Filha do Sol e do Mar__FANFIC: Link x Leitora (BOTW)

40 - NÃO É QUEM EU ESPERAVA

POV: (S/N)

O mundo tinha se calado.

O ar gelado, a muito tinha estagnado.

O cheiro de mofo, desaparecido.

— Vamos lá, seja uma boa garota e me deixe entrar. — O homem dizia incansavelmente. — Minha paciência e benevolência tem limites.

— Essa ameaça teria um efeito diferente se você a tivesse pronunciado antes de começar a me torturar. — O projeto de uma risada sem humor escapou de meus lábios inchados e ensanguentados.

— Se consegue falar, contente-se a permitir a minha entrada.

— Não. — Cuspi o sangue no chão, internalizando o som nauseante que ele fez quando foi arremessado na pedra.

Uma quebra nessa monotonia, era tudo de que precisava.

— Ele não virá te salvar.

— Claro que não. — Disse abruptamente.

A figura translúcida suspendeu sua caminhada incessante e se virou para me fitar, com a sobrancelha erguida, se perdendo em meio a escuridão do capuz que cobria sua cabeça.

— Você cometeu outro erro. — Tentei focar em seu rosto, mas à medida que o tempo passava, a minha consciência deslizava para a penumbra.

— Ora, é mesmo? Vamos ouvir, então!

— O herói dessa realidade só é leal a uma pessoa, e apenas a ela. — Abaixei o rosto para esconder a dor que dizer aquilo em voz alta causava em minha alma. — A princesa de Hyrule, Zelda.

— Então estou perdendo tempo aqui com você? — Ele estralou a língua.

— Exatamente. Mas satisfaça a minha curiosidade, antes de me deixar para morrer. — Parei por um segundo, calculando se ele estaria disposto a manter uma conversa comigo, ao invés de se livrar imediatamente de mim.

O seu movimento impaciente com a mão era todo o incentivo que eu precisava para comprar o máximo de tempo que eu poderia antes de morrer.

— Porque você deixou a Zelda ir? — Um sorriso impertinente brincou no canto de seus lábios ressecados e finos. — E porque você me trouxe, pensando ser o Link?

Ele empertigou a postura, descansando as mãos entrelaçadas em suas costas enquanto andava com o queixo erguido e um sorriso largo, de dentes tortos.

— Para a sua primeira pergunta: pensei que a Zelda seria a mesma inútil que eu conheci, mas me equivoquei. — Foi a minha vez de rir, e um soco em meu maxilar foi o que ganhei pelo meu atrevimento. Lambi o lábio cortado, sentindo o gosto metálico do sangue me preencher. — Quanto ao Link, ele havia nos servido bem, como o General de Ganon e Capitão do exército das Gerudos.

Todo o meu humor se esvaiu.

Em que mundo distorcido o Link, o herói da lenda, o arqui-inimigo de Ganon, seria seu braço direito? Onde a Zelda era uma princesa inútil? Isso soava além de um absurdo. A princesa tinha contido a Calamidade, sozinha, por cem longos anos. E o Link era fiel a ela, sempre foi.

Minha feição fez a dele escurecer também, mas por motivos distintos. Ele me observou melhor, com calma. Absorvendo cada traço de meu rosto, como se não tivesse me notado antes. Uma chama surgiu de sua palma e foi colocada em frente aos meus olhos.

Minhas pupilas se retraíram, incomodadas com a súbita claridade.

— Qual é o seu nome? — Ele agarrou o meu pescoço, fincando suas unhas sujas em minha pele ensanguentada. — Responda, mestiça!

— (s/n). — Falei, sem fôlego. E observei seus olhos se arregalarem, e se estreitarem logo em seguida.

Ele jogou minha cabeça com força contra a parede. Uma, duas, três vezes. Sua fúria tinha se tornado pessoal, e eu não entendia o que a havia desencadeado.