro. — Não sabe tratar outras raças além da sua.

— Eu sou o respeitável...

— Saia do caminho. — Ciaran o empurrou para o lado, embebendo o pano em uma combinação inusitada com os líquidos de cada frasco. — Vai doer bastante já que você não é somente zora. Mas tente ficar parada.

O grito que irrompeu da garganta da (s/n) sacudiu minha alma. Ela se curvou para frente, com as unhas cravadas nos ombros do Ciaran e o rosto enterrado em seu pescoço, enquanto ele pressionava o pano no ferimento de sua coxa e dava tapinhas leves em seu braço, como que a confortando.


________________________________________________________________________________

Espero que tenham gostado desse capítulo!

Vejo vocês na semana que vem com mais um! 🤭😘


Filha do Sol e do Mar__FANFIC: Link x Leitora (BOTW)Onde histórias criam vida. Descubra agora